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Cadê todo mundo?

-Onde está o pessoal?

-Que pessoal?

-O pessoal que estava aqui. Já foi todo mundo embora?

-Não tinha ninguém aqui… estamos só nós dois.

Ele olha confuso para ela. Ela olha para ele com um sorriso triste.

Já faz alguns anos que ele vem perdendo a noção do que se passa ao seu redor, perdendo sua memória e sua identidade. Quem sabe por onde andarão seus pensamentos?

O médico lhe disse que agora ele tem a mentalidade de uma criança de 5 anos. Ela já não é mais a sua esposa; é sua mãe, ou sua avó!

Ela se pergunta indignada: Por que isso foi acontecer com ele? Mas está cansada, e logo resigna-se: É melhor aceitar e aprender a conviver com esta nova realidade.

Seus filhos moram longe e contrataram uma cuidadora para passar as noites com eles. Ela não gosta de ter estranhos em casa, mas aceita, porque entende que precisa de ajuda.

Às vezes ainda sonha em realizar coisas, sair, viajar, mas sabe que não pode deixá-lo sozinho, e não quer que estranhos cuidem dele sem a sua supervisão.

Todos os dias parecem iguais. Dias de semana e de fim de semana se confundem.

Ela liga a TV para assistir as notícias. O mundo está louco! Coisas estranhas acontecendo. Há assuntos que já não consegue acompanhar mais. No jornal local, ela lê o nome de mais uma pessoa conhecida nas notas de falecimento.

Gosta de cuidar de suas plantas – vê-las vicejar e florescer lhe dá prazer. Também se distrai com o gato, que roça suas pernas, pedindo comida ou carinho.

No feriado, seus filhos vêm visitá-los. Ela fica feliz por isso. Os dias por fim são diferentes e mais interessantes! Mas eles não podem ficar muito tempo; têm seus compromissos, seus trabalhos, suas famílias para cuidar.

Quando os filhos voltam para as suas vidas, a vida dela volta à mesmice de sempre, e a espera pela próxima visita recomeça.

Aí ele lhe pergunta de novo: Cadê o pessoal? Cadê todo mundo?

E ela responde: Já foram todos embora. Agora somos só nós dois…

Anônimo – Escrito pelo filho(a), é um conto, mas baseado nos fatos reais
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Aceitação do envelhecer

Contribuindo na exploração do tema Envelhecer, acabei de completar 60 anos e me dei conta que “os anos passaram”, mais cronologicamente do que fisicamente. Digo isso porque após a tal aposentadoria, puxamos o freio e vamos fazer o que realmente nos faz feliz, que no meu caso: cuidar da saúde como um todo, que também inclui  cozinhar.

O cuidado com a saúde envolve aspectos físicos como a própria atividade física e alimentação, como também aspectos emocionais. Temos tempo agora, depois de filhos criados e encaminhados, de voltar o olhar para nós e perceber que somos e podemos ser falíveis.

Me dei uma viagem de 60 anos e percebi que já tinha algumas limitações / cuidados, comparados a viagem de 5 anos atrás: carregar a mala, o peso da mochila, a organização da documentação, a exploração dos locais em um único dia, a preocupação com alimentação melhor, a necessidade de hotéis e não hostels…

E comparado a minha mãe de 87 anos, que julgamos gozar de boa saúde, percebemos que “as falhas” estão chegando de mansinho e esse “mansinho” impede que ela as perceba. O discurso agora é com o cuidado de fazê-la entender que “é normal”: Que os esquecimentos e confusões virão, que o joelho /quadril vai doer, que as extremidades vão formigar, que a fome não vai aparecer em algumas refeições, que a solidão vai bater…enfim, que a “máquina” está dando sinais de  “prazo de validade”. Não é questão de esperar a morte, é saber e entender que ela é a coroação do percurso, é questão de entender com gratidão, a  “missão cumprida”.

