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Caminhos de solução possíveis: ação judicial ou mediação?

Fui presenteada com o livro “Comunicação Não Violenta – técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, do psicólogo americano Marshall B. Rosenberg, na época em que meus filhos eram adolescentes, e sua leitura me fez enxergar a mim, aos outros e a vida sob outra lente. A CNV me cativou profundamente e é uma filosofia de vida que transformou a forma como me percebo, me trazendo muito autoconhecimento e muito mais: escutar o outro com mais empatia. E a prática da CNV traz uma consciência para uma comunicação mais assertiva, gerando maior conexão entre pessoas. É um caminho para quem quer investir em como se relacionar consigo mesmo e na qualidade dos relacionamentos.

A comunicação me trouxe benefícios na esfera pessoal – família e amigos – bem como profissional.

Na esfera profissional constatei que a CNV me fez olhar para o exercício da advocacia de forma mais atenta e humanizada, ao oferecer a escuta ativa para o cliente, trazendo compreensão mais profunda, observando não só o que ele quer e sim o que deseja, valoriza e o que é importante para ele.

Através do mapeamento do conflito, e no papel de advogada consensual, ofereço um leque de opções para solucionar o conflito: a advocacia preventiva, a MEDIAÇÃO privada de conflitos e como último recurso a ação judicial.

Especificamente quando o cliente escolhe a MEDIAÇÃO e no meu papel de ADVOGADA, usarei a comunicação para ajudá-lo a encontrar seus reais interesses e necessidades, os quais muitas vezes não são percebidos. Vou acompanhar ao longo de toda a mediação a defesa, preparando e orientando juridicamente o cliente para que ele se sinta seguro para as tomadas de decisão, garantindo segurança jurídica. Ao final, quando as partes chegarem a um acordo, zelarei para que possa ser devidamente cumprido. Ao final da Mediação, o acordo poderá ser levado à homologação judicial, que terá força de um título executivo judicial.

Porém, se eu vier a ser contratada como MEDIADORA (e não como advogada), exercerei a comunicação de forma neutra, imparcial e objetiva, no sentido de ajudar os intervenientes (partes e seus advogados) a perceberem que por trás de posições rígidas há interesses em comum. E assim, focarei em melhorar a comunicação entre eles para que consigam ampliar a compreensão do problema sob outras perspectivas e a pensar criativamente em opções em como querem solucionar o conflito de forma pacífica. A tomada de decisão é dos mediados, serão eles que terão o controle do resultado e como querem solucionar o conflito.

O conflito faz parte da vida de todos nós e geralmente, quando estamos inseridos nele, a comunicação está ruim ou interrompida. O mediador será um profissional essencial e que vai cuidar para que essa comunicação seja restabelecida, a fim que os mediados possam chegar a um consenso. A mediação cuida da comunicação entre os mediados para que escolham como querem viver no futuro da melhor maneira possível, principalmente quando estamos falando de relações continuadas, como, por exemplo, divórcio com filhos em comum, relações societárias ou profissionais, etc.

E quando estamos falando sobre relacionamentos abusivos a mediação pode ser um caminho adequado para solucionar um conflito dentro deste contexto. O mediador vai promover um espaço seguro para conversar sobre o relacionamento e o que irão decidir sobre ele; sobre a comunicação ruim e como irão fazer para melhorar essa comunicação e os temas decorrentes desta situação: filhos, bens, dívidas, por exemplo. Essas conversas podem acontecer de modo privado, isto é, quando for o caso somente um dos intervenientes acompanhado com seu advogado e o mediador, ou em conjunto, quando todos participarão do diálogo. Em alguns casos a mediação vai ajudar a melhorar a comunicação pois os intervenientes terão espaço de fala e de escuta em que poderão pensar e escolher qual melhor opção para buscar a pacificação e em decorrência chegar a um consenso.

Na Mediação os intervenientes terão voz e, escutados reciprocamente, serão os protagonistas das suas escolhas e terão o controle do resultado, pois decidirão juntos qual será a melhor solução. Porque mediação não é cedência, é uma construção de um consenso de ganhos mútuos, com equilíbrio, prevenindo e combatendo abusos nos relacionamentos. O mediador cuidará do equilíbrio dos mediados ao longo de todo o processo de mediação.

A mediação é um método previsto em lei e contemporâneo, pois traz “cultura da pacificação” como método justo e adequado para solucionar conflitos em contraposição à “cultura da sentença”, tão conhecida pelo nosso ordenamento jurídico. Ela pode acontecer antes ou durante o processo judicial e neste caso suspende-se o processo para as partes tentarem a solução pela mediação.

