Posted on Leave a comment

Sobre o ‘rótulo’ do envelhecer e outros rótulos

Já falei que detesto rótulos? Essa mania besta que a sociedade tem de querer dividir todo mundo em determinados ‘potinhos’?

São tantos… signos, gênero, cor, religião, preferência afetiva, torcida… enfim, é preciso que as pessoas pertençam a alguma categoria! E que elas se comportem como tal, claro! Obviamente no dia a dia brinco muito com isso, por exemplo a questão do horóscopo, mas daí a acreditar que 7 bilhões de pessoas possam ser divididas em 12 personalidades vai uma distância enorme!

Mas o etarismo é um dos rótulos mais pesados na nossa sociedade, e principalmente no mercado de trabalho. Aparentemente após os 40 você deixa de ser produtivo. É tipo um número cabalístico ‘etarístico’. Inclusive os RHs, que têm mais de 40, 50 anos, discriminam candidatos acima de 40 anos! Será que ainda estamos no tempo da estiva em que a força física é necessária para desempenhar nossas funções corretamente?

Voltando aos rótulos… aí algum gênio criou o rótulo master do mercado consumidor e do mundo corporativo: as gerações! Baby boomers, Geração X, Y, millenials, e agora a Alfa, que está chegando no mercado de trabalho agora. Essa rotulagem preconiza que cada uma nasceu em momentos diferentes, principalmente no que se refere ao desenvolvimento tecnológico, e subentende que cada uma delas fica parada no seu tempo e na sua tecnologia. Por essa vertente eu ainda deveria estar parada na TV de tubo e telefone fixo!

Esse tipo de rotulagem só piora preconceitos já existentes, e demonstra uma profunda ignorância de quem faz essas avaliações. E principalmente de quem desconsidera um currículo acima dos 50 (baby boomer) por acreditar que essa pessoa não conhece as novas tecnologias, e portanto terá dificuldade em se adaptar e executar suas funções.

Sempre fui uma pessoa avessa a rótulos, e menos ainda me sujeito ao que é ‘aceitável para a minha idade’ (ou gênero, ou cor, ou religião, etc.), seja roupa, tecnologia ou estilo de vida. Já falei sobre isso aqui: https://belasurbanas.com.br/quando-eu-for-crianca-de-novo/

Depois dessa história aí, por coincidência, e aos mais de 50, resolvi arriscar mudar de empresa, e cheguei numa que não me perguntou a idade na entrevista, que tem diversos funcionários da minha faixa, mas também muitos jovens, desde aprendizes de 16 anos. Uma mescla etária que dá gosto de ver! E que respeita cada um pelo valor que tem.

Ah, quando falamos dos mais ‘sêniores’ não estamos falando apenas da experiência não… recentemente numa mudança de plataforma de comunicação interna, quem estava encabeçando? A cinquentona aqui… e a nova plataforma de CRM, quem apoiou a implementação, treinando os times? Novamente a cinquentona aqui… quem ensina os estagiários e analistas júnior a usar as novas funcionalidades dos novos modelos dos celulares? Aqui todos ensinam o que sabem, qualquer que seja a idade.

Pois é… sempre fui ‘early-adopter’ de novas tecnologias, novos sistemas, novos layouts, e em geral estou abraçando e encabeçando mudanças em qualquer lugar que eu esteja, e isso não mudou, mesmo depois dos 50!

Rótulos apertam, são pegajosos, incomodam. Assim, nunca os ‘vesti’. E assim continuarei!

Tove Dahlström – Bela Urbana, mãe, avó, namorada, ex-mulher, ex-namorada, sogra, e administradora de empresas que atua como coordenadora de marketing numa empresa de embalagens. Finlandesa, morando no Brasil desde criança, é uma menina Dahlström… o que dispensa maiores explicações. Na profissão, tem paixão pelo mundo das embalagens e dos cosméticos, e além da curiosidade sobre mercado, tendencias de consumo, etc., enfrenta os desafios mais clichês do mundo corporativo, mas só quem está passando entende.

