Posted on 7 Comments

Bosta por bosta: Beto Arnaldo Costa

editada shutterstock#E65207 (2) foto Belas - Beto Arnaldo Costa

Lucia passou a faculdade inteira ouvindo Silvia, sua melhor amiga, falar: – Bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa.

A prova era difícil? E já ouvia Silvia: – Bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa.

A carona furou para a faculdade e só sobrava ir de ônibus, lá vinha Silvia: – Bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa.

Até em festa, quando seu paquera resolvia beijar outra menina, ela olhava para a amiga, mostrava outro rapaz e soltava: – Bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa.

Lucia achava aquilo engraçado e diferente e começou a repetir a tão profunda frase em qualquer situação que não fosse a sua primeira opção, assim como sua amiga Silvia fazia.

Lucia, que até então nunca tinha questionado, perguntou para Silvia: – Quem é afinal esse tal de Beto Arnaldo Costa?

E Silvia: – Beto Arnaldo Costa foi um candidato a político na região da minha cidade que na última eleição foi para a TV e falava: “Bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa”.

Lucia achou aquilo deprimente e pela primeira vez já não achou engraçada essa frase. Como a maioria dos jovens, Lucia era idealista, acreditava que poderiam existir bons governantes. Achou aquilo ridículo e quis dialogar com a amiga a respeito. Silvia, que tinha outros interesses, achou aquela falação uma chatice e disse:

– Que bobagem, Lucia, é engraçado!

Silvia, que de alguma forma ganhou fama com a fama da frase, não queria abandonar isso agora.

Lucia percebeu naquele dia que via o mundo de uma forma diferente de Silvia, mas, como eram ainda tão jovens, essas diferenças ainda eram pequenas e toleráveis.

Os anos passaram rápido. Lucia foi estudar no exterior, morou anos fora, conheceu novas culturas, novas pessoas, resolveu fazer uma segunda faculdade e depois ainda uma terceira, de jornalismo e sociologia. Fez muitos cursos, deu também muitos cursos, virou correspondente internacional de uma grande emissora de TV, virou editora-geral de um grande jornal. Na vida pessoal, alguns namorados, um quase marido – quase porque Lucia desistiu de tudo quando tudo já estava marcado. Quanto mais crescia na vida profissional, mais achava os homens sem graça. Ninguém já há um bom tempo despertava seu interesse.

E Silvia? Lucia perdeu o contato com Silvia logo após a formatura. Teve notícias de que ela voltou para sua cidade no interior, mas cada uma seguiu seu rumo e naquela época, sem celular, internet, perder o contato das pessoas era realmente fácil.

Lucia até tentou há alguns anos achar Silvia pela internet, mas sem nenhum sucesso.

Eis que um dia, no jornal em que trabalha, um dois mais importantes do País, Lucia foi convocada para uma reunião com a diretoria e recebeu a missão pessoal de entrevistar o Sr. Beto Arnaldo Costa.

– Como assim? – perguntava ela, toda surpresa. – Quem? O bosta por bosta?

– O que é isso, Lucia, está delirando? Contenha-se – disse o superintendente do jornal. – O Sr. Beto Arnaldo Costa tem feito um trabalho muito interessante e revolucionário com o lixo reciclável e por isso estamos querendo fazer uma série de reportagens sobre o assunto. E o Sr. Beto Arnaldo Costa será o primeiro entrevistado; o jornal tem interesse particular nesse caso e por isso estamos designando você para fazer isso pessoalmente.

Lucia achou aquilo estranho. Não que não pudesse acompanhar e entrevistar pessoalmente alguém, na verdade gostava de fazer isso, mas justamente o “bosta por bosta”, pensava ela. Foi quando se deu conta de que nunca soube mais nada sobre essa história, nem se era verdade e o que era verdade. Como toda boa jornalista, resolveu investigar, mas não teve sucesso, pois essa história era do começo dos anos 80 e Lucia agora tinha acabado de virar o século, ou seja, ainda existia muito a ser digitalizado, principalmente nos pequenos jornais das pequenas cidades.

