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EU ENVELHEÇO QUANDO…

Quando eu era pequena, entre 3 e 4 anos, discuti feio com meu irmão sobre qual de nós dois era o mais velho e por não termos argumentos suficientes, recorremos à nossa mãe que sem pestanejar deu a vitória a ele por um ano e meio.

Arrasada, eu chorei copiosamente, me sentindo impotente, preterida e declaradamente, a mais nova. Em minha imaginação e sentimento, ser mais velha era uma prerrogativa poderosa – mais oportunidades, mais sabedoria, o privilégio da dianteira. Eu digeri a mágoa dessa derrota, mas persegui o propósito de ser amanhã mais velha que hoje.

O tempo de ir à escola, de escrever e ler, de estudar fora da cidade natal e  de ver essa distância se ampliando à medida que a idade avançava.

Eu comemorei cada ano, os meses, os dias. Eu mais velha não precisava da confirmação de ninguém.

A percepção do envelhecer como crescimento e desenvolvimento me assegurava que não precisava ter medo da passagem do tempo. Eu sempre acreditei que seria capaz de vencer as dificuldades com o saber/poder adquiridos ao longo da vida e fui me empenhando para construção da minha maturidade.

Até me dar conta que meu pensamento segue na contramão do mundo jovencêntrico, que amaldiçoa a velhice e se agarra na estúpida ideia de que é possível viver sem envelhecer – onde tudo é anti-idade e antienvelhecimento: Forever Young.

É curioso porque de certo modo é como se todo desejo estivesse sentenciado a fracassar – as rugas vêm, os hormônios baixam, os músculos cedem e não adianta negar, falsificar a data de nascimento, plastificar o rosto, o abdômen, o tempo é implacável e a experiência tem seu peso (os nossos joelhos sabem disso).

Por outro lado, enrugada, flácida, mais lenta e mais esquecida, ainda assim, viva! O tempo não nos torna descartáveis, apesar de a todo instante nos enviarem mensagens sobre a determinação social do prazo de validade humano, sobretudo, para as mulheres. Desde a insuportável publicidade, os apelos midiáticos, a incongruência do mercado de trabalho e toda eloquência dos preconceitos velados que chegam fantasiados de elogio ou de piada inconsequente que define velhice, exclusivamente, como o declínio do corpo e da mente.

O preconceito nos encontra quando nos habita e eu posso provar.

Pedi aos amigos no Instagram que completassem a frase “Eu envelheço quando…”

  1. Deixo de sonhar
  2. Me limito
  3. Deixo de ver beleza no que é simples
  4. Não reconheço a beleza de viver com saúde, socializada, atuante e informada
  5. Esqueço a minha criança interior
  6. Paro de aprender
  7. Não me reconheço mais
  8. Deixo de sonhar com novas possibilidades
  9. Me deleito com a confirmação de que na prática a teoria é outra

Olhando para essas frases, com exceção da nona que revela bom humor para encarar as dores e delícias da singularidade do envelhecimento, todas as anteriores expõem o medo e a descrença no processo natural da vida, com delineado preconceito. O limite, o abandono, a paralisia  são um decreto injusto da “homeopática” instalação da morte pelo perecimento do ser.

Eu, com 51 anos, tenho consciência do sofrimento (físico, psíquico e social) causado pela passagem do tempo, mas ainda assim, escolho saudar as maravilhas da maturidade e completo a frase, eu envelheço quando VIVO, quem morre não envelhece.

Sigo mantendo a convicção de que sou hoje mais velha do que fui ontem e, serei muito mais velha, enquanto houver amanhã.

Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. Iinstagram @daniela.cais

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Envelhecencia

Quando abri os olhos naquela manhã e a claridade me envolveu, tive dificuldade de compreender o que via, eram luzes de múltiplas cores que passavam pela janela, percebia a variedade mas me faltavam as palavras para nomeá-las, respirei profundamente e aquele entrar e sair do ar se mostrava relaxante e energizante; percebi que estava deitada e meu corpo não me respondia plenamente, uma certa dificuldade em me mover e controlar todo meu eu; bocejei e não encontrei dentes na boca, a língua brincava solta naquela gruta chamada boca.

