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O exercício de poder e o vocábulo indizível do que se sente

Achou que podia ser ríspido comigo, achou que podia ser displicente comigo, achou que podia me criticar por falhas que não cometi, assim fez.

Achou que podia exigir de mim o sexo que não consegui, achou que tinha mais razão e quando reclamei, achou que sempre recebia a culpa de tudo no mundo. Achou que podia me vigorar, vigiar minhas mensagens, meus eletrônicos, pós câmera escondida, criticou minha negativa, era amor. E de achar em achar, se criou o hábito, se perdeu o espaço e a vida.

Era para si o centro de tudo que era bom e tudo que era ruim. O resto orbitava. Me sentia o resto. E quando debatemos essa relação de centro e periferia, apenas eu tinha algo a fazer, mudar e repensar. Até o que no pacto era de sua responsabilidade, eu tinha que sinalizar. Eu era o servo.
Eu tinha a faca, o queijo, o machucado, a culpa do corte e o curativo para colocar, e apenas uma mão para fazer tudo isso. Não era queijo, mas minha queixa, meu problema, minha solução que me machucava e que não permitia atender a demanda de alguem. Tudo isso para resolver ao mesmo tempo, senão adeus. Pior solidão é aquela na qual quem está contigo te impõe. E impõe ao ponto de querer dormir numa noite fria com ventilador, apenas para sentir o abraço quente de um cobertor.

Que poder tem Narciso sobre seu espelho, se só o que ele vê é sua estonteante imagem? Apenas poder sobre aquele que lhe presenteia com espelho, limpa o espelho, carrega o espelho e mesmo assim, ergue o espelho no ângulo incorreto. Sobre esse serviçal recai o poder de quem só quer ver a si, sofre por não ter com quem se espelhar, chora de barriga cheia de si, de umbigo.

E quando se libertar? Quando ressuscitar meu narciso e lutar? Quando conseguir comunicar mercuriosa minhas vontades em uma negociação diplomática por território? Ou simplesmente aceitar que a vida é assim, uma condição rara de uma doença chamada amor que, aos desafortunados, aparece como lepra?

A cada um que sofre, uma solução. Mas de fato, belas palavras servem apenas para ampliar um vocábulo de sentimentos inomináveis que tentamos, de análise em análise elaborar. Um vocabulário que não serve a ninguem, a não ser ao que adquire. Individual vocabulário que não conseguimos comunicar. E por lógica, o vocabulário que não se usa para comunicar, não existe. Mas por que ele está lá, dentro de nós, como sentimentos indecifráveis?

E se o que sentimos, de bom ou ruim, reside em um vocabulário indecifrável ao outro, como negociar a paz? Se nossa necessidade é incomunicável, como ser atendido pelo outro? E se não podemos contar com seu esforço em tentar entender nossa arqueologia gráfica emocional? Capaz que uma boa relação se faz de pessoas que tentam decifrar um ao outro, sabendo da inglória tarefa de fazê-lo, abastecendo- se de perceber o quanto o outro tenta. E tenta para estar junto.

E nessa tentativa, o exercício de poder (exercido com o achar que pode) se esvai, pois encontra sempre uma demanda alheia que pode atender antes de trazer a sua, na certeza que será atendida ou mesmo tentada. Uma troca de gentilezas que tenta acolher e ler o outro de forma sincera. Capaz que seja isso. Capaz que não.

Esse texto vai ganhando ares cada vez mais contornos incompreensíveis e preciso aqui parar. Tentativas de expor meu sentimento indecifrável só irá confundir o leitor. Espero que apenas amplie o vocabulário interno, para que a capacidade de ler o outro seja uma vez mais a ode da vida em relação. Sem deixar de ser ouvido e compreendido para tornar-se nem servo nem capataz, mas sim, na troca de tentativas, ser mais nós que eu.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
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Assim como a chuva… (quem dera fôssemos eternos)

A chuva que cai, na escuridão,
No silêncio da noite…
Revela nuvens carregadas!
Nuvens que, sendo reveladas, por sua vez,
Escondem, por um tempo breve, as estrelas e a Lua!
E mesmo que não as vejamos, ainda estão lá… A Lua e as estrelas…

