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Luz sobre as oprimidas

Desperta-me atenção tudo o que está por trás dos relacionamentos abusivos. A lista é certamente finita, mas penso que o tema daria um livro, tamanha a quantidade, diversidade e amplitude de detalhes sórdidos.

Ousaria dizer, antes mesmo de refletir, que tudo gira em torno de poder. Poder de status social, midiático, cultural, político, financeiro, de gênero sexual, de raça e cor, étnico e tantos outros, incluindo alguns fantasiosos.

Esse poder carrega uma mensagem subliminar: “Se sou ‘superior’, tenho ‘direitos’ sobre você, o que faz de você ‘meu súdito’, portanto ‘submeta-se’.”

Retomando o aspecto do poder, gostaria de jogar luz sobre a ausência dele, quando olhamos para a figura feminina, no processo de relacionamento abusivo. Esta é vítima, interesseira ou ‘vagabunda’, na conotação sexual, infelizmente, aos olhos da sociedade ainda “machista”.

Assisti ao documentário Johnny Depp X Amber Heard, na Netflix, e os absurdos do caso me deixaram enojada.

Não vou julgar, aqui, as partes e sequer emitir opinião sobre o veredicto ou sobre as agressões verbais ou físicas, do casal. Agora…, um homem famoso, bonito, com enorme fã clube, bilionário, de fama mundial (Johnny Depp) leva a júri sua ex-esposa, por difamá-lo.

A Corte ‘decide’ filmar todo o julgamento e colocá-lo, em tempo real, na internet.

O grande e maciço público fã de Johnny Depp é feminino, o que fez com que mulheres do mundo todo gritassem a seu favor, durante as audiências, à porta do fórum, em vídeos pelo tiktok e em diversas redes sociais, sem se importarem com as verdades e mentiras, do caso.

Em suma, o mundo feminino massivamente apoiou e favoreceu a opinião do júri popular, que defendeu Johnny Depp, contra uma mulher, apequenada por todo aquele “circo de poderosos”.

Posteriormente, levantou-se informações que ficaram protegidas no processo, pela juíza, consideradas como “irrelevantes” no caso, como o fato de ela ter sido agredida por ele, num vôo particular, cujo testemunha mentiu, jurando falso testemunho.

Causam-me estranheza todas as atitudes da juíza. Além da exposição “ao vivo”, ocultar diversas informações que colocaram a vítima no papel de mentirosa, favorecendo o agressor em todas as situações.

Gostaria de conseguir avaliar o efeito deletério de todo esse desastre público sobre os homens agressores e as mulheres por eles oprimidas. Qual foi a autorização subliminar que tantas mulheres, ao redor do mundo, deixaram aos opressores?

Fico imaginando quantas daquelas mulheres que apoiaram e gritaram a favor de “Depp”, não foram oprimidas e abusadas nos últimos 12 meses…

E a maior reflexão que fica, para nós, mulheres, é: Apontar o dedo para os opressores é o único e o primeiro caminho?

Será que não devemos começar por olhar para a nossa base familiar e nossa base de amor, como fazemos nossas escolhas e como agimos diante de atitudes indevidas? Olhar com carinho para a nossa força interior, nosso valor e para o prazer de uma relação equilibrada, para sairmos do papel de oprimidas?

Marisa da Camara – Bela Urbana, Administradora aposentada, que hoje atua em suas paixões: a escrita e a radiestesia. Crê nas energias da natureza e é amante da vida, dos seres humanos e ‘doidinha’ por seus 4 netos.
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Bem que se quis

No início dos anos 90 ele passou por mim. Era meio enigmático. Feio, sem nada que justificasse uma atração física. “Mas, quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”

Meses depois, nos reencontramos na contramão e a paixão explodiu.

Olhando agora, com distância e maturidade, não era para ter acontecido se tanto eu quanto ele soubéssemos respeitar nossas vulnerabilidades. Limites desconhecidos, tragédias anunciadas.

Ele era um cara mais velho, recém-formado, machista, inseguro e que pela primeira vez na vida tinha um salário digno que lhe proporcionava o contato com lugares e pessoas mais sofisticadas do que o habitual.

Eu, bem nova, carente, baixa autoestima, inexperiente, criada sob a crença das mulheres abnegadas, que não expressam descontentamento, nem interesse, mesmo em crise de dor.

Nossa primeira noite juntos foi num dia em que eu bebi até desacordar e quando acordei sabia que já não era a mesma, nem sei dizer o que senti.