Posted on Leave a comment

Tenho esquecido de envelhecer

Tenho olhado o escuro da noite com os olhos mais atentos, tenho escutado os gatos no telhado e tentado decifrar seus lamentos, olhado o vento na janela, as luzes acesas por trás das noites mais escuras. Tenho olhado a rua, a silenciosa e a barulhenta, atenta aos desvios dos barulhos, embrulhos esquecidos nas esquinas. Tenho dado bom dia para os meus sonhos.

Bom dia!

Ando um tanto esquecida demais, um cansaço dos que me esqueceram. Ando esquecendo as dores que foram causadas por desamores, pintado flores. Quero esquecer tudo aquilo que marcou a carne, tomar um banho de ervas, e conversar com o travesseiro.

Sorvete de creme no inverno.

E com esse tanto de atenção a mais e o esquecimento, ganhei uns segundos de paz, umas horas comigo mesma, uns dias de sobrevivência mais plena. Cheiros.

Tenho me olhado no espelho rindo, achando graça de um envelhecer, sozinha? Que nada! Tenho envelhecido sábia, abrigada em textos não concretos, coberta de travessias e meias, nos pés que já lutaram com as jaulas. Leões indiscretos.

Meu teto de dedos, sem medo.

Escrevo versos.

Siomara Carlson – Bela Urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
Posted on 1 Comment

O entardecer da vida

Hoje acordei com pássaros cantando  em minha janela e, fiquei  inspirada a refletir sobre o processo do envelhecer.

Respiro fundo fecho os olhos e contemplo a imagem de um crepúsculo anunciando a transição entre o dia e a noite. Percebo que há um mistério guardado para aqueles que experimentam esse estado na travessia da vida.

É isso…. envelhecer tem a ver com experimentar o crepúsculo da existência e seus mistérios. Nesse período nós deparamos com a impossibilidade de resposta  para muitas perguntas e, aprendemos  a respeitar aquilo que a vida silenciou.

Não há mais tempo a perder com coisas e  situações que,  não estejam em sintonia com o processo de expansão da vida. Descobrimos então que não estamos a passeio e,  sim para evoluir em busca da nossa humanidade. Nesse processo vamos nos libertando de vários casúlos, ganhando assim  asas para voar   na direção de quem realmente somos.

A necessidade de perfeição vai perdendo o sentido e, passamos a acolher nossas limitações, apenas como aspectos não  amadurecidos da nossa personalidade que encontra-se  em constante devir. 

A vida explode em sua intensidade e pluralidade,  ganhando novos  sentidos e significados. 

O nosso olhar se altera  de modo a valorizarmos  o mistério que habita todas as realidades com as quais nos relacionamos.

Entendemos que viver implica em conviver com as incertezas, todavia  cheios de esperança,  sabendo que tudo passa e ao final as coisas se ajeitam. 

O vazio passa a ser um lugar de criação, a  solidão um lugar de liberdade. 

Viver vai assumindo o colorido de uma grande aventura única e especial, assim como um barco que navega mar a dentro rumo ao desconhecido trazendo o novo em nós.

É necessário despedir de coisas que podem pesar  na bagagem e levar apenas o necessário para que a viagem seja leve e prazerosa.

Quando consigamos adentrar no período do  crepúsculo da vida com fé e gratidão,  pela oportunidade de ter sido um veículo de transformação no mundo,  sentiremos a alegria ao olhar para o filme do que foi a nossa vida e dizer: Valeu a pena.

Termino minha reflexão com uma linda frase de Mário Quintana, que nos convida a simplificar e descomplicar vida: Eu moro em mim mesmo. Nao faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas.

Maria das Graças Guedes de Carvalho – Bela Urbana. Psicologa clinica. Ama a vida e suas dádivas como ser mãe, cuidar de pessoas e visitar o Mar.
Posted on 1 Comment

Conselhos da Madame Zoraide – 29 – Rejuvenescer

Olá Consulentes!

Você aí quer rejuvenescer? Dizem que todos querem o tempo todo, mas não é bem assim. Como sei? Vocês esquecem que eu sou a Madame Zoraide que sabe tudo.

A grande maioria das pessoas está presa no rejuvenescimento facial, corporal, mas isso é uma escravidão, porque o tempo passa para todos o tempo todo.

Não sou contra querer se sentir bem. Sou contra, ser escrava das aparências físicas. Da busca deprimente por algo que você já foi. Ou algo que quer ser sem nunca ser. E saiba, nunca será.