Sensações, muitas percepções  me invadiam despertadas por cheiros agradáveis que vinham do tecido da cama onde repousava e da roupa macia e delicada que vestia, percebi contrações no meu corpo e urinei num grande alivio e relaxamento incontido, e percebi que fui salva por uma fralda que prontamente absorveu os líquidos.

Incomodada, naquela situação me manifestei verbalmente e o som forte de minha voz ecoou longe, e logo veio alguém que com sua voz suave e carinhosa me acalentou e passou a me ajudar com minha higiene e em seguida me alimentou; hummm os sabores, que delicia são os sabores, que me invadem as papilas e fazem querer mais; quando fiquei satisfeita me manifestei verbalmente, no entanto aquela que me alimentava não me compreendeu,  mas  sorriu, tento explicar novamente e ela me olha tentando traduzir e compreender minhas vocalizações sem sucesso.  Ela se afasta e fico só no quarto com minhas percepções, sensações e admiração perante a vida. Cochilei.

Fui acordada para o banho, não consegui ajudar e fui despida, virada, molhada, ensaboada, hummm o perfume do sabonete e do shampoo me invadem e me relaxam, hummm a água quente envolvente faz o momento ser especial, mas chega o fim, e já seca ganhei nova fralda e roupas macias e cheirosas.

Com ajuda fui posicionada em uma cadeira de rodas e levada a sala social, pessoas me olhavam, alguns interagiam e aparentavam real interesse em minha pessoa, já outros me ignoravam, tive tempo de olhar e admirar cada ser ali presente, e assim amar a cada um em sua singularidade, amar cada gesto, admirar o local, ouvir suas vozes e os sons do ambiente; quantas melodias naquele ambiente, compreendi que a música me dá extremo prazer.

Viver é observar e escutar mais do que falar, não por acaso temos dois olhos e dois ouvidos e apenas uma boca; a linguagem silenciosa tem muito poder, a linguagem do olhar e do amor se faz nas sutilezas.

De repente, me posicionam junto a janela e mostram os pássaros, os animais da casa no quintal cão e gato, as árvores, flores do jardim e no céu vejo um lindo arco-íris,  presente da leve garoa com aroma petricor.  Vibro inteira, afinal a vida é viver cada momento com a consciência de que é único, um presente e me está sendo dado o privilégio de  desfrutá-la, não sei quanto tempo estarei aqui, se ao fechar os olhos tudo se acabará, mas posso dizer que sorver cada momento é vital. Se estou no fim ou início da vida não faz diferença, idoso ou recém nascido não conto o tempo, pois este se altera frente alegrias, tristeza e amores. Evito os medos paralisantes e me apego aos risos desenfreados. Respiro, me inspiro e não piro.

Thelma Carlsen Fontefria – Bela Urbana, psicóloga, mãe de Isabella, 2 cães, 1 gata, 1 afilhada, 2 gerbils netos, mora em Santos, tentando manter a sanidade neste tempos de um Brasil tão distópico.

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Menopausa

Me-no-pau-sa (substantivo feminino) – def. – interrupção fisiológica dos ciclos menstruais, devido à cessação da secreção hormonal dos ovários.

Simples, não? Nada disso, por que facilitar se podemos complicar, uma vez que a sociedade e principalmente as mulheres associa menopausa à velhice, data de validade, invisibilidade?

E lá vou eu com os meus 52 anos e vivendo o climatério (anos anteriores à última menstruação) bombardeada pelas redes sociais e um milhão de filtros do Instagram, dancinhas de TikTok em um mundo basicamente machista, onde mulheres sempre foram objeto de agrado dos homens, contar a minha experiência. Não deixa de ser uma verdadeira guerra psicológica!

Eu já moro na Alemanha há 5 anos e foi bem na minha mudança para cá que senti o climatério começar.

Primeira parada – Ginecologista.

Minha consulta, onde eu falava inglês e ela falava algo que se parecia com inglês-alemão, foi no mínimo curiosa.

Ginecologista: idade?

Eu: 47

Gin: Você é jovem, ainda não deve estar fazendo mamografia.

Pausa para explicar (aqui a mamografia se inicia com 50 anos, a não ser que tenha histórico familiar).