Aproveito todas as situações e digo aos que estão comigo: nessas situações, me ajudem a ser leve, me falem sobre o processo que está acontecendo comigo “até que eu entenda”, aceite, corrija, enfim…fique em paz com a realidade.

Aceitar o envelhecer é sinal de gratidão! Sinal de uma vida bem (ou nem tanto) vivida, mas com o privilégio de passar pelas etapas, pelas gerações… Sejamos leves e amemos sem acepção, sem julgamento. Simplesmente amemos e sejamos gratos por cada amanhecer!

Edna Prado Gonçalves – Bela Urbana, administradora de empresas, consultora em pesquisa de mercado na Neometrics, signo leão, ama cozinhar. Apaixonada pela vida (resume tudo)!
e-mail: ednamaio13@gmail.com

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Olhos de amêndoa quando perde a casca

Quando era garoto, imaginava que, ao chegar na oitava série, seria grande, pleno e responsável. Quando cheguei à oitava, pensava que aos dezoito teria uma apoteose: serviço militar, habilitação, vestibular etc. Seria esse o ápice da minha imaginação.

Quando cheguei aos dezoito, imaginava que a fase adulta chegaria aos vinte e seis. Aos vinte e seis pensava que seria pleno aos trinta, trinta e cinco… aos trinta e cinco entendi que a vida começaria, talvez aos quarenta, mas não tinha tanta certeza.

Cheguei aos quarenta e passei dos quarenta. Estou com quarenta e um e observo: jovens de trinta, trinta e cinco anos procurando emprego ou trabalhando horas a fio para pagar prestações infinitas. Percebo jovens de vinte e cinco com fé em promessas vazias de riqueza nas redes sociais. Os adolescentes dos “dezepoucos” e as crianças me parecem que terão um desafio enorme pela frente para sobreviver e preservar o resto de planeta que minha geração irá deixar.

Parece que perdi a esperança, mas na realidade, sairam as cascas de amêndoa da ilusão que turvaram meus olhos. Percebi que envelheci e não me dei conta.

Essa casca me fazia pensar que ainda era um jovem, que, esperando o momento épico, perdia alguns pequenos momentos bons. Mas entendi que não posso parar no tempo, projetando da minha imagem a um ideal que ainda vou construir. Minha imagem é o que sou agora, é a que tenho e com ela farei meu melhor.

Falar de envelhecer aos quarenta e um parece uma bobeira, mas entender que envelhecer ocorre desde que nascemos, e poder acompanhar minha evolução me faz degustar as delícias e dilemas do momento presente, evitando esperar pelo tempo certo para viver. O tempo passa, e só é implacável para as rugas e para quem não percebe com doçura seu surgimento, degustando o sol do momento presente bronzeando a pele.

Conversando com minha companheira, concordamos que hoje a visão da passagem do tempo em nossas vidas nos diz mais de como vamos nos cuidar para ter saúde plena e atividade que de fato, realizar aquelas maluquices que fazíamos tempos atrás. Queremos estar vivos e plenos no futuro.

A morte vem depois do último instante de vida. Só espero que possa estar vivo no dia da minha partida, vivo ao ponto de no último segundo, saborear tudo que ficará por aqui, enquanto fecho uma porta para a história e sigo ao infinito.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.

Crido

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E agora? É Doença de Alzheimer!

Toda primeira quarta-feira do mês costumo almoçar na casa de meus pais. Dessa vez estranhei quando minha mãe comentou a me ver: “- Por que não avisou que viria? Eu teria feito algo especial” “Mãe, nos falamos ontem!”

Observo que ela está muito calada e pergunto para meu pai se aconteceu alguma coisa, ele responde que minha mãe resolveu ter ciúmes dele depois de velha!

Meu irmão intervém, contando que brigou com ela, pois há 15 dias ela só faz arroz, feijão e frango, não varia a comida e agora cozinha sem sal.

O ápice de meu desespero foi quando a vizinha me chamou e avisou que devo levar minha mãe ao médico, porque esses dias a encontrou perdida na padaria sem saber voltar, fala sempre as mesmas coisas e esquece-se de compromissos.