Rejuvenescer mesmo, é preciso, mas é naquele lugar que faz você estar evoluindo, crescendo. É preciso rejuvenescer o lugar que mora dentro de você.

Entendeu? Não?

Vamos lá então, termino com duas frases, uma minha e a outra do Belchior:

Cuidado para não virar seu próprio rascunho. (Madame Zoraide).

“No presente a mente, o corpo é diferente. E o passado é uma roupa que não nos serve mais” (velha Roupa Colorida de Belchior).

Espero que tenham entendido. Vou descansar minha beleza agora.

Até a próxima.

Madame Zoraide – Bela Urbana, nascida no início da década de 80, vinda de Vênus. Começou  atendendo pelo telefone, atingiu o sucesso absoluto, mas foi reprimida por forças maiores, tempos depois começou a fazer mapas astrais e estudar signos e numerologias, sempre soube tudo do presente, do passado, do futuro e dos cantos de qualquer lugar. É irônica, é sabida e é loira. Seu slogan é: ” Madame Zoraide sabe tudo”. Atende pela sua página no facebook @madamezoraide. Se é um personagem? Só a criadora sabe 

Posted on Leave a comment

ENVELHECER É PRECISO (?)

Lá no idos de 1990 li TODOS OS HOMENS SÃO MORTAIS, de Simone de Beauvoir, e ali, na minha ingenuidade juvenil, descobri que, não, eu não queria ser eterna, não queria viver para sempre. Naquela altura me reconciliei com a morte, a quem temia até então, e aceitei o fato de que ela é necessária para o descanso das almas.

Muito jovem que era, com toda a vida pela frente, contentei-me em sossegar e dizer que não temia a morte (como, aliás, não temo: Obrigada, Simone.).

Não pensava em envelhecer e nem me questionava sobre o que isto significa. Parecia tão distante; eu lá com uns 21 anos, sequer me imaginava com 40, menos ainda com 60, 70, 80 anos.

Pisquei e cá estou, com mais vida vivida do que a viver e, bem, agora que ela está à porta, estou me ocupando dela: O que é? Para que serve? Tem vantagens? Vale a pena? Faz sofrer? Dói? Dá medo? É, mesmo, preciso? É igual para todo mundo?

Questionamentos não faltam. Vamos às minhas respostas:

O que é velho? É o que existe há muito tempo? Se for, ainda não estou nesta categoria, pois existo há pouco mais de 50 anos e isto, para os padrões do Universo, não é nada!

É o que não serve mais? Se for, também não me enquadro, pois ainda sirvo para muitas coisas: trabalhar, cultivar plantinhas e horta, ajudar amigos, família e outros tantos que me procuram, dar amor etc. etc. etc.

Para que serve envelhecer? Sendo bem pragmática, parece-me que serve para dar movimento aos ciclos, dar guarida à máxima de que “nada se cria, tudo se transforma”; dar lugar ao novo, em um infinito ir e vir.

Teria vantagens? Hummm… pensando na parte material do ser, não vejo muitas, pois a gravidade é implacável e a oxidação também, o que me leva a ter muito mais trabalho para viver hoje do que há trinta anos. Porém, se o foco é a alma, esta, sim, muito se favorece do passar do tempo. Sinto-me mais sábia, mais conciliadora, mais compreensiva, menos dramática, sofro menos com coisas pequenas, aprendi a separar o joio do trigo, coisas impossíveis há vinte anos.

Vale a pena? Vale demais, porque significa que estou viva e posso experimentar coisas novas, ver minha filha tornar-se adulta, conhecer os rumos da tecnologia, da humanidade e a integração dessas “forças”. Permite-me ter histórias para contar.

Faz sofrer, dói, dá medo? Bem, é esquisito olhar as fotos antigas, dá uma saudadezinha daquela pele firme e carnes duras, mas não dói e nem dá medo, já que ela chega devagarinho: uma ruguinha um dia, uma papadinha no outro, uma gordurinha a mais aqui e acolá. Assim, vou me acostumando com os efeitos físicos do passar do tempo e vou aprendendo a me cuidar cada vez melhor e me aceitar.