Eu: Já faço mamografia há mais de 10 anos.

Gin: Warum? Por quê? E mexeu a cabeça em desaprovação….

Eu: Doutora quando devo iniciar reposição hormonal?

Gin: Se estiver se sentindo bem, apenas cansada e com calores, nunca!

Ela me examinou, fez os exames de rotina e disse, se eu não te ligar em 15 dias é que seus exames estão ótimos. Até o ano que vem.

Não me contive e perguntei. Como devo lidar com o climatério? E ela me respondeu, faça muitas caminhadas, se alimente bem, beba muita água e se tiver dores de cabeça tome ibuprofeno, o resto vai passar.

E fui embora correndo pesquisar o que fazer, pois achava impossível ser tão simples…

Descobri então que uma em cada vinte mulheres (2022) faz reposição hormonal na Alemanha contra uma em cada três (2002), e que este número vem caindo. Pesquisando ainda mais sobre o tema descobri que a maioria das mulheres prefere usar plantas medicinais para minimizar os efeitos das alterações hormonais. Tenho uma lista delas. Elas aceitam a menopausa e passam por ela, simples assim.

Mas voltando ao tema desta série sobre envelhecimento, percebo que a alemã é muito mais relaxada no quesito aparência e isso lhe faz um bem enorme ao longo da vida.

Elas são muito mais livres que as brasileiras quando se vestem, cortam o cabelo, lidam com seus corpos e suas formas, uma vez que não se preocupam em agradar ao outro e sim à elas mesmas; e isso é cultural. A Alemanha tem uma sociedade menos machista na qual a mulher tem controle sobre seu papel. A sua importância não é medida pela juventude, magreza e beleza, e sim pelo que você tem a oferecer à sociedade, seus valores, ideias e seu posicionamento. E isso é muito confortante quando o corpo começa a mudar e as rugas começam a aparecer. E tá tudo bem!

Para mim isso foi um baita aprendizado, vindo de uma sociedade machista sul-americana, onde somos educadas para agradar aos homens e sermos jovens eternamente.

Essa lavagem cerebral custa a ser desfeita e fico feliz que estejamos falando mais e mais sobre envelhecer e o papel da mulher neste processo. Vejo cada vez mais mulheres tendo controle sobre seus corpos, desejos e sonhos.

Hoje em meio às mudanças hormonais e as minhas rugas posso dizer com franqueza que me sinto bonita e cheia de sonhos. Sou mais dona de mim, vivo mais intensamente, escolho melhor e tenho muito a contribuir.

Sou mais feliz hoje do que quando tinha 20, 30 ou 40 anos. Os perrengues vão e vem, mas lido melhor com eles.

Não escondo a minha idade, até porque ela me define sim, por tudo que vivi e me tornei, mas ela não me limita!

Silvia Lima – Bela Urbana, publicitária, leonina, mãe do Gabriel e Lucas. Mora em Stuttgart, adora uma viagem, só ou bem acompanhada, regada a muito vinho. É responsável pela área de Marketing Digital
da Push Rio Activewear. www.pushrio.com

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Sobre o ‘rótulo’ do envelhecer e outros rótulos

Já falei que detesto rótulos? Essa mania besta que a sociedade tem de querer dividir todo mundo em determinados ‘potinhos’?

São tantos… signos, gênero, cor, religião, preferência afetiva, torcida… enfim, é preciso que as pessoas pertençam a alguma categoria! E que elas se comportem como tal, claro! Obviamente no dia a dia brinco muito com isso, por exemplo a questão do horóscopo, mas daí a acreditar que 7 bilhões de pessoas possam ser divididas em 12 personalidades vai uma distância enorme!

Mas o etarismo é um dos rótulos mais pesados na nossa sociedade, e principalmente no mercado de trabalho. Aparentemente após os 40 você deixa de ser produtivo. É tipo um número cabalístico ‘etarístico’. Inclusive os RHs, que têm mais de 40, 50 anos, discriminam candidatos acima de 40 anos! Será que ainda estamos no tempo da estiva em que a força física é necessária para desempenhar nossas funções corretamente?