 Depois de várias consultas, exames, avaliação neuropsicológica veio a sentença: Doença de Azheimer! E agora?

Olá sou Sandra Schewinsky psicóloga e neuropsicóloga e conto essa historia para vocês, que acontece em vários lares.

A primeira coisa que a família precisa fazer é buscar o diagnóstico correto, pois existem tipos diferentes de demências e alguns problemas de saúde que parecem demência, mas não são e com tratamento a pessoa pode melhorar.

Outro ponto importante é ficar atento aos comportamentos, nem sempre os primeiros sinais são a perda de memória clássica, mas sim alterações de comportamento que ocorrem pelas alterações cognitivas, a pessoa pode começar a mentir, mas na verdade ela cria outra história porque não lembra da original, pode ter ciúmes, ficar mais sexualizada, mais brava ou apática. A dica é mudou muito o jeito de ser LEVE AO MÉDICO!

Diagnóstico feito, isso não significa o fim do mundo, a família precisa buscar o máximo de informações sobre a doença, existem cartilhas, associações e muitos profissionais experientes para ajudar, inclusive no SUS.

O conhecimento ajuda a lidar melhor com a situação, mas não aplaca os sentimentos que são mistos de tristeza, dor, raiva, falta de paciência com o doente, gastos inesperados e sobrecarga de afazeres. Tanto o cuidador mais próximo como outros membros familiares vão precisar de apoio, quer seja profissional, quer seja de pares.

A sensação é de perder a pessoa em vida, ou seja, a mãe que acha que a filha é sua mãe, o esposo não reconhece a esposa e diz que jamais se casaria com uma “velha”, o irmão que urina no guarda-roupa ao invés de ir ao banheiro, o silencio, a dependência, a limitação, a confusão. São situações de sofrimento para todos e muitas vezes o estresse faz com membros da família briguem e se afastem o que só piora a situação.

Por isso procurem ajuda! Mesmo que a Doença de Azheimer não tenha cura, ela tem tratamento e isso pode melhorar a qualidade de vida de todos, inclusive da família.

Sandra Schewinsky – Bela Urbana. Neuropsicóloga: É super bem humorada!
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78 anos de idade

78 anos de idade, não 78 primaveras, porque a primavera só inicia no dia 20 e seu aniversário e no dia 17;
Eu, impaciente, pacientemente pergunto, baseado na série das Belas Urbanas, o que é envelhecer para você?
A resposta não poderia ser direta, os anos de vida e os diversos exercícios para o cérebro, trazem cruzamentos e vielas em uma resposta que deveria ser uma avenida direta, mas hoje ouço, não interrompo, me interesso, como em um verso solto, a voz rouca e pausada começa a compor uma melodia, não a versos e nem prosas, apenas sabedoria;
Filho, inicia lentamente, para mim houve dois momentos pungentes, o casamento com a sua mãe, amor improvável, permanece perene e o nascimento dos meus filhos, permanente e presente, olhos atentos aos movimentos, me orgulho, não interrompo, escuto, penso e leio as entrelinhas. Pergunto, você se considera um homem realizado? A resposta composta, nasce com outra pergunta sorridente, materialmente? Claro que não, espiritualmente, ainda luto por um lugar ao sol;

São tantas experiências que os cabelos brancos e os traços do sorriso, cravejado de rugas, me fazem perder a atenção;
Tão longa estrada, com objetivos tão diferentes dos meus, tão esforçado estudo, para encontrar o caminho que um dia a alma perdeu, tantos sorrisos e tantas razões para desistir, mas seguir em frente foi o que te moveu ;

A pouco tempo procurava motivos para colocar a culpa dos meus erros no seu eu;
Tentando justificar a expectativa que eu criei, de querer ser mais seu, de querer ter mais eu, fantasia de mídia que o tempo e a maturidade entendeu;

Hoje vejo seu sorriso, a fragilidade do seu corpo, os seus pensamentos devagantes e percebo, tudo foi parte do que deveria aprender;
Não sou grande, muitas vezes ainda me sinto menino, ainda preciso de atenção, mas compreendo que tudo na vida tem uma razão.

