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Tenho esquecido de envelhecer

Tenho olhado o escuro da noite com os olhos mais atentos, tenho escutado os gatos no telhado e tentado decifrar seus lamentos, olhado o vento na janela, as luzes acesas por trás das noites mais escuras. Tenho olhado a rua, a silenciosa e a barulhenta, atenta aos desvios dos barulhos, embrulhos esquecidos nas esquinas. Tenho dado bom dia para os meus sonhos.

Bom dia!

Ando um tanto esquecida demais, um cansaço dos que me esqueceram. Ando esquecendo as dores que foram causadas por desamores, pintado flores. Quero esquecer tudo aquilo que marcou a carne, tomar um banho de ervas, e conversar com o travesseiro.

Sorvete de creme no inverno.

E com esse tanto de atenção a mais e o esquecimento, ganhei uns segundos de paz, umas horas comigo mesma, uns dias de sobrevivência mais plena. Cheiros.

Tenho me olhado no espelho rindo, achando graça de um envelhecer, sozinha? Que nada! Tenho envelhecido sábia, abrigada em textos não concretos, coberta de travessias e meias, nos pés que já lutaram com as jaulas. Leões indiscretos.

Meu teto de dedos, sem medo.

Escrevo versos.

Siomara Carlson – Bela Urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
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