Quase são eternas as estrelas…
Até que, um dia, sem saber, venham a morrer…
Sim, as estrelas também morrem… Você não sabia?
E se tornam supernovas, e depois, os temidos buracos negros…
Carl Sagan, um importante Astrofísico disse certa vez…
Somos feitos de poeira estelar…

Sim! Ele tinha razão… Os mesmos átomos que compõe os corpos celestes, também estão em nós…
Logo… Somos também quase eternas e eternos,
Pois somos feitas e feitos da mesma matéria dos Astros que bailam pelo Cosmos…
Ao som ensurdecedor do silêncio, no vácuo quase perfeito do Universo!

Não…
Calma…
Não nos tornaremos supernovas…
Nem tão pouco buracos negros…
Mas seremos para sempre… Para sempre…
Faíscas invisíveis tilintando pelo Espaço…

Como a chuva que cai,
E escoa na Terra, em seu ciclo perpétuo…
Assim, estaremos nas lembranças de alguém… Até que…
Este alguém também vire apenas uma breve estrela,
Nas memórias de outro alguém!
Seremos, todas e todos, um dia, fragmentos de memórias interestelares!

Sílvio Leme –  Ator, Mímico, Malabarista, Palhaço, Diretor Teatral, Produtor Teatral, Professor de Teatro, Oficineiro Cultural, Cantor, Palestrante. É de esquerda, é feminista, contra qualquer preconceito que exista na sociedade, é antifascista. Acredita na Utopia de uma humanidade e uma sociedade melhores, um dia! Faz exercícios, anda de bicicleta, sempre que possível. É pai do Ícaro, o amor de sua vida!

 

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Em mim todas

Eu não tenho mais 16 anos.

Eu não tenho mais só 16 anos.

Tenho 19, 20, 21, 23, 26, 29, 30, 35, 36, 40, 41, 46, 50, 52, 56…

e todas que estão entre essas.

Não me convenço mais com frases feitas, desgastadas e rasas.

Aos 16 me encantava com belas declarações.

Aos 46 as vezes, também…

Já aos 56 declarações não podem ser rasas

Precisam ser profundas, mesmo no “eu te amo”

Tão profundas que me levem a ficar leve.

Não tenho em mim só uma idade.

Tenho a de hoje e todas que já percorri, incluindo as que vem antes dos 16, dos 15 ao zero

Zero sim!

Todas habitam em mim.

Em um único dia, várias vem a tona

A pureza da de 16

A beleza da de 20

A preocupada de 6

A professora de 11

A medrosa de 30

A responsável de sempre

A grande curiosa

A desconfiada, a carinhosa, a receosa, a empreendedora, a criativa, a indignada, a ativista, a administradora, a poeta, a escritora, a mãe, a filha, a irmã, a amiga, a namorada, a mulher…

Tenho em mim um mundo grande, que transborda e que sempre cresce.

E por isso não me convenço mais só com essas frases feitas, mas ainda me encanto com atitudes exatamente com a mesma pureza que me encantava quando tinha só 16.

Mora em mim todas.

A menina, a mulher.

Mas preciso que saiba,

eu não só mais 16.

Adriana Chebabi – Sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas. Publicitária. Roteirista. Escritora. Uma contadora de histórias. Curiosa por natureza.  Uma sonhadora que realiza.  Acredita que podemos melhorar o mundo. Talvez ingênua, talvez não. Desafios a instigam. Ama viajar, estar na natureza e experimentar novos sabores. É do signo de Leão, não tem mais certeza do ascendente, mas sabe que no horóscopo chinês é Macaco. Essa foto foi tirada no Museo do Amanhã no Rio de Janeiro em setembro de 2024. Aliás, ama museu e esse ela se apaixonou.

 

 

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Cinquenta anos pela frente

Nem sempre está tudo no lugar. Nem sempre dá certo. Tentamos novamente, com a esperança de que dê certo, mas também com a consciência de que pode não dar. E, francamente, tudo bem.