E se me perguntarem em outro momento qualquer, o que é envelhecer, direi sem pestanejar, envelhecer é encontrar um caminho de sabedoria, de valorizar o que tem de melhor, se ver aonde de verdade está guardado o ouro, de ser pai do seu pai, de viver um pouco melhor;

Hoje é seu aniversário e não existe presente que poderia pagar, obrigado pelas alegrias, nesta encarnação ou em outra sempre quero te encontrar.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.

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Parabéns pra mim

5.5… motor poderoso, 55 hum… faz pensar… ah! ainda na flor da idade, porém, com mais 5, terceira idade…

Acordei dessa vez não dá maneira como todo ano desejo, com presente do filho, abraços e beijos. Acordei berrando, logo às seis horas manhã, gritando de pavor. Meu filho saiu do quarto zonzo me ouvindo berrar e lá estava um presente… em mim… estendido… (eu costumo emendar músicas conforme escrevo)… E veio essa… “tá lá o corpo estendido no chão”… nesse caso no colchão, em cima de mim.

Mau presságio?

O tal corpo, era um passarinho morto, meu cachorro depositou em cima de mim, na minha cama. Presente ou mau presságio? Do filho não ganhei beijos e abraços na primeira hora, mas uma bronca porque ele está de férias e quer aproveitar o sono até mais tarde e acordou assustado com meu berro.

Corri e fui me consultar com Madame Zoraide e segundo ela: Como diz o ditado popular “Cavalo dado não se olha os dentes”, e continuou seu conselho: “Além do mais, presente é presente sempre, PRESENTE, entendeu?”.

Fiquei pensando e acho que entendi, Madame Z. realmente sabe tudo e me deu um sábio conselho nesse meu dia e eu concluo que o TEMPO é o Senhor da Sabedoria, da paciência, da compreensão, então, vamos olhar com mais positividade pequenos acontecimentos.

Gratidão pelos 5.5 ou 55. O que importa é brindar esse presente que é a vida!

PS.: Ah, só para registrar, adoro receber parabéns, hoje é meu dia que dia mais feliz… Eu aqui de novo lembrando de músicas.

Daniella De Sá Andreoli – Bela Urbana, virginiana, mãe, proprietária da D&E Corretora de Seguros, adorar viver a vida intensamente, adora gastronomia, teatro, estudou exatas, mas se pudesse viveria de SOM, MAR e LUZ.
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Minha idade

Espera, que audácia, absurdo, obscuro, e mudo, ouço pedir que escreva sobre o que é envelhecer… como pode, agora ela irá ver.

Deixe-me achar meus óculos, não sei direito onde os coloquei, terei que levantar neste vento frio, já é bastante tarde, passando das vinte e uma horas meus ossos doem um pouco e também quando o tempo muda.

Sem querer, me levanto, distraído pelo barulho do vento, me pergunto: O que era mesmo que iria fazer? Sim, algo em torno dos meus óculos ou alguma coisa sobre envelhecer.

Paro na frente do espelho, a barba branca, algumas, muitas rugas que insistem em nascer, tem agora um tal de “butoxe” que pode as rugas esconder, me recordo calado que o meu primeiro neto furou a orelhar. Como pode? Ele já tem nove anos e além dele, ainda tenho mais dois.

O vento continua a soprar na minha janela, melhor me deitar, mas aonde está mesmo meus óculos. O que queria fazer? A sim, escrever!

Foi aquela moça do Belas Urbanas que falou sobre a velhice, ela é tão bacana, talvez eu ficar bravo seja mesmo tolice.

Afinal, não é tão ruim envelhecer, eu estava lá nas Diretas Já, vi Jânio Quadros varrer, vi Collor abrir o mercado, vi o Brasil florescer.