Voltando aos rótulos… aí algum gênio criou o rótulo master do mercado consumidor e do mundo corporativo: as gerações! Baby boomers, Geração X, Y, millenials, e agora a Alfa, que está chegando no mercado de trabalho agora. Essa rotulagem preconiza que cada uma nasceu em momentos diferentes, principalmente no que se refere ao desenvolvimento tecnológico, e subentende que cada uma delas fica parada no seu tempo e na sua tecnologia. Por essa vertente eu ainda deveria estar parada na TV de tubo e telefone fixo!

Esse tipo de rotulagem só piora preconceitos já existentes, e demonstra uma profunda ignorância de quem faz essas avaliações. E principalmente de quem desconsidera um currículo acima dos 50 (baby boomer) por acreditar que essa pessoa não conhece as novas tecnologias, e portanto terá dificuldade em se adaptar e executar suas funções.

Sempre fui uma pessoa avessa a rótulos, e menos ainda me sujeito ao que é ‘aceitável para a minha idade’ (ou gênero, ou cor, ou religião, etc.), seja roupa, tecnologia ou estilo de vida. Já falei sobre isso aqui: https://belasurbanas.com.br/quando-eu-for-crianca-de-novo/

Depois dessa história aí, por coincidência, e aos mais de 50, resolvi arriscar mudar de empresa, e cheguei numa que não me perguntou a idade na entrevista, que tem diversos funcionários da minha faixa, mas também muitos jovens, desde aprendizes de 16 anos. Uma mescla etária que dá gosto de ver! E que respeita cada um pelo valor que tem.

Ah, quando falamos dos mais ‘sêniores’ não estamos falando apenas da experiência não… recentemente numa mudança de plataforma de comunicação interna, quem estava encabeçando? A cinquentona aqui… e a nova plataforma de CRM, quem apoiou a implementação, treinando os times? Novamente a cinquentona aqui… quem ensina os estagiários e analistas júnior a usar as novas funcionalidades dos novos modelos dos celulares? Aqui todos ensinam o que sabem, qualquer que seja a idade.

Pois é… sempre fui ‘early-adopter’ de novas tecnologias, novos sistemas, novos layouts, e em geral estou abraçando e encabeçando mudanças em qualquer lugar que eu esteja, e isso não mudou, mesmo depois dos 50!

Rótulos apertam, são pegajosos, incomodam. Assim, nunca os ‘vesti’. E assim continuarei!

Tove Dahlström – Bela Urbana, mãe, avó, namorada, ex-mulher, ex-namorada, sogra, e administradora de empresas que atua como coordenadora de marketing numa empresa de embalagens. Finlandesa, morando no Brasil desde criança, é uma menina Dahlström… o que dispensa maiores explicações. Na profissão, tem paixão pelo mundo das embalagens e dos cosméticos, e além da curiosidade sobre mercado, tendencias de consumo, etc., enfrenta os desafios mais clichês do mundo corporativo, mas só quem está passando entende.

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Tenho esquecido de envelhecer

Tenho olhado o escuro da noite com os olhos mais atentos, tenho escutado os gatos no telhado e tentado decifrar seus lamentos, olhado o vento na janela, as luzes acesas por trás das noites mais escuras. Tenho olhado a rua, a silenciosa e a barulhenta, atenta aos desvios dos barulhos, embrulhos esquecidos nas esquinas. Tenho dado bom dia para os meus sonhos.

Bom dia!

Ando um tanto esquecida demais, um cansaço dos que me esqueceram. Ando esquecendo as dores que foram causadas por desamores, pintado flores. Quero esquecer tudo aquilo que marcou a carne, tomar um banho de ervas, e conversar com o travesseiro.

Sorvete de creme no inverno.

E com esse tanto de atenção a mais e o esquecimento, ganhei uns segundos de paz, umas horas comigo mesma, uns dias de sobrevivência mais plena. Cheiros.

Tenho me olhado no espelho rindo, achando graça de um envelhecer, sozinha? Que nada! Tenho envelhecido sábia, abrigada em textos não concretos, coberta de travessias e meias, nos pés que já lutaram com as jaulas. Leões indiscretos.

Meu teto de dedos, sem medo.