Gosto de mesas bem postas e jantares tardios, daqueles em que nos sentamos à mesa às 21h e saímos de lá às 2h ou 3h da manhã, com o rosto doendo de tanto rir e a alma renovada na presença de bons amigos. Sim, eu sou daquele que quer o melhor, mas sem que esse melhor passe por cima de quem amo. Às vezes, me distancio; outras vezes, me aproximo, como a maré que molha as margens do rio, mas sempre passando.

Gosto de poesia e de boa música, de curtir um jazz enquanto leio Jane Austen. Agora, imagine isso com uma bela taça de vinho sobre a mesa… Não tem preço. São pedaços e momentos que guardo dentro de mim, que fantasio e, às vezes, também não dão certo. E tudo bem. Tudo bem porque estamos ao lado de quem amamos e fazendo o que amamos: cuidando uns dos outros.

Nossa casa, nossa vida, nossos momentos… Tão nossos que nos desacostumamos com essa tal de privacidade. Sabemos que, em algum momento, ouviremos a famosa frase: “Tudo tem que ser do seu jeito?”. É nesse instante que percebemos que escolhemos o caminho certo. Porque olhamos nos olhos de quem amamos e nos entregamos com intensidade, sem dar o braço a torcer. Mas, invariavelmente, faremos o que elas pedem.

Algumas pedem com um tom mais firme, outras conquistam pelo coração, falando baixinho o que querem. E eu, como bom padrasto bobo, sempre cedo. E o pior? Gosto disso.

Devo estar realmente ficando louco. A entrada nos cinquenta anos de idade me fez perder um parafuso. Sim, eu disse que gosto de tudo isso: dos problemas, das coisas que, teoricamente, não dão certo, das tentativas, das discordâncias de ideias e, de vez em quando — e que fique claro, de vez em quando —, eu gosto também das brigas (risos).

É assim o roteiro de um filme? Seria aqui que, no meu filme da vida, apareceria a legenda: “E viveram felizes para sempre”? Risos. Tudo dando tão certo, tudo no caminho correto porque acreditamos no Pai Maior, em Deus.

Será esta a colheita de que sempre falamos? Colher o carinho e o coração de cada um que temos ao nosso redor?

Poxa, se for isso, Deus me agraciou muito mesmo. A família que amo. Os amigos que me aturam com um baita bom humor. As sobrinhas adotadas que passaram a fazer parte do meu coração e sequer cogitaram pagar aluguel — vê se pode? Amigos que são tão parte de mim que, às vezes, me confundo. Já sabemos a reação um do outro e, com delicadeza (e às vezes brutalidade), falamos o que pensamos. Mas é tudo tão perfeito, tudo tão bom.

E dentro de casa, a beleza do coração de duas mulheres.

A primeira, minha esposa, que me agracia com tudo o que um homem poderia sonhar: carinho, sabedoria, persistência e, principalmente, amor.

A segunda carrega consigo a força da juventude, que transita entre a menina e a mulher. Como essa mulher me ensina! Deita no meu colo e me pede cafuné. Me ensina a ser uma pessoa melhor.

Sim, de verdade, com amor a Deus, nesses últimos cinquenta anos que vivi, tudo o que pedi ao Pai me foi concedido. Nada, absolutamente nada, ficou sem resposta.

Lembra, Pai, quando questionei os Teus caminhos? Quando chorei sobre as Tuas decisões? Sempre me olhaste com Teu sorriso paterno, no bater das asas de uma borboleta. Nunca Te iraste porque duvidei, nunca soltaste minha mão. E aqui estou.

Lembra, Pai, quando Te perguntei por que me colocaste entre pessoas tão boas? Quando disse que acreditava não ter como contribuir com o mundo? E Tu, através dos pássaros que alegram os dias, me sorriste.

Sim, Pai, que ensinamentos recebi de Ti! Que conhecimentos me deste sem pedir nada em troca. Com paciência e fé, apenas disseste: “Segue em frente, filho. Tudo vai dar certo”.

Tudo deu certo. E vai continuar dando. Mesmo se algo sair do controle, tudo bem. Vamos vencer.