Se pensar bem, talvez eu esteja mesmo um pouco mais adiante, talvez já não corra mais a maratona, mas aprendi degustar um vinho como ninguém, talvez eu não dance mais aquela balada, mas o cheiro dos livros me leva muito mais além.

Então, olha que bacana, o tempo passou e envelheci também, talvez um coração de criança, talvez a maturidade que se tem, mas não escondo a minha idade, apenas não conto para ninguém!

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela Mulher sorrindo
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O ENVELHECER – felicidade e amor incondicional

Como a natureza é sábia, além de bela! O ciclo primavera, verão, outono e inverno nos ensina que tudo nasce, cresce, floresce e/ou frutifica, perde o viço e morre.

Num fluxo incessante, tudo tem começo, meio e fim e, na natureza humana, o começo e o fim têm muito em comum.

Em linhas gerais, as crianças têm leveza, são engraçadas, gostam de brincar e de ver TV, são sensíveis, ficam com a cabecinha “no mundo da lua” e precisam de ajuda para realizar algumas tarefas. Com os idosos isso não é diferente, daí o grande encontro e grande química entre avós e netos que, para mim, representa um dos encontros mais poéticos de nossas vidas.

Ser avó (ou avô) é um dos maiores privilégios que podemos experimentar em nossa existência.

Eu não pactuo da ideia de estragar os netos, dando-lhes doces ou deixando-lhes fazer o que não podem fazer em casa. Se quero dar sorvete a eles, peço aos pais para abrirem a exceção para a vovó e está tudo certo.

Meus netos dizem que sou ‘maluquinha’ e eu adoro que essa seja a imagem e a lembrança que carreguem de mim, para a vida deles. Faço muita farra, jogo bola, falo ‘abobrinhas’, com muitas micagens, invento histórias e músicas sem pé nem cabeça, testando-lhes o intelecto, a criatividade e o senso de humor. Com isso, os faço compreender o significado de felicidade.

Os netos dão sentido ao envelhecimento. Nada é mais gratificante do que chegar à porta da casa deles e escutar um grito entusiasmado: VOVÓ!!! e sem refletir sobre sua idade, seu peso ou limitações, se arremessarem ao seu colo, num forte abraço. Com isso, eles me fazem compreender o significado de amor incondicional.

Tudo isso me permite concluir que envelhecer vale a pena.

Marisa da Camara – Bela Urbana, Administradora aposentada, que hoje atua em suas paixões: a escrita e a radiestesia. Crê nas energias da natureza e é amante da vida, dos seres humanos e ‘doidinha’ por seus 4 netos.

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Projeções para a velhice

Antes de mais nada um spoiler: “quase todo mundo vai ficar velho e morrer no final.” Quantas músicas do cancioneiro popular brasileiro tratam da velhice. A ideia de olhar a idade avançada como um peso é comum. Porém, a boa idade sempre vai trazer muitas superações e conquistas, bem como o entendimento de muitas abstrações aprendidas nas etapas mais jovens da vida.

Uma vez participei de uma enquete sobre envelhecimento e constatei que eu tinha uma admiração pela velhice. Uma curiosidade sobre como seria envelhecer. Acho interessante ambicionar a sabedoria serena de um preto velho.
Lembro do “Seo Antero”, um apelido que ganhei quando fui vocalista de uma banda de rock. Era por causa de um pullover que eu usava e ficava parecendo um velho, só faltava a boina, rsrs. O “Seo Antero” era o meu alter ego quando velho. Era uma projeção que os amigos da banda fizeram para quando eu fosse idoso. Um jovem com alma de velho. Entendi que deveria evitar subir no palco com aquele pullover, afinal, naquela época rock’n roll era música de jovem.

De acordo com o Seo Antero envelhecer é sério. Para ele envelhecer bem talvez fosse envelhecer com alma jovem. Jovem de alma? Se você tem que ficar jovem na alma é porque é melhor ser jovem. Entendo perfeitamente a força de expressão “velho com alma jovem”. Entretanto, penso que aí nessa locução “velho com alma jovem” reside uma problemática interessante.