Chegou o grande dia da entrevista. Haviam marcado em um restaurante chique de São Paulo. Lucia já estava impaciente, o tal Beto Arnaldo Costa estava atrasado 30 minutos e ela não aguentava mais tomar suco de laranja e comer os pães. A imaginação corria a mil, pensava em como ele seria. Já tinha em mente que seria um homem chato, grosseiro, sabia que tinha 52 anos e já imaginava um homem careca, gordo, muito gordo e de pé pequeno.

– Por que estou pensando no pé desse homem? Dizem que o pé tem o mesmo tamanho de um outro órgão masculino – talvez na verdade fosse nisso que ela pensasse.

Virou-se para a bolsa para atender ao telefone e já ia dizendo alô, quando uma voz grave disse:

– Você é Lucia?

Ela se virou rapidamente e por uns instantes ficou boquiaberta, com o pão na boca e o celular no ouvido, quase engasgou, fechou a boca e ainda ouviu:

– Desculpe o atraso, o piloto do helicóptero foi avisado que se tornou pai no meio do voo. Fiz questão de que voltássemos para que ele pudesse estar com o filho e tive que pedir outro piloto. Eu estava sem seu celular, pedi que meus assessores avisassem o jornal, você recebeu o recado?

Lucia estava zonza e, ainda com o celular no ouvido, disse no aparelho: – Depois te ligo.

E, ainda em susto, dirigiu-se ao elegantérrimo senhor, nada barrigudo, nada careca (só ainda não tinha visto seus pés), e perguntou: – Você é o Beto Arnaldo Bosta? Quer dizer, Costa.

Ele sorriu e, muito fino, fez que não escutou o trocadilho com seu sobrenome e disse: – Sim, sou eu.

O almoço foi ótimo, conversaram por mais de 3 horas sobre o lixo reciclável, sobre o projeto com a periferia da cidade de Arinápolis, interior da Bahia, sobre educação, sobre cultura, sobre, sobre, sobre… Lucia estava encantada como há muito não ficava com alguém. Mas a pergunta não saía da sua cabeça: – Será ele o tal Beto Arnaldo Costa, que é o bosta por bosta?

Às 17h ele pediu desculpas e disse que tinha uma outra reunião de trabalho e que precisava ir, mas perguntou se ela poderia jantar com ele, assim continuariam a conversa. Ela aceitou e ele disse que às 21h30 o motorista a apanharia na sua casa. Ela disse que não era preciso, mas ele fez questão, e ela aceitou.

Voltou para a redação encantada e encucada: – Seria ele (aquilo não saía da sua cabeça)?

Pensou em Silvia, mas não tinha mais nenhum contato com ela e lembrou-se do nome da cidade da amiga, era do interior de São Paulo. Procurou pelo sobrenome Knoschi. Como era um sobrenome incomum, talvez fosse possível achá-la ou então algum parente, mas nada, ninguém com aquele sobrenome nas listas. Com seu espírito investigativo, resolveu ligar para uma pessoa aleatória da cidade e perguntou se conhecia Silvia Knoschi ou alguém da família Knoschi. A pessoa até que teve boa vontade – pequenas cidades do interior ainda preservam esse espírito cooperativo nas pessoas –, e Lucia deu sorte, a senhora que atendeu ao telefone conhecia Inês, a mãe de Silvia, e disse que Inês tinha morrido há mais de 15 anos, e Silvia, como não tinha parentes na cidade, mudou-se e nunca mais apareceu por lá. A mulher disse:

– Só sei que ela enricou, casou e mudou. Não sei se a ordem é essa, talvez seja casou, enricou e mudou, mas por que você está procurando por ela? Ela sempre foi muito antipática, por aqui ninguém gosta dela nem daquele marido… Agora tenho que desligar, meu bolo vai queimar.

– Tudo bem… Muito obrigada…

Sem pistas, Lucia foi se arrumar para o jantar.

Às 21h30 pontualmente estava o chofer, ela estava elegante. O restaurante japonês era o melhor e o mais caro da cidade. Beto Arnaldo Costa já estava a sua espera, elegante, gentil, sorridente, e ela: – Oi, Bos… Costa.