É igual para todo mundo? Não deve ser, pois cada um encara a vida e seus fenômenos de uma forma. Envelhecer, portanto, a meu ver, é um processo personalíssimo: há quem, sendo jovem, parece e sente-se velho, e há quem, com muitos anos vividos continua novinho em folha, ou ao menos, novo, vistoso, saudável.

Mas, envelhecer é preciso? É, minha gente, muito preciso, porque é um fato, e quanto mais cedo aceitarmos isso, melhor para nós; e também não é preciso, pois depende de cada um deixar – ou não – o velho entrar.

Valorizar o ser, a essência, para compreender que a transformação da matéria é necessária para a elevação da alma, até que tudo seja imbuído do amor universal, quando, então, habitar um corpo será uma mera lembrança no inconsciente coletivo.

Refletir para escrever esse texto me fez concluir que ENVELHECER é mais um estado de espírito que um processo biológico, e espero jamais ter que me fazer a pergunta feita por Cecília Meireles no poema Retrato: em que espelho ficou retida a minha face? Porque, a minha face, com rugas ou sem elas, marcada pelos anos, flácida ou firme, sempre será EU.

Envelhecer é preciso.

Maria Claudionora Amâncio Vieira –  Belas Urbana, formada em Direito pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e é especialista em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho pela Universidade de Franca. Amante incondicional da Natureza Selvagem, grande apreciadora dos prazeres da vida, leitora contumaz e cinéfila por excelência
Posted on Leave a comment

“Tô mortinha de saudades”

Anos e anos sem nos encontrar!

A gente brincava de bola, de passa anel, de telefone sem fio, de boneca, de carrinho, de teatrinho, queimada, e brincava e brincava….. Incansavelmente.

Fomos a tantos aniversários regados a k-suco, comemos tantos canudinhos,  brigadeiros, bolos feitos e enfeitados em casa. 

A gente chegava no portão e gritava o nome do outro. 

Depois a gente começou a descobrir a paquera, a delícia de sair nos sábados à noite, ir às lanchonetes sem os país!

Depois começaram os namoros, veio a faculdade (essa nos colocou em tantas cidades diferentes…), as cartas escritas à mão nos atualizaram.

Formaturas, casamentos, empolgação, adaptações, filhos…..

Vixi! E não é que demos conta das contas pra pagar? Dos empregos desafiadores? Do fim de alguns amores?

Oftalmologista passou a ser visita obrigatória. 

Começamos a encarar – com o coração quebrado – as primeiras mortes de avós, pais, até mesmo de alguns amigos.

Começaram alguns incômodos físicos, pressão alta, colunas pedindo calma, dores inexplicáveis de vez em quando.

Tudo começou de novo igual e um pouco diferente,  através dos primeiros netos (descendentes diretos do nosso ventre e os do coração). A redescoberta do amor mais puro do mundo, a lágrima escondida depois dos primeiros passos, as festinhas de escola, os leva-e-traz do balé, da natação. Tudo de novo.

E através dos olhos já um pouco cansados, de mãos mais prudentes, de uma mente mais seletiva, estamos encontrando nosso “novo” lugar neste mundinho tão bom!

Sim, estamos envelhecendo. 

Às vezes dói perceber que o tempo não faz pausas. 

E neste momento, ao desviar a atenção de nós mesmos, temos que ser mais rápidos que o Flash.

Porque viver o nosso tempo é espetacular, digno de gratidão, de celebração. 

E faremos isso: um grupo de mais ou menos quarenta mulheres que se  conhecem desde pititicas.

Em outubro nós nos encontraremos. 

Tô mortinha de saudades!

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena.
Posted on 1 Comment

TEATRO E CACHAÇA

Hoje pensei em voltar para o teatro ou me afogar numa garrafa de cachaça. Talvez ambas, talvez nenhuma, possivelmente as duas. Envelhecer é uma aventura irreversível e inebriante. Enquanto a alma grita por teatro e cachaça, o corpo respira tranquilo e ofegante. Desequilibrado sigo adiante.

Envelhecer é desviar da gravidade dos dias. Se antes desafiei o horizonte distante em esperanças desastrosas, hoje negocio com o céu que desaba sobre a cabeça. Nem lamento, nem desesperança. A vida é intensa. Apesar do corpo, das desilusões, dos sonhos e de mim, vivo. Desequilibrado, sigo adiante.