Escrevo versos.

Siomara Carlson – Bela Urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
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O entardecer da vida

Hoje acordei com pássaros cantando  em minha janela e, fiquei  inspirada a refletir sobre o processo do envelhecer.

Respiro fundo fecho os olhos e contemplo a imagem de um crepúsculo anunciando a transição entre o dia e a noite. Percebo que há um mistério guardado para aqueles que experimentam esse estado na travessia da vida.

É isso…. envelhecer tem a ver com experimentar o crepúsculo da existência e seus mistérios. Nesse período nós deparamos com a impossibilidade de resposta  para muitas perguntas e, aprendemos  a respeitar aquilo que a vida silenciou.

Não há mais tempo a perder com coisas e  situações que,  não estejam em sintonia com o processo de expansão da vida. Descobrimos então que não estamos a passeio e,  sim para evoluir em busca da nossa humanidade. Nesse processo vamos nos libertando de vários casúlos, ganhando assim  asas para voar   na direção de quem realmente somos.

A necessidade de perfeição vai perdendo o sentido e, passamos a acolher nossas limitações, apenas como aspectos não  amadurecidos da nossa personalidade que encontra-se  em constante devir. 

A vida explode em sua intensidade e pluralidade,  ganhando novos  sentidos e significados. 

O nosso olhar se altera  de modo a valorizarmos  o mistério que habita todas as realidades com as quais nos relacionamos.

Entendemos que viver implica em conviver com as incertezas, todavia  cheios de esperança,  sabendo que tudo passa e ao final as coisas se ajeitam. 

O vazio passa a ser um lugar de criação, a  solidão um lugar de liberdade. 

Viver vai assumindo o colorido de uma grande aventura única e especial, assim como um barco que navega mar a dentro rumo ao desconhecido trazendo o novo em nós.

É necessário despedir de coisas que podem pesar  na bagagem e levar apenas o necessário para que a viagem seja leve e prazerosa.

Quando consigamos adentrar no período do  crepúsculo da vida com fé e gratidão,  pela oportunidade de ter sido um veículo de transformação no mundo,  sentiremos a alegria ao olhar para o filme do que foi a nossa vida e dizer: Valeu a pena.

Termino minha reflexão com uma linda frase de Mário Quintana, que nos convida a simplificar e descomplicar vida: Eu moro em mim mesmo. Nao faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas.

Maria das Graças Guedes de Carvalho – Bela Urbana. Psicologa clinica. Ama a vida e suas dádivas como ser mãe, cuidar de pessoas e visitar o Mar.
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Conselhos da Madame Zoraide – 29 – Rejuvenescer

Olá Consulentes!

Você aí quer rejuvenescer? Dizem que todos querem o tempo todo, mas não é bem assim. Como sei? Vocês esquecem que eu sou a Madame Zoraide que sabe tudo.

A grande maioria das pessoas está presa no rejuvenescimento facial, corporal, mas isso é uma escravidão, porque o tempo passa para todos o tempo todo.

Não sou contra querer se sentir bem. Sou contra, ser escrava das aparências físicas. Da busca deprimente por algo que você já foi. Ou algo que quer ser sem nunca ser. E saiba, nunca será.

Rejuvenescer mesmo, é preciso, mas é naquele lugar que faz você estar evoluindo, crescendo. É preciso rejuvenescer o lugar que mora dentro de você.

Entendeu? Não?

Vamos lá então, termino com duas frases, uma minha e a outra do Belchior:

Cuidado para não virar seu próprio rascunho. (Madame Zoraide).

“No presente a mente, o corpo é diferente. E o passado é uma roupa que não nos serve mais” (velha Roupa Colorida de Belchior).

Espero que tenham entendido. Vou descansar minha beleza agora.

Até a próxima.

Madame Zoraide – Bela Urbana, nascida no início da década de 80, vinda de Vênus. Começou  atendendo pelo telefone, atingiu o sucesso absoluto, mas foi reprimida por forças maiores, tempos depois começou a fazer mapas astrais e estudar signos e numerologias, sempre soube tudo do presente, do passado, do futuro e dos cantos de qualquer lugar. É irônica, é sabida e é loira. Seu slogan é: ” Madame Zoraide sabe tudo”. Atende pela sua página no facebook @madamezoraide. Se é um personagem? Só a criadora sabe 

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ENVELHECER É PRECISO (?)

