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Suco de uva em caixinha

Eu só queria um relacionamento maduro. E ele parecia maduro. Falava bonito, usava palavras rebuscadas, adorava se vangloriar sobre o seu trabalho… Até você perceber que tudo era marketing pessoal.

A pose de equilíbrio e maduro caiu na primeira contradição, o que parecia ser um relacionamento estável se tornou o mais instável que já vivenciei… Era como pisar em ovos, com medo constante de falar ou fazer algo “errado”, que pudesse virar motivo de discussão.

O diálogo virou monólogo, sem escuta aberta, apenas uma dissertação sobre o quão certo ele costumava estar e o quão imatura eu era (irônico, não?). E o “vamos resolver como adultos” se transformava em sumiço de horas e até dias… Se isso é resolver como adultos, eu não sei de mais nada!

A verdade é que ganhei alguém que fazia birra constantemente, sumia no meio da conversa e voltava como se nada tivesse acontecido, sempre no papel de vítima. Mas, quando olhei mais de perto, pude notar que a vítima, na verdade, sempre tinha sido eu.

Por fora, era atraente, boa pinta… Parecia um vinho raro e amadurecido. Mas, por dentro, era só suco de uva disfarçado em taça de cristal.

Ou melhor, era só um suco de uva em caixinha.

Gabriela Boretti – Atriz por paixão, jornalista por essência, sonhadora profissional desde sempre. Traduz o mundo em gestos, palavras e sentimentos.
Ama viajar e estar perto da natureza e dos animais. É do signo de Sagitário – e isso explica muita coisa!
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Nós conseguimos!

Eu me chamo Pâmela Cristina Caris, nasci no ano de 1990.

Falar sobre relacionamentos abusivos é de fato um lugar de dor.

No ano precisamente de 2022 me reconheci como uma mulher negra e olhei para mim com olhos de amor. Por que me ensinaram a não me aceitar?!

Na vida adulta eu aprendi, a duras penas, a me reconhecer. Falo sobre a dificuldade de reconhecimento por vivermos ainda neste século em um país com grandes e imponentes traços de colonização.

Meu primeiro relacionamento abusivo foi com minha mãe (sei que ouvimos falar muito sobre repetição de padrão, mas este aqui não é o caso); meu primeiro abuso sexual foi aos 5 anos de idade com meu avô.

Minha mãe se mudava muito de casa e de relacionamento como se troca de roupa. Meu segundo abuso sexual foi também com meu avô, neste caso, com o pai da minha mãe, e esta fazia vistas grossas para a situação, pois éramos muito pobres e passávamos fome (este avô pedia esmolas na rua e trazia alimentos em troca de passar as mãos nas minhas partes genitais).

Aos 12 anos sofri um estupro, uma longa história; casei-me nova, aos 16 anos, pois minha mãe me expulsou de casa na primeira oportunidade (era menos uma boca para comer), resultando em um casamento frustrado e adquirindo mais traumas.

Lembro-me que, certa vez, meu pai me disse que eu seria igual a minha mãe, mas eu orava e, dentro de mim, sabia que eu seria diferente, que eu seria uma mãe amorosa, que jamais iria bater nos meus filhos de fio ou pau, que jamais bateria a cabeça deles na parede, que eles teriam um teto para viver e um lar, que, de fato, sempre foi o que sonhei.

Penso hoje ainda nas várias Pâmelas (crianças) que ainda passam por essa situação.

Eu estou aqui. Eu sou um milagre e vivo de milagres.

Hoje eu olho para minha criança interior e a abraço: “Eu estou aqui e vou cuidar de você, minha menina — a menina que ainda habita aqui neste corpo, alma e coração — e eu posso dizer a você, minha pequena criança, que nós conseguimos!

Pâmela Caris – Bela Urbana, mãe, esposa e empreendedora, uma “MULHER” e toda mulher sabe a “FORÇA” e “POTÊNCIA” que é.