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“Muito Além do Jardim” (o título é referência a comédia dramática com direção: Hal Ashby)

Na vida, acredito que eu e as demais pessoas desejem o que já dizia o personagem vulcano de uma série de ficção de sucesso, “Uma vida longa e próspera”.

Me pego a pensar nisso… “uma vida longa”… no número de anos de vida, sim ! Desejo um número significativo de anos pela frente, principalmente agora, visto já ter passado dos 50 anos, tenho 53 anos 6 meses, sendo assim, creio que na minha história já tenho mais passado do que futuro, pois não acredito que vá chegar aos 100 anos; não tenho genética dos “Highlanders”, como aquele personagem imortal que só morria se lhe cortassem a cabeça, rainha de copas a parte, desculpem-me mas esta crônica está cheia filmes, músicas, livros e séries; considerando tudo isso, preciso olhar com muita atenção para esta parte do caminho dos anos que virão, como usufruir deste tempo com o mesmo arrepio do “Carpe Diem”, sussurrado em “Sociedade dos poetas mortos”.

Sorver a vida, aproveitar o dia e ter amor, alegrias e paz de espírito em meio a rotina e as demandas do cotidiano e um desafio avassalador. Por hora, vamos como “Nosso querido Bob” de seus “Passinhos de Bebê”, vencendo um desafio por vez.

Voltando a nossa reflexão…. “uma vida próspera”… Qual parte do “próspera” me cabe considerar? Pelo que vi e conversei com as pessoas, esta percepção é muito relativa, para alguns está associada aos recursos financeiros. Penso que próspera em recursos que nos permitam viver sem exageros seja mais a minha cara, próspera em qualidade de experiências novos de aprendizados, próspera na capacidade de sobrevivência e em manter uma certa qualidade de vida, próspera em relacionamentos saudáveis que nos nutrem com a maravilhosa interação humana e afetos de qualidade, “Amor é prosa, sexo é poesia”, são as relações humanas que nos alimentam mais que a própria comida diária, próspera de bens materiais necessários ao cotidiano, próspera em viagens, em cultura, em literatura, em música, em filmes e séries, próspera em aromas, sabores, texturas e temperaturas, climas e cores. Próspera em animais e natureza.

Mas, fundamentalmente, próspera em harmonia, saúde mental, física e espiritual, para poder trilhar o caminho que está por vir. Desejando o melhor fim, como cantou a “Santa Rita” “Se Deus quiser, um dia eu viro semente, e quando a chuva molhar o jardim, ah, eu fico contente… Se Deus quiser, um dia eu morro bem velha”… Enquanto isso, vamos vivendo, trilhando o caminho.

Não sei se vocês conhecem, há um filme inspirador em que os personagens fazem uma lista de desejos que gostariam de realizar “Antes de Partir”, acho que deveríamos fazer e refazer essa lista a cada década da vida, pois mudam as perspectivas e as prioridades a cada etapa de idade e saúde, e você, já pensou na sua lista? Nossa, vou precisar “chamar o Alfredo” pra trazer outro rolo pois minha lista não cabe neste “Neve”.

Sem querer mudar de vida ou viajar no tempo, em “Questão de Tempo” há uma série de deliciosas provocação sobre o viver, que reflete sobre a importância do momento presente. No final das contas compreendemos que ele é o principal, não é o ontem, não é o amanhã, a chave é o presente, estar inteiro, estar conectado com a experiência da vida, com os afetos, com as pessoas, é ser inteiro e não pela metade. “Porque metade de mim é Amor. E a outra metade também”.

Thelma Carlsen Fontefria – Bela Urbana, psicóloga, mãe de Isabella, 2 cães, 1 gata, 1 afilhada, 2 gerbils netos, mora em Santos, tentando manter a sanidade neste tempos de um Brasil tão distópico.

 

 

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VAZIO infinito

Ele perdeu a noção do tempo. Não sabia qual era o dia da semana, o mês, o horário. Tudo isso deixou em uma outra vida, em um certo dia.

O dia que uma dor tão profunda apertou seu peito, maior do que todas as outras que já tinha sentido. Ele sempre sentiu dores fortes, desde criança. A dor de um vazio, como se fosse a queda em um buraco, ele sempre se sentia caindo. As vezes parava e se agarrava em algo, mas não conseguia segurar por muito tempo, logo caia de novo.

Em cada queda a dor aumentava, foi ficando tão grande, mas tão grande, assim como o vazio que sentia. Vazio infinito. Dor crescente.

Tinha sorte, mas não a percebia. Perdia, sempre perdia, não pela falta de sorte, mas pela confusão mental que o VAZIO lhe causava.

Tentou o suicídio três vezes em épocas diferentes, mas não morreu, foi salvo.

Salvo? Ele nunca viu assim, preferia ter ido, mas se achava incompetente até para isso.

Em uma tarde de inverno resolver largar tudo, a madrasta, a namorada, a irmã, o cachorro. Saiu pela porta, não deixou bilhete, não levou roupas, não levou comidas, não levou telefone, nem carteira, nem cartões, nada. Foi embora somente com o VAZIO.

Quanto tempo faz? Ele não sabe, Não sabe mais quem era. Sabe quem é, sabe que vive nas ruas, sabe que mendiga, nem sabe se está na sua cidade ou em outras, já andou tanto, que não sabe nem se já voltou.

A dor acalmou, se sente anestesiado. Nunca mais amou, amar machucava. Nunca mais quis se matar. Nunca mais quis nada. Não sentia nem dor, nem amor.

Uma noite bem tarde, ruas vazias, estava na frente de uma uma loja, com televisores que começaram a acender e mostravam um show de rock de uma banda que ele ouvia e gostava.

Uma lágrima escorreu de seus olhos. Ficou olhando aquilo. Lembrou da dor, lembrou do amor. Lembrou de si. Do vazio. Da queda. Fechou os olhos, pediu perdão. Foi embora, era melhor ser invisível. Não queria ascender.

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

Foto Adriana: Gilguzzo/Ofotografico.