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O Tempo

Em tempo, percebi o tempo que passava diante de mim.
Percebi as rugas no espelho que insistiam em aparecer.
Percebi os cabelos brancos, a barba branca e tudo mais que podia acontecer.
Mas percebi também uma certa ponderação, não conformismo, apenas a visão de que as coisas são como são.

Ah, sim, percebi as crianças virarem jovens e depois adultos,
Com suas ideias e impostas convicções, cheias de certeza e de razão.
Percebi as crenças que eu tinha sendo desfeitas, uma a uma, como as folhas que caem de uma árvore.
Percebi uma presença se fortalecer como nunca, algo que não poderia ser explicado, somente sentido, que se denomina fé.

Vi rostos lindos, marcados por rugas, desencarnarem,
E vi belos anjos darem sorrisos aos olhos cansados de tanto chorar.
Vi, neste curto espaço, vitórias que foram comemoradas com lágrimas nos olhos.
Mas vi também derrotas que foram amargadas em silêncio, sem ninguém saber.
Percebi que este silêncio está escondido pela argamassa do tempo, mas ainda está lá,
Que, hora ou outra, a infiltração da memória insiste em demonstrar.

Tem coisas que o tempo me mostrou que acreditei que não iriam acontecer.
Achei que jamais veria a beleza humana nas atitudes que tornariam o mundo melhor,
Mas vi homens entregarem suas vidas em mãos unidas para ajudar o próximo.
Achei que jamais veria a compaixão, ajudar ao próximo sem a certeza de likes,
Mas vi muitos anônimos serem fortes em suas certezas, mostrando uma beleza espetacular.
Achei que jamais veria o amor indicar o caminho para as dúvidas de solidão,
Mas vi homens ajoelhados em frente às crianças, que davam suas orientações sobre o sentido da vida.

O mestre tempo me mostrou que existe uma bondade inerente dentro de cada um de nós,
E que mesmo os mais distantes podem provar do seu mel.
Olhei de forma profunda o mundo ao nosso redor e percebi que podemos nos basear nos que são bons de coração,
E entender que a maldade sempre existirá, mas que não precisamos fazer parte dela.
Imaginei-me perto demais do Criador, acreditando na criatura,
Olhando tudo ao redor e pensando que somos um segundo no universo infinito de possibilidades.
Este brilho finito deve nos fazer olhar cada sorriso como único,
Pois, indiscutivelmente, o tempo também irá levá-lo.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.

4 opiniões sobre “O Tempo

  1. Quantas imagens belas construidas de poesia!

    1. Oi Ana, Boa Tarde
      Como um artesão, o poeta tira da palavra bruta a obra que quer construir.
      Transforma cada palavra com o esmeril dos pensamentos, que, rápidos ou lentos, traduzem o que existe em seu coração.
      Essa tradução pode trazer imagens, sons, cores e tudo isso junto, relembrando seus amores.
      Como o som do canto de um pássaro sozinho, que lembra a infância vivida à beira de um rio.

      Não, Ana, o poeta não tem nada de espetacular, ele apenas escuta os sons que vêm de dentro e tenta transportar.
      O poeta muitas vezes é chato e melancólico, pois todo sentimento é argumento para uma nova construção.
      Mas quando o poeta encontra a mão da poesia tocando outros corações, este poeta se vê com alegria, cheio de emoções.
      Então, Ana querida, seu coração também está cheio de poesia e cheio de emoção, basta escutar o seu coração e traduzir suas poesias.

  2. Quantas belezas seu olhar captou com o tempo!

    1. Oi Erika, Boa Tarde

      Entre a cegueira da visão e a ilusão de se olhar, perguntou-se ao cego por que sorri se não pode ver. E o cego, cheio de alegria, disse com prazer o que sentia: que havia paz no olhar das pessoas que sentia, que o que via não vinha da visão, mas das profundezas de seu coração. Disse que o cheiro das árvores e os sons dos pássaros formavam a mais bela paisagem que se pode ver, e que por tudo isso não tinha por que sofrer.

      Não satisfeito com a resposta e um pouco incomodado com o sentimento, perguntou atento, querendo provocar: “Mas não ver com os olhos não lhe faz falta?” E a resposta veio serena, como a tarde plena que não espera para cair: “Você, meu caro amigo, realmente acredita que vê? Quando olha para um sorriso, sabe realmente se ele está rindo? Ou quando olha para um abraço, se sente realmente abraçado? Pois eu, do meu lado, por presente compensado, daquele que tudo sabe, não vejo as formas do dia, mas sinto a aura que acompanha a alma e vejo isso como uma incrível melodia.”

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