A mediação traz no seu método a flexibilidade e como consequência maior rapidez, já que a duração e andamento dependem dos intervenientes e seus advogados, mais economia por não ter custas judiciais, controle do resultado, eficiência e maior satisfação das partes se comparado ao processo judicial.

Assim a CNV está inserida na minha vida profissional de advogada e mediadora, me dando suporte para atender os clientes de maneira humanizada e cuidadosa.

Liesbeth Hermans Masson Regina – Casada, mãe de três filhos, advogada consensual e mediadora de conflitos. Gosta muito de estar e manter bons relacionamentos e uma das maneiras que mais aprecia é sentar em volta de uma mesa saboreando uma refeição, às vezes preparada por ela, acompanhada de um vinho. Adora comer chocolate amargo. Gosta de fazer meditação e esporte matinal, cozinhar, viajar e curtir uma música. Ama cachorros. E gosta muito do que eu faz seu trabalho. https://www.linkedin.com/in/liesbeth-hermans-masson-regina-07a63620/

 

 

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Era meu primeiro amor

Relacionamento abusivo? Eu não fazia ideia na época, mas confesso que passei por um há mais ou menos 20 anos, quando pouca gente falava nisso abertamente, sobretudo entre casais gays.

Eu tinha vinte e poucos e ele uns cinco anos a mais. O ciúme dele era perceptível desde sempre, mas eu confundia esse sentimento com paixão entre dois arianos.

Aceitava com naturalidade o controle dele sobre meus horários, minhas saídas com amigos e idas ao clube, que ele insistia para que eu não fosse, sabe-se lá porque.

Nada que eu dissesse o dissuadia da ideia fixa de que eu aprontasse, nada, e eu me resignei a uma rotina que ele aceitasse. Mal sabia eu, que anos mais tarde, eu o levaria ao hospital depois de uma briga que tivemos.

Eu havia chegado mais tarde em casa naquele dia e nada que eu dissesse o convencia que eu não estava na sauna gay. Discutimos aos berros e num momento de fúria, ele derrubou uma estante aos meus pés. Foi aí que eu dei meu primeiro soco na cara de alguém. Acertei em cheio. Tive de levá-lo ao hospital para receber cuidados e depois paguei de agressor ao levá-lo ao teatro onde ele trabalhava. Amarguei a fama de irascível, destemperado e violento, quando não era.

A gota d’água, contudo, foi o dia em que ele abriu meu e-mail e leu minha correspondência com um amigo, onde eu havia dito que, depois de uma briga, me engracei com um sujeito na rua e acabamos transando. Devia ser o estopim da maior briga, mas não foi. Eu me assenhorei de mim naquele dia. Ele me ligou no trabalho e começou a discorrer sobre o que havia lido e eu cravei: “estamos terminados”. Exigi sua saída imediata de casa e assim, se encerrava a relação.

Foram  quatro anos de controle, desconfianças infundadas dele contra mim, dedos em riste, acusações delirantes e uma marca profunda na minha combalida autoestima.

Depois de alguns meses, descobri um HD externo dele em casa e ali havia a confirmação da minha suspeita: era ele quem me traía, quem em turnê com a peça ficava com quem aparecesse, quem inventava compromissos para me distrair das suas traições. Eu, ingênuo, nunca imaginara que tudo que eu supostamente fazia de errado era, no fundo, fruto de projeção do comportamento dele para comigo.

Descobri tarde? Não, afinal era meu primeiro amor. Amando a gente se descobre, especialmente quando a gente se ama e se respeita.

Décio Hernandez – 47 anos, jornalista da área cultural e nadador amador.
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Nasci menina

Nasci menina. Bonita, sorridente, moleca. Era menina-menino sempre correndo, pulando. E na ingenuidade das brincadeiras de crianca de 5 anos já tive que aprender a desviar de lobos. Cruzou o meu caminho um tal Sr. João, avô da minha amiguinha. Na casa onde moravam era correr em volta dos móveis da sala e esbarrar nesse obstáculo gordo de nariz vermelho esparramado no sofá. Ele sempre dava um jeito de me puxar pelo braço e me apertar contra sua barriga enorme e com suas mãos velhas e gordas me puxar entre minhas pernas. Aprendi a driblar o velho.

Crescendo me tornei bela adolescente com quem todos queriam se relacionar. Ainda lembro o calor que senti em minhas costas, algo duro, quente parado ali, ele em pé eu sentada escrevendo. Na minha ingenuidade custei a entender. Mudei de lugar, calei. Assustada passei a fugir das ciladas, andar em bando. Comecei a perceber o que queriam de mim.