Desequilibrado, preciso de teatro e cachaça. Envelhecer é fechar o ciclo e começar de novo. É ver o mundo com os olhos de uma criança. Com a poesia e a pureza de quem faz teatro e bebe cachaça.

Desequilibrado sigo adiante e não tô nem aí para o que você acha o que é fazer teatro e beber cachaça. Inebriado e louco vou vivendo irreversivelmente.

Gil Guzzo –Belo Urbano, é artista, professor e vive carregando água na peneira. É um flaneur catador de latinhas. Faz da rua, das pessoas e da vida nas grandes cidades sua maior inspiração. Trabalha com fotografia de arte, documental e fotojornalismo. É fundador do [O]FOTOGRÁFICO PRESS (Agência de imagens) e professor universitário. Adora cozinhar e ficar olhando distraidamente o mar. É alguém que não se resta a menor dúvida…só não se sabe do que…
Posted on 2 Comments

Envelhecer e se transformar

Minha mãe tem 68 anos e eu 51, minhas filhas 13 e 15 anos, obviamente somos de
gerações muito diferentes, embora a diferença de idade entre minha mãe e eu não
seja tão grande assim temos um estilo de vida muito diverso, ao longo dos anos nossa
convivência passou por muitos momentos conturbados, ela me alimentou, me ensinou
os bons modos, me transmitiu seus valores, me ajudou e eu fui dependente dela por
muitos anos, me revoltei, discuti, reagi e depois voltei atrás e agradeci e conforme fui
crescendo nossa relação se inverteu e em muitos momentos fui eu a quem passou a
ajudá-la em vários aspectos e também a dar sermão, assim, com a idade as relações
próximas vão se transformando e isso está diretamente relacionado com nosso
envelhecimento enquanto seres humanos, nós aprendemos e depois transmitimos
esse conhecimento, agora sou eu a ser mãe e a minha mãe a ser avó e assim vamos
trilhando a caminhada da vida, nossos papéis são outros e com eles outras
responsabilidades, outros saberes.

Tenho sido abençoada em minha trajetória, eu vivi e vivo uma vida cheia de amor e
aventuras, amizades, sonhos realizados, grandes paixões e viagens incríveis e por
isso me sinto muito agradecida, entretanto, houve um tempo que não era assim, foi um
tempo de angústia, pequenas tragédias e muitos lamentos, um tempo que mais
reclamava do que me sentia grata e era o tempo da imaturidade, dos sonhos que não
se concretizavam na rapidez que eu queria, era o tempo da juventude, era o tempo do
desespero quando um namoro era desfeito, de sentir que nunca mais amaria com a
mesma intensidade, era o tempo de bater o telefone na cara dos amigos durante uma
discussão, era o tempo das intensidades, dos desejos vorazes, era o tempo das
longas horas no trabalho e estudar muito e dançar, beber e papear até de madrugada,
era também o tempo das paixões mais intensas do mundo, de amar tanto que o
coração sentia que não caberia tanto sentimento, era querer ficar magra, fazer as
dietas mais malucas e ter muita vaidade, muita energia física, era querer agarrar o
mundo com as mãos.

O tempo passou e já não tenho a mesmo energia, os sonhos mudaram e as paixões
suavizaram, veio a calma e uma alegria mais contida porém mais constante, vieram os
filhos para desconstruir tantas crenças, tudo se transforma com a idade e o lado bom
de tudo isso é que no meio de tantos desafios diários a vida vai explodindo, vai nos
empurrando para descobertas e surpresas que nem podíamos imaginar, obviamente
há perdas, sofrimentos e tragédias, o corpo também se transforma e quantas
mudanças ocorrem mas isso é viver: é doce, é amargo, luz, sombra, alegrias e
tristezas, ás vezes tudo junto, a criança que nasce, o pai que morre e quem tem o
privilégio de envelhecer é porque ainda está por aqui apreciando a beleza dessa
dicotomia. E para terminar cito Lulu Santos: “Hoje o tempo voa amor, explode pelas
mãos…e não há tempo que volte amor…vamos viver tudo o que há prá viver, vamos
nos permitir.”

Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.
Posted on 1 Comment

Atravessando a rua

Desde a maternidade vinte anos se passaram… chegou o dia.