A conversa foi perfeita, já tinha material para o artigo, mas o jantar se estendeu para outros assuntos. Por mais incrível que possa parecer, ela desandou a falar de vários assuntos pessoais. Ele, já mais reservado, falou somente sobre seu sucesso no projeto de reciclagem.

– Como ele é interessante – ela pensava, mas também se pegou pensando: – “Será ele?”, “Não é possível, ele é tão educado, culto, fino, mas e esse nome igual?”.

O jantar foi maravilhoso. Ele, com seu chofer, a deixou em casa, despediram-se com um beijo no rosto e ele disse que na próxima semana estaria em São Paulo e perguntou se podia ligar para ela.

– Claro que sim – disse ela prontamente.

A entrevista ficou ótima. O superintendente deu parabéns e ela sugeriu um artigo mais detalhado sobre o projeto da reciclagem e das famílias envolvidas, e a ideia foi aprovada. Lucia estava muito empolgada, encantada, sorria à toa, não tirava da cabeça Beto Arnaldo Costa. Parecia uma adolescente apaixonada… Ele enviou flores e uma corrente de ouro com uma ametista quando a matéria saiu, foi um sucesso, a mídia começou a falar bem desse homem.

Na semana seguinte estava ele em São Paulo e convidou-a para ir com ele para Paris, assim ela acompanharia mais sua vida e teria mais subsídios para continuar a matéria. Ela, que sempre foi tão sensata, aceitou assim de imediato, tudo pago por ele, primeira classe. Lucia já conhecia Paris, mas desta vez a ideia de Paris lhe pareceu a mais perfeita possível.

Para quem achava todos os homens a seu redor tremendos bobos, Lucia surpreendia a si mesma de tão sem críticas que estava para Beto Arnaldo Costa. Foram juntos no avião. Descobriu que ele tinha interesse em associar-se ao jornal em que ela trabalhava, lembrando que era um dos maiores jornais do País. Descobriu também que ele tinha sido pastor de uma igreja. Em outros tempos isso já seria motivo de cartão vermelho, desta vez nem amarelo. Ela não se reconhecia.

Costa, como era mais conhecido pelos aliados, era sorridente, elegante e político. Sim, ele era político, mas ela já tinha até esquecido a história do “bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa” e quando lembrava já tinha certeza que não tinha nada a ver, que era só uma coincidência de nomes. Estava convencida de que ele era um grande homem, quase convencida de que ele estava interessado nela. Ele de fato se insinuava para ela, mas não passava disso.

Chegando ao hotel, ainda na recepção, o celular dele tocou. Com uma voz melosa, amoroso, dizia: – Tudo bem, amor, será breve, pode me esperar. Desligou, olhou para Lucia e disse: – Vovó – ela achou lindo esse carinho com a avó, nossa, ele ainda tinha avó.

Lucia era só elogios para Beto Arnaldo Costa. Jantaram juntos e ela achou que seria uma noite mais profunda. Pensava no pé, que ainda não conhecia, mas nada! Beto Arnaldo Costa deu aquele lindo e branco sorriso de propaganda de creme dental e se recolheu ao seu quarto. Ela não aguentou e pensou: – “Bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa”. É isso, ele era o cara. Ela decidiu: daria um jeito nessa timidez, só podia ser isso e nem combinava com ele, afinal.

No dia seguinte, um imprevisto e Lucia não pôde acompanhar Beto em um compromisso. Ele deixou um bilhete embaixo da porta escrito à mão: “Querida, tenho que ir às pressas para uma reunião, mas volto para jantarmos juntos, te chamo na sua suíte às 22h”.

Seu coração disparou, ela sentiu-se como Julia Roberts em Uma Linda Mulher e aproveitou o dia para comprar um lindo vestido vermelho decotado de Paris. O relógio andava devagar. Lucia foi fazer massagem, drenagem, depilação, escova, banho de espuma e às 22h estava pronta com seu lindo vestido vermelho decotado e sexy, sim, muito sexy. Recebeu um telefonema da recepção que era para ela descer direto para o restaurante do hotel. Fez isso e se dirigiu em câmera lenta, só faltava a música de fundo para parecer filme, mas ela sentia a linda música de fundo. O vestido, para ser bem sincera, não fazia nada seu estilo, até incomodava um pouco, um super decote na frente e um super/hiper decote nas costas até quase o rego, além da fenda na perna esquerda até a coxa. Era bem incômodo e nada a ver com seu estilo. Vocês não têm noção de quanto equilíbrio ela teve que fazer para que nada saísse do lugar, mas pensava: – “Valeria a pena”.