Bom, tenho mais cinquenta anos pela frente. Há muito a planejar. Não dá para ficar parado apenas falando com vocês.

Bora curtir a vida!

Um beijo.

Amo vocês.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.

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Belas Urbanas 10 anos

Há 10 anos tudo começou. Temos algumas histórias para contar nesse trajeto e até mesmo antes de sermos Belas Urbanas.

Concepção, gestação, nascimento e crescimento.

Criança ou veterana? Perspectivas diferentes de como e onde olhar.

A menina ou a mulher? As duas, por que não?

As histórias são escritas, vividas e repartidas.

Nas entrelinhas ou na clareza escancarada, vivemos.

2025 ano de comemorar esse aniversário de 10 anos!  Vocês são nossos convidados.

RSVP – adriana@belasurbanas.com.br

Adriana Chebabi – Sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas. Publicitária. Roteirista. Escritora. Uma contadora de histórias. Curiosa por natureza.  Uma sonhadora que realiza.  Acredita que podemos melhorar o mundo. Talvez ingênua, talvez não. Desafios a instigam. Ama viajar, estar na natureza e experimentar novos sabores. É do signo de Leão, não tem mais certeza do ascendente, mas sabe que no horóscopo chinês é Macaco. Essa foto foi tirada no Museo do Amanhã no Rio de Janeiro em setembro de 2024. Aliás, ama museu e esse ela se apaixonou.

 

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Acordei, outubro rosa!

Hoje acordei um pouco desatenta, com a cabeça pesada e uma vontade de não fazer nada. Levantei-me assim mesmo, escovei os dentes, tomei banho e passei meu creme. Não estava feliz como nos outros dias. Algo em mim doía, um aperto no coração, uma agonia.

Coloquei um vestido simples, afinal, estava indo ao médico para saber o que realmente estava acontecendo.

Entrei na clínica e vi vários rostos de mulheres. Algumas sozinhas, outras acompanhadas, todas com a mesma expressão de preocupação. Eu, sozinha, sentei no canto do sofá. Era uma sala comum de consultório, e não havia muito o que dizer. Sentada ali, com uma revista de fofocas nas mãos, vi chamarem a primeira paciente. Alguns minutos depois, ela saiu. Seus olhos estavam marejados; visivelmente, o diagnóstico não havia sido bom. Foi até a recepção para marcar o tratamento. Que dor, que lamento.

Meu coração apertou de tal forma que achei que iria desmaiar. Assim foi com a segunda paciente. A terceira saiu sem remarcar nada. A quarta mal conseguia andar. Meu coração batia tão forte que comecei a pensar em tudo o que não fiz. Pensei que não me casei, que escolhi a carreira ao invés de ter filhos. Pensei nas besteiras que priorizei, e agora, ali estava eu, uma mulher jovem, com tanto medo.

Foi então que, de súbito, ouvi meu nome. Coração na mão, mãos geladas, achei que iria desmaiar. Levantei-me e entrei na sala. Atrás da escrivaninha, uma mulher de branco, com seus 50 anos, me cumprimentou com um olhar tranquilo.

Sentada, ainda apavorada, comecei a falar: “Foi tomando banho, doutora, que toquei meu seio esquerdo e senti um caroço. Dói um pouco, fiquei com medo e preferi vir aqui ver o que era.”
“Claro”, respondeu a médica. “Abra o vestido, vamos examinar.”
Minhas mãos trêmulas mal conseguiam obedecer. Meu coração palpitante doía, e minha cabeça parecia prestes a explodir. A médica, gentilmente, começou a examinar. Apertou minha mama esquerda com delicadeza, depois a direita, e então pediu que eu me vestisse.

Sentada à minha frente, disse que não deveria me preocupar. “É apenas um nódulo de gordura que precisaremos retirar.”

Senti um alívio imediato, e ela continuou explicando: “Se autoexaminar e tirar todas as dúvidas é a melhor coisa que você pode fazer. Muitas pessoas são negligentes. Não fazem o autoexame e, quando descobrem, têm um problema maior para resolver.”

