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Voltar

Há um momento que vivi anos e anos atrás que segue viívido em mim: fui fazer minha segunda faculdade distante 450km de casa.
Na primeira vez que voltei, já era noite, parei o carro “embicando” no portão e, nesse momento, numa coincidência carinhosa da vida, começou a tocar no rádio “O Portão”, do Roberto. Foi forte. Muito forte o sentimento que, sem pedir licença, tomou conta de mim.

Era a primeira vez que eu tinha saído de casa. Era a primeira vez que estava voltando.
Cheia de novidades, de saudades, de tagarelice desmedida, eu voltei.

Ainda não era prá ficar.

Abri o portão, guardei o carro, fechei o portão e entrei. Naquele momento ainda não fazia a menor ideia da repercussão emocional que este simples ato teria na minha vida mais de trinta anos depois.

E assim o tempo foi passando, acabei a faculdade, comecei a trabalhar, mudei de cidade, conheci pessoas muito diferentes e muito iguais, aprendi a exercer minha profissão.

Após um câncer do meu pai, nós fomos morar juntos novamente.
Papai faleceu, minha mãe e eu tivemos mais vinte anos de convivência. Amigas, cúmplices, apoiadoras.

Aí aconteceu uma doença grave que me jogou num leito hospitalar por dois meses. Precisei reaprender a sentar, engatinhar, até finalmente andar.

Então comecei a voltar. Assim, sem pensar. Deixando acontecer. Hoje eu sei. Entendo. Agradeço.

A gratidão começou a ganhar uma dimensão imensa. Grata ao amor que pude sentir, às pessoas que tiveram paciência ao me esperar encontrar o caminho de volta.
Isso gerou força capaz de abrir o portão. Os portões. O cadeado foi quebrado.
Mas ainda sem perceber o processo que se desenhava.

Minha mãe também faleceu.
Minha aposentadoria chegou.
E eu lá, sózinha em São Paulo.
Ô cidade cruel com os sozinhos!

Foi então que decidi voltar para o interior, onde tinha uma parte da família – a parte de laços fortes.
E portões.

Comprei meu apartamento, vivi meses incríveis neste recomeço..

A alegria foi perdendo a forma, cedendo lugar a novas percepções, algumas decepções.

Passei a ficar muito comigo mesma.
Com minha vida vivida inteira à disposição para reflexões , entendimentos, reformulações. Não mais intuitivamente, mas foi com um misto de garra e medo comecei a vislumbrar as frestas. Ensaiando voltar.

E durante a pandemia, após 45 dias completamente isolada, comecei a voltar. Pra mim. Por mim.

E a música insistia “…. acho que só eu mesmo mudei e voltei…. agora pra ficar…”

Tem sido muito bom e difícil abrir o portão e voltar. Decidir quando fechá-lo. Para quais caminhos não voltar. Quais repavimentar. Pra poder voltar. Em paz.

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena.
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Um dos locais mais agradáveis da capital paulista.

A dica da estação é o Parque Ibirapuera, que além de ser um dos locais mais agradáveis da capital paulista, reúne um bom exemplo das opções culturais em artes visuais na cidade de São Paulo. Criado como um presente para a capital paulista no seu quarto centenário em 1954, o conjunto de prédios e marquise projetados por Oscar Niemeyer, e os jardins projetados por Roberto Burle Marx, trazem dentro deste espaço ótimas opções de contato com as artes.
Até 06 de dezembro a 31ª Bienal Internacional de artes de São Paulo, apresenta uma seleção de artistas de várias nacionalidades, e só pela sua importância se torna um programa obrigatório, mas cuidado vá com calma, porque não dá para ver tudo de uma vez só.

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MAC no Parque Ibirapuera

Já o novo MAC Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, que ocupa o edifício do antigo DETRAN, está repleto de mostras, e uma instalação imperdível do artista Henrique de Oliveira. Além disso, é obrigatória a visita ao terraço, que se torna atualmente uma das mais belas vistas da cidade.

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Instalação Henrique de Oliveira

A OCA apresenta por sua vez uma bela exposição em comemoração aos 60 anos de criação do próprio parque Ibirapuera, e outras mostras, que valem o passeio por este edifício tão singular e característico.
Na outra extremidade da marquise o museu Afro abre suas portas para uma infinidade de referencias fundamental para formação do nosso povo.

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A OCA no Parque Ibirapuera

Por fim, um simples passeio, ou sentar na grama numa bela sombra já valem o passeio pelo parque, que pode ter seu momento de contemplação absoluta numa visita ao jardim do pavilhão japonês.
Depois de um a tarde cheia de opções, sentar a beira do lago e ver a dança da fonte luminosa do lago do parque vale para fechar o dia com um cenário perfeito e no mínimo romântico.

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Jeff Keese é arquiteto, produtor de exposições de arte, e durante 7 anos foi consultor do mapa das artes de São Paulo.