Mas a música suave e romântica que seus ouvidos ouviam no trajeto até o restaurante se tornou música de terror, pois ela, assim que pisou no restaurante, viu de longe Beto Arnaldo Costa, mas quem veio direto ao seu encontro foi ninguém menos que Silvia, sim, Silvia, sua amiga dos tempos da faculdade. Um pouco diferente do que era, é certo, mas sorridente, com os dentes muito brancos – eles não eram tão brancos assim; muito loira, com um cabelão, um bundão e, além de tudo, simpática, e ela nem era simpática.

– Lucia, minha querida, que saudades!!

– Você aqui, Silvia… – Lucia respondeu em estado de choque.

– Quis fazer uma surpresa para você, por isso não pedi para o Beto…

– Arnaldo Bosta, ops, Costa.

– Isso mesmo, para ele não contar nada para você.

– A vó era você?

– Claro, meu bem, sempre atenta, Lucia, por isso se deu bem como jornalista. Já eu, já sabia que a salvação seria um bom casamento. Quando voltei para minha cidade, fui trabalhar na prefeitura e o conheci, virei sua assessora e depois você sabe, né, ele é tão charmoso…

– Mas e a história do bosta por bosta?

– Querida, pelo visto você continua a mesma idealista de sempre. Bostas todos são… então bosta por bosta, Beto Arnaldo Costa – e ria.

Lucia, pela primeira vez, se sentiu muito ridícula, envergonhada, aquela roupa parecia chumbo, pesava horrores; o encontro com a velha amiga não poderia ter sido em pior momento. Queria fugir dali, tirar aquela fantasia de mulher ultra super sexy que nada tinha a ver com ela, como se sentiu mal… Chegou a ter ânsia – “Que vontade de vomitar naquilo tudo, naquelas pessoas vazias, naquela fútil e egoísta da Silvia, ela sempre foi assim, como consegui ser amiga dela na faculdade? E esse Bosta… pastor de igreja, político que usa esse refrão… E o jornal? Tudo interesse político, que coisa feia, suja”.

Lembrou-se da mulher do telefone falando da Silvia e do marido. Com certeza aquele projeto de reciclagem tinha mais interesses por trás, além da compra de um percentual do jornal. E ela, que sempre foi tão boa repórter, como não percebeu nada? – se perguntava em seus pensamentos, sem parar. Sabia que no fundo seu encantamento cegou seus olhos. Como se sentiu tola, frágil! A ânsia de vômito veio tão forte, que não conseguiu segurar. Vomitou tudo, um grande e nojento vômito em cima de todos eles. O silêncio se fez. Todos imóveis. Paris depois desse dia nunca mais foi a mesma.

Os meses passaram e a segunda matéria não ficou boa, muito abaixo do grande talento de Lucia.

Então, ela tomou duas resoluções.

Deu o tal vestido vermelho para Isaura, a diarista, que ficou muito alegre com o presente e disse que a noite seria quente com o Carlão: – Ele diz que sou sua “piriguete”. Lucia riu e disse:

– Aproveita bem porque o estilo é “piriguete” mesmo – pensou que Carlão devia ter um pé interessante, mas isso ela não disse, é claro.

A segunda resolução foi tirar longas férias e conhecer o Japão, e foi para lá que foi, com foto do vestido vermelho em seu celular, que tirou antes de dá-lo. Estranho? Sim, mas nem tanto, era para nunca mais esquecer de como se sentiu por querer ser o que não era e para sempre lembrar que a vida precisa dos dois lados, o pessoal e o profissional. E se isso não acontece a contento, podemos ficar muito vulneráveis e nos apaixonar por qualquer bosta. Mas estranho mesmo era não perder a curiosidade sobre o pé do Costa, ops, do Bosta. Foi a única coisa dessa história que não ficou clara para ela, mas ela lembrava e ria olhando a paisagem pela janela do avião.