Ela continuou: “Não é brincadeira o que sentimos ao receber uma notícia dessas. Parece que nossa vida desmorona, destrói nossos sonhos, acaba com a alegria. Mas o câncer de mama não é o fim. O autoexame pode te ajudar a prevenir. Não seja negligente, não se permita sofrer. Esteja no grupo que busca o problema para resolver.”

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.
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Setembro Amarelo

Em cima da penteadeira, um bilhete com uma fita amarela.
Amareladas estão as páginas do diário, pouco escritas por ela.
Um sentimento de vazio por não saber o que conversar.
Enrolada na coberta, sentindo um pouco de frio, que logo iria passar.

Ela tentou falar com a irmã, que, ocupada, não pôde retornar.
Tentou também falar com o namorado, que, sem tempo, não quis conversar.
Ela mesma achava besteira; o que doía nela era, talvez, coisa da sua cabeça.
Pensamentos estranhos, uma grande vontade de resetar o jogo.

Afinal, não havia final feliz para aquela história.
Poucos sentiriam sua falta, e ela poderia recomeçar.
Será que existe recomeço? Será que há outro lugar?
Que diferença faz, se aqui também não está bom?

Em cima da mesa, um bilhete com uma fita amarela que ela não abriu.
Um diário com páginas amareladas, que ela mal escreveu.
Ao lado da cama, um frasco de remédios, vazio.
Olhos fechados, cabelo arrumado, ela dormiu.

Não vai acordar mais… O que será que tinha para dizer?
Não vai me procurar, nenhum tempo do mundo vai resolver.
O bilhete com a fita amarela foi aberto só depois.
Lá dizia: “Nos procure, estamos aqui para ajudar.” Será mesmo?

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.
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Ainda tenho…

O tempo parece um menino…

ora soltando pipa, ora traçando o destino.

O tempo parece um mago, daqueles de festa de aniversário, que esconde os brinquedos da gente e desaparece…achando graça. Parece uma brincadeira de esconde-esconde. Envaidece.

O tempo passa…

Implacável, intolerante, imparcial, quase um delinquente.

O tempo tira sarro da gente

e anda depressa.

Outro dia era uma chuva fina acompanhada de bolinhos e ovos mexidos, e de repente, é uma saudade imensa do meu pai e da minha avó.

Tempo de cada cachorro que amei, tempo de tanta coisa que eu não vivi, tempo de quando carreguei minha filha no colo.

Às vezes, olho para o tempo e choro.

Fico buscando um tempo para me amar um pouquinho.

“pega leve comigo…ainda tenho pipas para soltar”

Siomara Carlson – Bela Urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
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No devido tempo

Em uma das primeiras oportunidades de visitar a Bienal de Artes de São Paulo, vi uma obra que me marcou muito. Não me recordo o nome da artista mas o titulo da obra era “O Tempo”.

Eram vários vergalhões (ferros de construção) de bitola larga empilhados, sendo que os que estavam rentes ao chão eram de um azul índigo com seus reflexos róseos. Conforme esses ferros eram sobrepostos, sua coloração ia se tornando alaranjada, de um tom vibrante, vivo.

Essa imagem ficou gravada em minha memória e anos depois, quando comecei a fazer esculturas em ferro, foi essa coloração acesa da ferrugem que me arrebatou.

Era o ano 1996, quando o tema Sustentabilidade, reutilização, enfim, os 5Rs não estavam no ‘mainstreaming’; eu valorizava a releitura do material.

Ressignificar o que se descarta, não é lixo.

Era uma forma de estimular uma reflexão do consumo consciente.

Nesse tempo, trabalhando com plantas e jardins, aprendi a respeitar e acompanhar o ritmo da Natureza. Esperar a época certa para podas, para semear, esperar a época certa da floração de cada espécie; vivenciar as estações do ano equilibrou a ansiedade, o descontrole emocional e mental.

Algumas clientes me chamavam para mostrar uma folha amarelada de uma planta e então percebi o quanto a sociedade atual tinha se distanciado da visão do envelhecer.