Lembro de voltar a pé para minha casa, numa distância de uns dois quilômetros, com a sensação de que todos os maus julgamentos eram para mim.

Doeu muito, mas, ao mesmo tempo, me veio a satisfação ilusória de que talvez fosse o começo de uma relação que eu desejava tanto.

O namoro era escondido. Ele ia à minha casa e lá era o cara carinhoso, divertido e protetor que eu imaginava querer. Da porta para fora, ele me ignorava, ficava com outras na minha presença e adotava um comportamento que me fazia parecer louca.

Os nossos amigos eram comuns. Para eles, o nosso envolvimento era casual ou só existia na minha cabeça ou pior, só acontecia quando eu forçava a barra.

Eu me tornei a menina da janela, que esperava, esperava, esperava, para de vez em quando sorrir.

Cansada, pedi que ele tomasse uma decisão e foi então que ele se foi, sem caminhos para voltar. Eventualmente me ligava e se masturbava ao telefone. Me constrangia. Eu nunca contei para ninguém.

Foram meses de muito sofrimento e solidão. Eu definhei física e socialmente. Tive anorexia nervosa, não conseguia comer e, enquanto isso, os amigos se afastavam porque achavam o meu sofrimento exagerado.

Me humilhei algumas vezes na tentativa de reatar o que nasceu desatado, solto e incompatível.

Cheguei a pensar em desistir da vida. Por milésimos de segundos, mudei de ideia e fui lentamente, muito lentamente mesmo, me recuperando do luto de mim mesma.

Não foi o fim de um amor, foi a revelação de um caso de desamor que me marcou profunda e dolorosamente, afetando as minhas relações posteriores. Todas as relações: com minha família, com meus amigos, com namorados e, até hoje, 30 anos depois, casada e com filhos, sinto o peso dessa rejeição em meu coração.

Claro, tive tempo e terapia para ressignificar os abusos que me aconteceram. É como uma cicatriz que já não dói, pouco aparece, mas quando você olha sabe o tombo que a causou. É isso, uma cicatriz.

Sinceramente, não sei se ele sabe o mal que me causou. Na época era um comportamento muito comum entre os homens que precisavam se firmar como tais. A sensibilidade masculina era subjugada e a métrica da virilidade era a cafajestagem.

Hoje, se eu pudesse aconselhar a menina da janela, diria a ela para alimentar a coragem de dizer o que sente e não condicionar sua felicidade à chegada de alguém.

Porque para ser feliz depois de tudo eu descobri que amar-me é o meu superpoder!

Anônimo – Mulher, brasileira, mais de 50 ano, não quis ser identificada.

SOS – ligue 180

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Adios Querida Luna!

Eu sempre trabalho com a possibilidade do suicídio ou do teu sorriso, e tudo oscila dentro das probabilidades nessa roleta russa que é a minha bipolaridade.

Eu não exagero e eu não minto mais, pinto como Picasso em Guernica só que um pouco mais dark e mais profundo que a série alemã,
trago referências como se fossem uma viagem chuvosa, fria e egoísta com você em Amsterdã.

Não me subestime eu escrevo porque preciso de você tanto quanto a Marvel precisa da DC ou até o meu suicídio acontecer.

Eu sei, você vai dizer que esse texto tem flow e ritmo de rap, um sad trap, talvez, só que “EU SOU BRANCO, BRO”, e velho demais pra essas mina que acabaram de chegar aos vinte, mandando nude no meu direct, imagina se eu fosse rapper?

Mas voltando ao que realmente te interessa, isso aqui não é nem poesia, são só algumas palavras repetidas e tão vazias quanto a nossa sala agora, quanto a minha alma a qualquer hora, qualquer dia, só me diz que eu te espero, você sabe que é sincero, quando eu digo que te amo, que te quero, que me torno repetitivo, mas quais são as palavras que mais quero repetir na vida? Felicidade, paz? Eu já não sei mais, eu só quero que tudo pare, que o mundo desacelere, a vida é tão curta e eu tão culto que me sinto inútil.

Hoje as oportunidades perdidas me deram beijos e abraços de despedida, riram e voltaram pra me atormentar, as decisões erradas fizeram em mim sua morada!

Eu senti tudo, e o que você me disse foi como facadas, eu chorei e as lágrima derramadas escondidas no chão da escada, me fizeram pensar que a vida não vale nada sem a pessoa amada.