10959308_10203700598545176_5268303932415920241_n Dri perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência  Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos. 

Posted on Leave a comment

Dentro do meu espaço tinha o tempo…

10428533_10205487407169952_1071995358237156935_n post Renata

Dentro do meu espaço tinha o tempo.
Partes de mim que espalhei pelo mundo, parte dos mundos que guardei em mim.

Dentro do meu espaço tinha o tempo.
Tempo de verdes montanhas, cheiro do mato molhado, noites com brisa quente…eu sou do mundo, sobrevivente.

Dentro do meu espaço tinha o tempo.
Levem meus encantos, cubram-se com luzes…sou um punhado de lembranças boas depois de um dia de chuva.

Dentro do meu tempo … Dentro do meu espaço…
Me recebo num olhar de acalento, cabendo mais em mim do que caberia no mundo…feliz.

10958210_10205888085426658_4684666609892689174_n - Renata Lavras Maruca

 

Renata Lavras Maruca Mulher, mãe, publicitária e cronistas nas horas de desespero. Especialista em marketing de conteúdo digital. Observadora do universo humano e suas correlações” intermundos” (reais e virtuais). Viciada em doces, gordinha por opção e encantada pela sedução inteligente. Prefere sempre vestir em palavras escritas tudo aquilo que reflete ou carece de análise. Resumindo: Complicada e perfeitinha
Posted on Leave a comment

Falar do que? Das novelas ou das panelas?

 

shutterstock_132428099 panela

Na novela a trama é fictícia

Na panela a comida cozinha

A comida está cara, cada vez mais

Na novela quem vencerá? O bom?

É isso que queremos ver, o bom, na novela e na panela (na vida real)

Novelaço? Nem tanto, mas garante diversão

Que falta, quando a comida é cara, quando a saúde é paga, quando a educação de boa qualidade é paga e é muito cara.

As panelas deveriam ser fartas

Os sabores deveriam ser diversos

O tempero deveria ser saudável

Mas nessa panela “rola”

Pouca comida, tempero artificial e

a falta de novos sabores que nunca serão comidos

Porque comida vai sendo a panela que vai ficando velha, oca e sem brilho

A novela consola, a esperança que o bem vencerá no final, é real nesse fictício.

Citando os Titãs “a gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro, diversão e arte”

10959308_10203700598545176_5268303932415920241_n Dri perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência  Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos.  Gosta de novelas e panelas fartas. 🙂

Posted on 1 Comment

Democracia: leia as instruções antes de usar

Não quero falar de política, mas fica difícil nesse momento. Não votei na Dilma, e não porque morro de amores pelo Aécio mas porque não concordava com a sua condução do país nos primeiros 4 anos. Minha única ferramenta para manifestar essa insatisfação é votando em outro candidato certo?

Na minha cabeça, que nada entende de política, mesmo trocando um político safado por outro, ainda sim, acredito que alternância de governo qdo temos um partido há 12 anos é importante para desarticular parcialmente crostas de quadrilhas no governo, enquanto a outra entra e manobra pra tomar o lugar na roubalheira o país tem um leve respiro. Sem ilusões, afinal algumas figurinhas não saem nunca mesmo e continuam ali, ervas daninhas eternas da nossa política não importa quem entra e quem sai.

Agora, essa palhaçada entre petistas e tucanos batendo boca, e digo isso dos meus amigos tb, como se parecessem fanáticos acéfalos de alguma religião ou de jogo de futebol é a prova maior de que somos uma país infantilóide e muito longe de saber o que significa e como se comportar em relação a essa tal “democracia” da qual meus pais tanto panfletaram e tomaram “toco” de polícia pra alcançar.