Atravessamos a rua, juntas de mãos dadas… essa hora fechei os olhos e era ela pequenininha, criança, pedindo para ficar… quanto tempo essa mão não se juntava com a minha.

Sim, atravessamos a rua e a deixei na porta do seu apartamento. Sim! No apartamento dela.

Minha gaganta deu um nó, olhei para aqueles olhos, o mesmo olhar da maternidade assim que abriu os olhos. Nos abraçamos… coração apertado, me vi em prantos e disse a ela, a essa linda moça: desculpe por não ter sido. Mas sim! Sou sua mãe, sempre sua mãe.

E o que posso dizer a ela?

Que siga em frente, coragem que a sua estória está apenas começando e estarei contigo na jornada da vida, lado a lado te protegendo e te libertando. A vida é bela minha fofolete.

Macarena Lobos –  Bela Urbana, formada em comunicação social, fotógrafa há mais de 25 anos, já clicou muitas personalidades, trabalhos publicitários e muitas coberturas jornalísticas. Trabalha com marketing digital e gerencia o coworking Redes. De natureza apaixonada e vibrante, se arrisca e segue em frente. Uma grande paixão é sua filha.
Posted on Leave a comment

Mulher invisível

Hoje saí para caminhar de short verde alface e blusa branca, passei pelo meio da feira. Ninguém me notou, já foi tempo.

Esse mesmo já deixou marcas por dentro e por fora.

Sou da época dos contos de fadas e príncipes encantados em cima de cavalos. Cedo, cedo percebi que os príncipes são os cavalos.

Na primeira paixão, aos quinze anos, no primeiro encontro num belo cenário, uma praia, esperei ansiosa pelo beijo romântico e o que senti foi bem diferente e assustador naquele momento; algo quente em minhas pernas me tirou do feitiço… mal sabia que esse “algo quente” viria vida a fora travestido de bancários, banqueiros, artistas, pretos, brancos, chatos, interessantes, hora estúpidos, hora geniais… muitos, até chegar a grande paixão, achava eu. 

Iludida e feliz, fui ao longo de cinco anos. Duas filhas, por fim, apenas uma história de amor, mal sucedida para mim. Ficaram a experiência e dois verdadeiros amores.

Logo a vida se encarregou de colocar mais desencantados no caminho. E novamente me apaixonei por um ser complicado. Solitário, mais velho. Eu achava que iria transformá-lo com o meu amor. Como solitário era, entrava e saía da minha vida sem pedir licença, eu permitia, claro. Até um dia, um basta e resolver viver à toa. À toa no banco da praça, à toa na cama, à toa na grama. E num desses “à toa”, ele me flagrou e resolver se declarar na mesa de um bar aos prantos. Hora, hora, quem não cairia. Caí.

Mudei de malas e filhas para outra cidade atrás desse amor, como estava feliz. Vida seguindo, adaptação e logo percebi que ele conseguia apenas fazer uma coisa; seu mestrado. Eu, as outras 999, para vivermos aquela história. Claro, cansei e saí com duas filhas e mais um dentro da barriga.

Agora o tempo era para filhos, filhos e filhos. Era muito feliz, homens, só o que cortava gramas e os entregadores cruzavam apenas o portão. 

Ainda fui tropeçando com alguns pelo caminho até envelhecer e me tornar invisível aos olhos deles.

Há poucos meses atrás ainda dei uns suspiros ao encontrar numa trilha um ser bem apessoado, belo sorriso, simpático. Estávamos procurando uma pequena queda d ‘água e ali nos identificamos; natureza, caminhadas, divórcios, filhos, solidão. A conversa ia bem até que ele invocou um deus e eu falei da minha descrença, o resto dos vinte minutos desse breve convívio, foi o sujeito tentando me convencer do contrário. Terminou após encontrarmos um belo despacho de frutas e eu querendo pegar um maracujá. Não… não… eu compro um abacaxi pra você. Como? Suficiente.

As amigas me chamam amarga. Discordo, me chamo realista e respeitosa com todos. Os homens não são meu foco agora. A estrada foi longa com muitos bons e ruins encontros.

Continuo nas minhas caminhadas, cruzando olhares e aceitando que a minha invisibilidade para eles, hoje não me diz nada. Sou visível para quem me quer visível!

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.