Os velhos adquirem manias que, na idade em que estão podem transformar-se em T.O.C.’s, em tiques, em excessos, em hábitos, em virtudes etc.

Imagino o Seo Antero falando sobre seu estado de saúde:
“Hoje estou precisando de ajuda. Minhas artroses e hérnia de hiato estão dando trabalho. Muita tosse quando deito à noite. Continuo na mesma, mesmo tendo tomado um monte de remédios essa semana. Estou sem voz e dormi muito mal esses dias. As noites têm sido difíceis. Melhorei um pouco mas parece que as secreções estão se acumulando na garganta; não sei se na traqueia ou mais pra baixo. Será que são sequelas da COVID? Preciso ficar quieto em casa. Envelhecer não é gostoso. As dores começam a chegar para ficar e tem que ter muita paciência.”

Passar a ver a vida com mais paciência é uma vantagem de envelhecer. O difícil é manter a paciência, porque paciência também tem limites. Nesse e em muitos outros aspectos a relação entre envelhecimento e maturidade é forte. Desejo uma velhice com leveza. Mas ainda não encontrei o segredo para atingir essa meta. Se alguém souber me avisa!

Penso também que vamos caindo de moda e ficando ultrapassados. No processo de envelhecimento começamos a perceber a vida que era cheia de gente mais velha passa a ter mais gente jovem. Aos poucos, pessoas que considerávamos velhas, são quase da nossa idade ou mais jovens. Fica mais difícil identificar os mais velhos que nós e as idades vão se equalizando. Pessoas com sessenta anos que estão mais próximas da nossa idade.

Pensar na velhice como melhor idade é um desafio. Juntam muitas vibrações acumuladas ao longo da vida. Elas podem começar a doer. Então, é muito bom idealizar uma velhice tranquila. Um velho com alma de jovem é uma boa opção, mas não a única. É engraçado pensar que aos quarenta anos muita gente já se considera envelhecida. Quanta gente jovem na faixa dos quarenta! Aos ciqüenta nós ainda estamos em pleno jogo, aliás na flor da idade para pensar no passado, viver o presente e sonhar com o futuro.

João André Brito Garboggini – Belo Urbano. É publicitário, ator e diretor teatral e tem três filhos.
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Em Busca das Terras Abandonadas

Da estação de trem era possível ver as imensas colinas que pareciam encobrir a cidade com um manto verde de natureza e beleza. Afastado de tudo e de todos, o lugar parecia ter uma vida própria quase como se quisesse preservar algo que poderia ser perdido. Entre costumes tradicionais e um ensaio de civilização, a cidade só sentia medo de uma história que rondava os quarteirões. A bruxa das Terras Abandonadas, lugar que ninguém ousava ir, era uma entidade misteriosa que parecia sempre estar por perto, mas nunca se materializava. Diziam que ela pegava as pessoas às escondidas e roubavam seu coração, porém ninguém havia ainda confirmado essa história. Na verdade, a bruxa das Terras Abandonadas parecia ser mais uma lenda do que um mal para sociedade.

Como todo mistério da vida, a temida bruxa um dia chegou à pequena cidade disfarçada de uma senhora rica e elegante em seu belo vestido roxo. Quem a via, pensaria que era uma turista que visitava a cidade para fazer compras, mas suas intenções eram mais profundas do que comprar as roupas exclusivas do lugar. Sua função era mostrar um pouco da realidade que não se vivia ali.

Ao entrar na única chapelaria do lugar, a bruxa disfarçada encontra Sophie, uma jovem de 18 anos tímida e de pouca expressão. Ela seria sua vítima nesse momento lançando a ela um feitiço inquebrável da qual não poderia nem ao menos falar sobre ele, já que seus lábios seriam selados magicamente cada vez que tentasse. Sophie é transformada em uma mulher de 90 anos, de saúde fragilizada e que não teria como explicar a seus familiares o que tinha acontecido. A a bruxa das Terras Abandonadas a tinha encontrado apesar de todo o cuidado que tinha tido em não se expor demais. Nada havia adiantado. Fora pega e agora precisava deixar sua casa, o único lugar que tinha para viver, para sair rumo ao mundo na delicada condição de idosa.