Lá no idos de 1990 li TODOS OS HOMENS SÃO MORTAIS, de Simone de Beauvoir, e ali, na minha ingenuidade juvenil, descobri que, não, eu não queria ser eterna, não queria viver para sempre. Naquela altura me reconciliei com a morte, a quem temia até então, e aceitei o fato de que ela é necessária para o descanso das almas.

Muito jovem que era, com toda a vida pela frente, contentei-me em sossegar e dizer que não temia a morte (como, aliás, não temo: Obrigada, Simone.).

Não pensava em envelhecer e nem me questionava sobre o que isto significa. Parecia tão distante; eu lá com uns 21 anos, sequer me imaginava com 40, menos ainda com 60, 70, 80 anos.

Pisquei e cá estou, com mais vida vivida do que a viver e, bem, agora que ela está à porta, estou me ocupando dela: O que é? Para que serve? Tem vantagens? Vale a pena? Faz sofrer? Dói? Dá medo? É, mesmo, preciso? É igual para todo mundo?

Questionamentos não faltam. Vamos às minhas respostas:

O que é velho? É o que existe há muito tempo? Se for, ainda não estou nesta categoria, pois existo há pouco mais de 50 anos e isto, para os padrões do Universo, não é nada!

É o que não serve mais? Se for, também não me enquadro, pois ainda sirvo para muitas coisas: trabalhar, cultivar plantinhas e horta, ajudar amigos, família e outros tantos que me procuram, dar amor etc. etc. etc.

Para que serve envelhecer? Sendo bem pragmática, parece-me que serve para dar movimento aos ciclos, dar guarida à máxima de que “nada se cria, tudo se transforma”; dar lugar ao novo, em um infinito ir e vir.

Teria vantagens? Hummm… pensando na parte material do ser, não vejo muitas, pois a gravidade é implacável e a oxidação também, o que me leva a ter muito mais trabalho para viver hoje do que há trinta anos. Porém, se o foco é a alma, esta, sim, muito se favorece do passar do tempo. Sinto-me mais sábia, mais conciliadora, mais compreensiva, menos dramática, sofro menos com coisas pequenas, aprendi a separar o joio do trigo, coisas impossíveis há vinte anos.

Vale a pena? Vale demais, porque significa que estou viva e posso experimentar coisas novas, ver minha filha tornar-se adulta, conhecer os rumos da tecnologia, da humanidade e a integração dessas “forças”. Permite-me ter histórias para contar.

Faz sofrer, dói, dá medo? Bem, é esquisito olhar as fotos antigas, dá uma saudadezinha daquela pele firme e carnes duras, mas não dói e nem dá medo, já que ela chega devagarinho: uma ruguinha um dia, uma papadinha no outro, uma gordurinha a mais aqui e acolá. Assim, vou me acostumando com os efeitos físicos do passar do tempo e vou aprendendo a me cuidar cada vez melhor e me aceitar.

É igual para todo mundo? Não deve ser, pois cada um encara a vida e seus fenômenos de uma forma. Envelhecer, portanto, a meu ver, é um processo personalíssimo: há quem, sendo jovem, parece e sente-se velho, e há quem, com muitos anos vividos continua novinho em folha, ou ao menos, novo, vistoso, saudável.

Mas, envelhecer é preciso? É, minha gente, muito preciso, porque é um fato, e quanto mais cedo aceitarmos isso, melhor para nós; e também não é preciso, pois depende de cada um deixar – ou não – o velho entrar.

Valorizar o ser, a essência, para compreender que a transformação da matéria é necessária para a elevação da alma, até que tudo seja imbuído do amor universal, quando, então, habitar um corpo será uma mera lembrança no inconsciente coletivo.

Refletir para escrever esse texto me fez concluir que ENVELHECER é mais um estado de espírito que um processo biológico, e espero jamais ter que me fazer a pergunta feita por Cecília Meireles no poema Retrato: em que espelho ficou retida a minha face? Porque, a minha face, com rugas ou sem elas, marcada pelos anos, flácida ou firme, sempre será EU.

