Coitada da Torre Eiffel
Que faça chuva ou faça neve
Brilha
Todas as noites
Tem que estar sempre
Completamente
Inquestionavelmente
Impecável
Que não pode nem por um segundo
ser menos que perfeita
Ninguém perguntou se ela queria estar lá
Exposta
Nua
A todos os momentos da sua vida
Apenas seu exterior sendo admirado
Sem ninguém nunca questionar
Como ela se sente
De onde veio
Para onde gostaria de ir
Todas as noites
Não importa o que ela pense
Ela brilha
Pro mundo todo
Está sempre de cabeça erguida
Infalível
Brilhando
Sem ninguém sequer ter indagado
Se era isso o que ela queria
O livre arbítrio brutalmente
Tirado de suas mãos
E todas as noites ela brilha
Pontualmente
Não importam os rostos feios encarando
Ela brilha
Só se tem certeza da morte
E que de hora em hora ela estará brilhando
Para todos
Menos
para
ela
Seu destino irrefutavelmente fora do seu alcance
Apenas um objeto de admiração
Incontáveis
Turistas
Desconhecidos
Estranhos
Todas as noites
Invadindo seu espaço
Sem questionar
Sem pedir
Sem permissão
E mesmo assim
Todas as noites
Ela estará lá
De ferro
Encantadora
Prestativa
Pontual
Sem jamais se queixar
Brilhando
– este não é um poema sobre uma torre