A história de Sophie brilhantemente retratado no filme O Castelo Animado é uma metáfora de uma das condições mais caras à vida, porém das mais importantes em termos de conhecimento e consciência: a passagem do tempo e o envelhecer. De imediato, já destaco que todas as palavras que fazem parte desse vocabulário são lidas na sociedade como palavras negativas uma vez que o movimento para que se retarde o que se chama de velhice ganhou muita força nas últimas décadas. Dessa forma, vivemos no sentido de se evitar essa condição e deixamos de lado, portanto, uma série de conhecimentos essenciais a nós mesmos em nome do medo de uma suposta fragilidade da vida.

É curioso como eu aprendi a ter uma leitura negativa dessas palavras. Quando criança, lembro que sempre gostava de ficar perto das pessoas mais velhas ao invés de brincar com aqueles que tinham minha idade. Isso porque as pessoas adultas ou mesmo as idosas transmitiam a mim uma sensação de poder, de autonomia e de um exemplo a ser seguido, algo que as crianças não podiam me oferecer. Então aprendi por mim mesmo que as pessoas mais velhas deveriam ser meu norte, mas as experiências com o mundo alteraram essa percepção de forma tão doentia que hoje me esforço para resgatar um valor que deveria ser introjetado de forma natural.

Quando ingressei na realidade da vida, de forma forçada eu diria, as pessoas pareciam ter um senso sobre ser velho que desfigurava de tudo o que pensava. De repente, o discurso das pessoas chegava até mim afirmando que ter 30 anos era ser velho e a experiência de vida acumulada das pessoas era insignificante para o mundo “maravilhoso” que temos agora. “Tanta tecnologia e ainda havia pessoas que não tinha se adaptado a isso. Pobre delas. Que fiquem em casa se não são capazes de estarem no mundo da forma como nós estamos. Que gente chata e imprestável que atrapalha o andamento das coisas e ainda exigem direitos”. Tantas foram as atrocidades que ouvi que eu também, sem perceber, comecei a temer essa condição e me pautava nos “modelos” tidos como referência. O mais triste disso tudo é que mesmo depois de entender a maldade desses ditos padrões, nunca consegui me libertar completamente deles. Isso porque a subversão da ordem natural da essência humana foi violada de maneira tão agressiva que me adoeceu permanentemente e, portanto, não tenho mais como voltar a uma condição natural de aceitar a vida e suas nuances. Triste realidade ser atacado por valores que nem são meus em nome de não sei exatamente o quê. Acho que é para nos tirar a paz, a alegria da vida e a sabedoria de vivê-la não na felicidade, mas de maneira mais relaxada. Com tantas sombras rondando nossas próprias vidas, venho me perguntado se, de verdade, temos o direito de envelhecer.

Para os mais pragmáticos e politizados, adianto que não estou falando de empregabilidade, saúde da terceira idade ou previdência. Admito a importância de todas essas questões, mas acredito que para podermos falar sobre elas, precisamos antes refletir sobre pontos ainda mais importantes que diz respeito sobre estarmos nessa vida e o quanto podemos fazer por ela. Tenho assistido de perto algumas transformações que considero bizarras, mas que é visto pelo mundo como um novo valor a ser seguido que é a imagem da juventude não como sinônimo de beleza e vigor, mas de sabedoria e exemplo.