Envelhecer é preciso.

Maria Claudionora Amâncio Vieira –  Belas Urbana, formada em Direito pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e é especialista em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho pela Universidade de Franca. Amante incondicional da Natureza Selvagem, grande apreciadora dos prazeres da vida, leitora contumaz e cinéfila por excelência
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“Tô mortinha de saudades”

Anos e anos sem nos encontrar!

A gente brincava de bola, de passa anel, de telefone sem fio, de boneca, de carrinho, de teatrinho, queimada, e brincava e brincava….. Incansavelmente.

Fomos a tantos aniversários regados a k-suco, comemos tantos canudinhos,  brigadeiros, bolos feitos e enfeitados em casa. 

A gente chegava no portão e gritava o nome do outro. 

Depois a gente começou a descobrir a paquera, a delícia de sair nos sábados à noite, ir às lanchonetes sem os país!

Depois começaram os namoros, veio a faculdade (essa nos colocou em tantas cidades diferentes…), as cartas escritas à mão nos atualizaram.

Formaturas, casamentos, empolgação, adaptações, filhos…..

Vixi! E não é que demos conta das contas pra pagar? Dos empregos desafiadores? Do fim de alguns amores?

Oftalmologista passou a ser visita obrigatória. 

Começamos a encarar – com o coração quebrado – as primeiras mortes de avós, pais, até mesmo de alguns amigos.

Começaram alguns incômodos físicos, pressão alta, colunas pedindo calma, dores inexplicáveis de vez em quando.

Tudo começou de novo igual e um pouco diferente,  através dos primeiros netos (descendentes diretos do nosso ventre e os do coração). A redescoberta do amor mais puro do mundo, a lágrima escondida depois dos primeiros passos, as festinhas de escola, os leva-e-traz do balé, da natação. Tudo de novo.

E através dos olhos já um pouco cansados, de mãos mais prudentes, de uma mente mais seletiva, estamos encontrando nosso “novo” lugar neste mundinho tão bom!

Sim, estamos envelhecendo. 

Às vezes dói perceber que o tempo não faz pausas. 

E neste momento, ao desviar a atenção de nós mesmos, temos que ser mais rápidos que o Flash.

Porque viver o nosso tempo é espetacular, digno de gratidão, de celebração. 

E faremos isso: um grupo de mais ou menos quarenta mulheres que se  conhecem desde pititicas.

Em outubro nós nos encontraremos. 

Tô mortinha de saudades!

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena.
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TEATRO E CACHAÇA

Hoje pensei em voltar para o teatro ou me afogar numa garrafa de cachaça. Talvez ambas, talvez nenhuma, possivelmente as duas. Envelhecer é uma aventura irreversível e inebriante. Enquanto a alma grita por teatro e cachaça, o corpo respira tranquilo e ofegante. Desequilibrado sigo adiante.

Envelhecer é desviar da gravidade dos dias. Se antes desafiei o horizonte distante em esperanças desastrosas, hoje negocio com o céu que desaba sobre a cabeça. Nem lamento, nem desesperança. A vida é intensa. Apesar do corpo, das desilusões, dos sonhos e de mim, vivo. Desequilibrado, sigo adiante.

Desequilibrado, preciso de teatro e cachaça. Envelhecer é fechar o ciclo e começar de novo. É ver o mundo com os olhos de uma criança. Com a poesia e a pureza de quem faz teatro e bebe cachaça.

Desequilibrado sigo adiante e não tô nem aí para o que você acha o que é fazer teatro e beber cachaça. Inebriado e louco vou vivendo irreversivelmente.

Gil Guzzo –Belo Urbano, é artista, professor e vive carregando água na peneira. É um flaneur catador de latinhas. Faz da rua, das pessoas e da vida nas grandes cidades sua maior inspiração. Trabalha com fotografia de arte, documental e fotojornalismo. É fundador do [O]FOTOGRÁFICO PRESS (Agência de imagens) e professor universitário. Adora cozinhar e ficar olhando distraidamente o mar. É alguém que não se resta a menor dúvida…só não se sabe do que…