Os idosos já não conviviam com os filhos, com os netos e estes perdiam a oportunidade de ouvir sobre suas raízes, sobre suas origens.

Como valorizar a história da sua cidade, do seu país se não houver a valorização de suas próprias memórias?

O real valor de qualquer coisa, de qualquer projeto, de qualquer alimento, lhe é atribuído de acordo com o tempo que lhe é dedicado.

Quando se trata de curas das questões internas, cada um tem seu tempo.

Atualmente as pessoas falam muito em resiliência, se cobram e são cobradas por uma recuperação, reação rápida ao incômodo fato ocorrido, contudo, nesse processo o que importa é o quão profunda e consciente será a transmutação.

Nas do Ser, Chronos, o Senhor do Tempo, reina.

Também chamado em latim, Aeon, “eternidade”. Na mitologia grega era a personificação do ‘tempo eterno e imortal’.

Carece aqui invocar Kairós, a qualidade do tempo vivido, segundo a Bíblia, “o Tempo de Deus”.

Enfim, aproveite seu tempo no seu tempo!

“Que ele seja eterno enquanto dure”. (Vinícius de Moraes)

Érika Taguchi – Publicitária por formação, com especialização em Marketing além de: terapeuta holística, praticante de Yoga Arhatica, fundadora do Instituto Sempre Vivva, artesã, cozinheira, costureira, poeta, jardineira, personal organizer e tantas outras definições mais.

 

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Não me peça para repetir

Eu estava sentada em minha varanda, (re)lendo Martha Medeiros, enquanto ativava a vitamina D e eis que um pensamento do tamanho de um elefante passou por mim e eu tive que dar atenção a ele.

Parei a leitura e deixei quarar as ideias, sob o mesmo sol.

O tempo é gerente de mudanças.

Quem passou pelo período pandêmico, como eu, entendeu a incógnita de que mesmo isolados, mudamos. Por vontade, por necessidade ou à revelia, mudamos.

E, como disse a poetisa, a direção é mais importante que a velocidade.

Num flashback, algumas cenas me vieram à memória e eu pude apreciar as minhas escolhas dos últimos anos. Tenho vivido intencionalmente experiências que me ajudam a compreender a complexa equação do tempo, onde o passado e o futuro são fortunas, mas, é para o presente que dou o cuidado que eu mereço.

Merecer, no meu dicionário, é não permitir que a maturidade estrague o que eu conquistei, por isso, eu só o conjugo no presente, e presente é presente mesmo.

Já reparou que há coisas muito boas de se viver que não precisam se repetir?

O bem-estar e a alegria de determinados momentos têm lugar especialíssimo no meu coração, têm efeito em mim, mas, não quero que se repita!

Não quero que se repita é artigo definido de decisão.

A vida é uma sucessão de acontecimentos e não quero me apegar a nenhuma fração. Quero celebrar os momentos, honrar as lembranças e, principalmente, agradecer às pessoas pelas parcerias amorosas que são inegavelmente a composição de uma história que continua.

O tempo comunga a beleza de senti-lo.

Percebo que na tentativa de reproduzir os acontecimentos, reeditar sensações e sentimentos, desperta-se as frustrações. Afinal, um passo à frente e não se está mais onde estava, não sou a mesma, não há razão para querer que as coisas sejam.

Sabe quando você faz uma viagem maravilhosa e pensa em voltar todos os anos? Nunca será igual, não é? Pode ser melhor, pode ser pior, sempre será diferente, porque o tempo não estaciona e a natureza é movimento contínuo.

Quero lembrar, quero comemorar, quero me emocionar com o que passou, só não quero repetir.

Dito isso, não conte comigo! Reservo minha energia para criar experiências novas, intencionais e significativas, com memória, com planejamento, com perspectivas e com pessoas como você…

Refletir me alivia do peso de dizer não, pois, eu não quero ser rude, mas já não posso ser quem fui se até o elefante que passou por aqui não é mais o mesmo. Partiu, todo decidido a visitar outras cabeças.

Dany Cais – Fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. Iinstagram @daniela.cais