Talvez eu precise de mais amor próprio, talvez eu queira mais dois dedos do seu veneno com um pouco de ópio, ou simplesmente a minha certidão de óbito.

Tudo é relativo e tudo vai depender de quanto eu consigo ser permissivo, eu sei do que eu preciso, eu sei que soa ofensivo, mas eu também me lembro de tudo que me foi dito, mal de escorpião, rancoroso, passivo agressivo, não sou eu, é apenas o meu signo, risos, risos, risos.
Temos escolha ou apenas lidamos com os prejuízos? Quantos se foram? Quantos dos que ficaram não estão depressivos? Quem realmente está vivo?
Aldo, eu sinto sua falta, primo! Eu queria poder ter feito algo, dizer que vai ficar tudo bem, mas a real é que eu não sei. Você não foi condenado, Deus está ao seu lado, ele me disse, numa das viagens do meu coração alado, fica em paz,Tia Maria, sorria, eu preciso voltar, perdoem o meu TDA e a minha dislexia.

Não me leve a mal, eu quis teu bem, eu tentei te tocar, ser relevante, lavar tua alma, enxugar tuas mágoas, mas eu não cheguei lá eu fui além, te atravessei e você nem me olhou, só disse “tudo bem” eu também te amei.

Ficam as boas lembranças, ficam as facadas nas minhas entranhas, ficam as cicatrizes nos meus poemas, mas pra mim, não é apenas o fim.

Porque nada nunca acaba, tudo me remoi e dói pra caralho, as tuas fotos, os teus stories, nossa história retrógrada, então uso a minha retórica que me puxa pra baixo da escuridão, na caverna de platão, eu enxerguei, eu acordei, eu me levantei, escalei esse buraco no nosso leito. Efeito borboleta, o teu bater de asas afundou meu peito.

E como seguir desse jeito?
É por isso companheiros que eu espero que eu tenha sido um bom amigo!
Lembrem do meu sorriso…

Pai, perdoa teu filho perdido, minhas irmãs, eu não vejo mais sentido, mas saibam que eu as amei.

Mãe, eu te orgulhei? Saiba que diante de Deus eu me ajoelhei, eu orei, Mãe!

E de novo saiba que eu chorei e doeu, e dói, como se fossem dois sóis a sós comigo, refletindo toda a vergonha que eu sinto.

E eu sinto muito, escrevo pouco, sofro em demasia, faço drama, atuo, mas é que a comédia já não me servia.

Novamente eu sai da linha, mas foda-se não é problema seu, bom proveito. Eu vou voltar ao início do sofrimento, quem sabe no suicídio eu te esqueço.

Lucas Alberti Amaral – Belo urbanonascido em 08/11/87. Publicitário, tem uma página onde espalha pensamentos materializados em textos curtos e tentativas de poesias  www.facebook.com/quaseinedito  (curte lá!). Não acredita em horóscopo, mas é de Escorpião, lua em Gêmeos com ascendente em Peixes e Netuno na casa 10. Por fim odeia falar de si mesmo na terceira pessoa.
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Pessoas, instituições e mensagens abusivas

Temos cada vez mais discutido as relações abusivas sempre dentro das relações entre sujeitos da relação, tanto aspectos dos abusadores quanto das vítimas, um debate urgente e extremamente necessário. Nesse sentido, observamos, discutimos e disseminamos características que nos alertam sobre como identificar, evitar, combater e denunciar atitudes abusivas que aparecem no abusador, perpassam a relação, atingindo o abusado, provocando toda sorte de traumas, prejuízos e sofrimento.

A questão que coloco aqui é adicional a esse debate. Quando não há um sujeito no lugar do abusador, mas sim uma instituição ou mesmo uma mensagem abusiva, o que devemos fazer? A ideia aqui é pensar: quando essa entidade que abusa não é um indivíduo, como devemos proceder?
Podemos usar exemplo claro: O corpo de discussão em torno da violência domésticas moveu e move a sociedade a compreender os sinais precoces dessa ocorrência, ajudando pessoas a evitar situações e pessoas, a buscar ajuda e, em última instância, debater ferramentas sociais que possam tipificar criminalmente esse tipo de violência, coibindo e punindo os abusadores. Assim, surgiu, por exemplo, a lei Maria da Penha, que por sinal homenageia a cidadã que militou fortemente nesse debate, após ser vitimada por esse crime.