Vale ressaltar que sou filha de imigrantes guerreiros mas não tive orientação sobre sexualidade, outros tempos. Fui descobrindo sozinha.

Logo cedo casei, sonhadora, iludida. Traída dentro de casa, mudei tudo. Sofri muito mas continuei no sonho de “felizes para sempre”. Fui aos trancos.

Agora a lembrança me leva a um consultório médico com fortes dores abdominais. Deitada numa maca sou demoradamente apalpada, estômago, intestino, barriga toda. Então? Nada? Sim! Sai o medico de perto meio contorcido parecia que tinha encorporado minha dor. Qual nada! Ele escondia mal uma ereção. Percebi, calei com ânsia de vômito. Sai do consultorio com mais dores do que as tinha. Agora com a auto estima doida também.

E seguindo o caminho, amores, namoros, casos à toa. Bonitos, feios, bobos, inteligentes. Eu queria um príncipe, todas queriam.

Nessa busca mais uma porrada de leve. Entre conversas e cervejas o rapaz de familia rica me levou a marina no Iate Clube para me mostrar o barco novo. Claro que achei que íamos ficar juntos, beijos, risadas, carinhos e velejar.

Nao foi bem assim. Fui virada de costas apoiada num barco e estuprada. Dolorida de todo jeito, pouco falei. Lembro de dizer: isso não e assim! Acabou, fui embora na hora arrasada.

Espanto, no dia seguinte entra pelo corredor do lugar onde eu trabalhava, o sujeito com sorrisinho no rosto e bonbons na mão. Continuei calada.

E o tempo passa na minha memória, voando. Já com filhos criados e um a criar, vou levando a vida de divorciada e super-heroína. Sou boa nisso!

Já aos quarenta e tal me deparo com mais dessa espécie comum. Um amigo/parente, me liga com voz rouca de desespero pedindo que fosse a sua casa urgente. Éramos vizinhos.

La fui eu, short , camiseta, descabelada, estava descabelada, fiquei mais ainda quando ao descer as escadas o sujeito me agarrou a força e tive que usar a minha para empurrá-lo e sair correndo. Chorei de raiva e espanto. Afinal, eu era amiga da mulher dele. Não entendi nada ou entendi tudo. Em choque ainda cruzei com o personagem dias depois e ele todo sorrisos me perguntou porque eu não falava mais com ele? Porra! Como assim?

Hoje ao 67 passando um pouco a vida a limpo, trago essas grotescas memórias a tona. Feridas curadas, não esquecidas. Ainda sinto nojo de cada uma delas.

Menina sonhadora: caíram os panos, desfizeram-se os sonhos. A super-heroína esta aqui de pé, MULHER.

E bem longe os João, Marcelo, Carlos , Vidal, Jorges que nãoo ouso chamar de HOMEM.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana, jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.

 

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Rotina

Tenho pensado muito sobre simplicidade, humildade, quereres e fazeres.

Sobre tudo que já vivi,  as escolhas que fiz, os medos e alegrias que mexeram comigo de forma profunda e me fizeram ora recuar, ora ser cautelosa e ora virar um bicho cheio de garra.

Sobre as diferenças e afinidades nos relacionamentos.

Sobre dar, como dar, sobre receber e como demonstrar os sentimentos envolvidos nestes atos.

Sobre amor. O mais puro, desprovido de expectativas,  de egoísmo. Aquele sobre entender que o pássaro é livre. Sobre os dizeres imponderados,  ímpetos de indignação egoistica,  recuos fantasiosos. Sobre dar sentido à simplicidade enchendo-a de cores, flores, amores.

Sobre guardar no mais íntimo o que me é revelado em convivência. Sobre valores, ética…… sobre viver e deixar viver. Respeitar desmedidamente as pessoas, suas culturas, suas palavras às vezes tão desencontradas do que penso.

Tenho pensado muito.  Sobre mim e sobre todos. Sobre meu mundo e sobre o universo. 

Sobre tudo que temos passado nos últimos três ou quatro anos pessoal e globalmente e como isso é -ainda é- determinante no presente.

Sobre o que penso em relação  ao momento político do nosso país,  sobre extremos e atitudes provocantes. Não quero isso. Não suporto mais. Eu me retiro. Tenho humildade para reconhecer que sou uma mal informada, que estou à revelia da realidade.

É isso : exercício diário de humildade.  

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena.
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