Quando era adolescente, sempre me imaginava que quando fosse mais velho queria ser um exemplo de conhecimento e sabedoria de vida. Torcia para que as pessoas buscassem em mim tudo o que havia aprendido para que parte desse conhecimento não se perdesse, mas impressionantemente na profissão de professor vejo o inverso disso com as pessoas mais jovens ignorando o que tenho a dizer. Sai a imagem da maturidade fortemente ligada à sabedoria e à competência para dar lugar à imagem de um rapaz de 22 anos de barba rala e mochila nas costas almejando ser o próximo CEO milionário. Que sentido faz isso? Ninguém deseja mais trilhar o caminho do conhecimento e quando o faz é de forma superficial e fútil. Consomem somente o que lhe convém e formam sua opinião não por aqueles que passaram por esse caminho, mas por um vazio de conteúdo que não vem de nenhuma fonte e tecem um modelo de sociedade fadada ao fracasso. Para mim, fracasso é não viver a trajetória da vida. É não perceber quanta coisa interessante pode ser aprendida no caminho se nos permitirmos viver. Admito que, assim como muitos, está difícil de livrar dessa doença já que ela se enraíza profundamente impedindo de nos exercer.

Há muitos anos atrás, fiquei sabendo da morte de uma amiga de infância que sofreu um acidente de carro quando tinha 21 anos. Todos no veículo sobreviveram menos ela. O mais triste desse episódio é que dia antes, ela havia dito que preferia morrer do que se casar com o noivo, pois seria infeliz a partir daquele momento. Ela morreu justamente no carro de seu noivo quando ele estava na direção. A Suellen perdeu a chance de viver a progressão da vida, de conhecer as emoções, de simbolizar suas existências e suas perdas e não alcançou a potência da vida em seu máximo. Mesmo assim, aqueles que têm essa oportunidade a desprezam por acharem vulgar demais, depreciativa demais, falha demais.

Não repetirei a ideia do senso comum em dizer que o mundo está passando por uma inversão de valores, até porque não acho que isso esteja acontecendo. Isso já aconteceu. Por isso, não me resta muito a não ser buscar um pouco de vida em valores mais sólidos, mas de maneira particular, em silêncio. A essência da vida reside no silencio que se esconde para que somente aqueles que a procurarem irão achar. A vida não deseja mais ser encontrada, pois também precisa se preservar e manter seu ciclo de naturalidade, o que inclui a maturidade em todos os seus sentidos.

Consegue então entender por que citei uma parte da história do filme O Castelo Animado? Pense bem! A bruxa das Terras Abandonadas era vista como um ser maligno que prejudicava as pessoas. Ela sempre aparecia às espreitas para aqueles que a queriam encontrar. Entende a relação? A tal bruxa é na verdade uma representação da vida que nunca se mostra verdadeiramente e com destreza às pessoas que a desejam. Sophie tinha um grande coração e uma beleza imensa como pessoa que a vida/bruxa não pode deixar de ignorar. Entretanto, ela precisou viver a maturidade com todas suas dificuldades para compreender a finitude de uma existência. Chamo esse movimento da bruxa de oportunidade. Oportunidade de viver a realidade, de ver e chegar aonde a maiorias das pessoas não chegam, de sentir a liberdade e de quase atingir a plenitude.

Como um aspirante a escritor e um eterno fã de histórias, não queria neste texto ter o descuido de repetir as mesmas asneiras que dizem por aí da “melhor idade”. Tentando viver um pouco da minha própria maturidade, diria que, ao escrever essa reflexão, pela primeira vez na vida fiquei vontade de encontrar uma bruxa, pois entendi como são sábias e poderosas apesar de tanto serem representadas pelas imagens de velhas ranzinzas.

Bruxas, por favor, ouçam meu pedido e apareçam para mim. Aqui se encontra um alguém que deseja a vida que vocês oferecem. Prometo que a partir de agora, terei a decência de saber enxergar os detalhes onde vocês aparecem para um dia ser tocado pela mágica e naturalidade que muitos não desejam mais.

Renan Gaudencio Vale -Belo Urbano. Professor, linguista, mestre em semântica e psicanalista, e interessa pela linguagem e pela mente humana como uma forma de entender ao mundo e a si mesmo.