Mas quando o abusador não tem cara definida, perdemos o referencial e a potência dessas ferramentas sociais de informação e justiça. Quando instituições ou uma enxurrada de conteúdo informativo surge, congregando indivíduos com comportamentos abusivos validados por esses conteúdos e instituições, temos condição de punir pontualmente individuo por individuo ou devemos agir contra essas instituições e mensagens nefastas?

É importante aqui definir o que são mensagens e instituições: Mensagens são ideias traduzidas em discurso, em texto, voz, ações, imagens, vídeos e qualquer suporte que possam disseminar e defender um comportamento abusivo de forma impessoal. Mensagens são construídas por pessoas que, muitas vezes fazem parte de instituições organizadas. Já as instituições são grupos de pessoas que se organizam formalmente em torno de algum objetivo em comum e que, por algum interesse particular, disseminam e validam atitudes abusivas.

Instituições usam de mensagens para disseminar seus ideais, objetivos e ações numa relação umbilical e, por não serem sujeitos passiveis de punição direta pelo ato, podemos responsabilizar seus autores ou líderes, as mensagens e instituições ainda podem continuar agindo.

Um meme, um vídeo, uma montagem ou postagem podem conter uma mensagem abusiva. Um grupo político, religioso, de assistência social pode validar ações coletivas de caráter abusivo. Mesmo um arranjo familiar é uma instituição, onde mensagens podem circular com a validação moral necessária para abusos injustificados. Mensagens e instituições são complexas, podem ser ambíguas, confusas e contraditórias, mesmo que, em seu discurso e atuação, demonstrem coerência e até boas intenções.

O objetivo desse ensaio reflexivo é colaborar com o debate sobre relações abusivas, extrapolando a análise dos indivíduos que compõe a relação abusador-vítima, entendendo que também nos relacionamos com instituições, mensagens, ideias e outras entidades que não personificam da mesma forma as estruturas abusivas que formam nossa sociedade, merecendo atenções específicas, combates específicos e ferramentas de identificação e coerção desses abusos, buscando, um efetivo progresso que garanta uma evolução social para todos.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
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Nós conseguimos!

Eu me chamo Pâmela Cristina Caris, nasci no ano de 1990.

Falar sobre relacionamentos abusivos é de fato um lugar de dor.

No ano precisamente de 2022 me reconheci como uma mulher negra e olhei para mim com olhos de amor. Por que me ensinaram a não me aceitar?!

Na vida adulta eu aprendi, a duras penas, a me reconhecer. Falo sobre a dificuldade de reconhecimento por vivermos ainda neste século em um país com grandes e imponentes traços de colonização.

Meu primeiro relacionamento abusivo foi com minha mãe (sei que ouvimos falar muito sobre repetição de padrão, mas este aqui não é o caso); meu primeiro abuso sexual foi aos 5 anos de idade com meu avô.

Minha mãe se mudava muito de casa e de relacionamento como se troca de roupa. Meu segundo abuso sexual foi também com meu avô, neste caso, com o pai da minha mãe, e esta fazia vistas grossas para a situação, pois éramos muito pobres e passávamos fome (este avô pedia esmolas na rua e trazia alimentos em troca de passar as mãos nas minhas partes genitais).

Aos 12 anos sofri um estupro, uma longa história; casei-me nova, aos 16 anos, pois minha mãe me expulsou de casa na primeira oportunidade (era menos uma boca para comer), resultando em um casamento frustrado e adquirindo mais traumas.

Lembro-me que, certa vez, meu pai me disse que eu seria igual a minha mãe, mas eu orava e, dentro de mim, sabia que eu seria diferente, que eu seria uma mãe amorosa, que jamais iria bater nos meus filhos de fio ou pau, que jamais bateria a cabeça deles na parede, que eles teriam um teto para viver e um lar, que, de fato, sempre foi o que sonhei.

Penso hoje ainda nas várias Pâmelas (crianças) que ainda passam por essa situação.

Eu estou aqui. Eu sou um milagre e vivo de milagres.

Hoje eu olho para minha criança interior e a abraço: “Eu estou aqui e vou cuidar de você, minha menina — a menina que ainda habita aqui neste corpo, alma e coração — e eu posso dizer a você, minha pequena criança, que nós conseguimos!

Pâmela Caris – Bela Urbana, mãe, esposa e empreendedora, uma “MULHER” e toda mulher sabe a “FORÇA” e “POTÊNCIA” que é.