A presidente Dilma, que acho fraca aliás, e amigos petistas, é uma democracia e não adianta tentar jogar ovos pra cima de mim, TENHO O DIREITO de achá-la fraca, apesar de tudo foi eleita por maioria. Se o esquema de votação apresenta indícios de manipulação ou não o fato é que no processo vigente no país ela ganhou as eleições, ponto. E infelizmente viver em uma DEMOCRACIA é justamente ter que conviver com a escolha da maioria. Maioria essa que não se sentiu afetada ainda pela má administração ou os erros de gestão cometidos mais que hora ou outra irão atingir à todos. Maioria essa que apostou mais 4 anos na presidente.

Fui nas outras manifestações mas não vou dia 15 porque não concordo com a proposta de impeachment, e sabe o motivo?
Porque se de fato a Dilma sair não terá absolutamente nada a ver com nossas reclamações de rua, e sim com articulação dos partidos aliados ao PT, principal a base PMDB, (é amigos tucanos na real quem mais sai no lucro são eles com o queridíssimo Temer entrando no lugar e o resto da cambada que vem na cola), usando uma comoção popular pra tomar o poder que a presidente Dilma andou “miguelando” nos acordos de bastidores.

Outra coisa importante de se lembrar, o “GOVERNO” não se resume a DILMA, temos duas casas que votaram, aprovaram e conduziram o país junto com a presidente e devem ser incluídos na culpa dessa má gestão. Vamos exigir impeachment de TODOS os reeleitos? Porque o que está acontecendo no país não pode ser colocado como culpa apenas do presidente.

Esse “golpe” nada tem a ver com “sacadas burguesas” amigos petistas e tucanos que não se iludam, aliás ando com o saco cheio tb dessas balelas, troco minha conta bancária com a da maioria dos meus amigos petistas, não sou PT, não suporto o Lula, nem a Dilma nem a maioria da bancada petista, voto em muitos candidatos tucanos mas tb não sou cega, surda e burra, a exemplo não votei no Alckmin em sp na última eleição por não achar que ele administrou bem SP e nem por isso SOU UMA DROGA DE ELITE BRANCA OU BURGUESA OK? SACO! QUE CHATOS!

Voltando ao dia 15. Não está certo querer tirar a candidata eleita, há poucos meses. Concordo que é uma baixaria o que ela prometeu em alto e bom som nas eleições e não está fazendo, mas isso, quem acompanha a economia, sabe que mesmo se outro entrasse as medidas seriam as mesmas, juros, altas, a situação do país é insustentável sem essas medidas… tb acho que a crise interna é de gestão principalmente e não de fatores externos, mas de novo, minha única ferramenta democrática nesse caso? Não votar nela ou no partido dela na próxima eleição. E pra quem votou e acreditou nas promessas e está descontente com as mentiras em que acreditou ficar atento e se não achar justo não votar de novo no partido.

Temos o direito de cobrar explicações pelas ações, temos o direito de manifestar nossa insatisfação, acho válido bater na porta em Brasília e panfletar e pedir por medidas e mais pela TRANSPARÊNCIA das ações, cobrar que bandidos sejam punidos. Acho justo e necessário como um regulador.

Mas exigir o linchamento de UMA única personalidade enquanto existe todo um grupo conivente e quando infelizmente o país em sua MAIORIA aprovou mais quatro anos dessa gestão é mostrar por A mais B que somos totalmente ignorantes em cidadania, não temos preparo para a democracia, não sabemos nem por onde começar qdo o assunto é cobrar nossos direitos, e quando fazemos enfiamos os pés pelas mãos.

Minha impressão sobre isso? Continuaremos sendo ludibriados e roubados por políticos que sabem muito bem que nós brasileiros somos incapazes de nos unir de forma correta e eficaz para exigir o respeito que eles deviam ter, viramos facilmente fantoches idiotas nas mãos dos espertalhões e assim caminhará o Brasil ainda por muito tempo.

Não adianta dar livros pra analfabetos, precisamos ensiná-los a ler pra isso não virar apoio de mesa. E atualmente acredito que nossa noção de democracia está logo ali, no livro debaixo da lista telefônica que nunca mais teve utilidade pra apoiar algum eletrodoméstico…

SAD, so sad…

Juh Leidl

 

Juh Leidl – Bela urbana, artista, designer, publicitária e eterna amante da moda. Divide seu tempo entre as criações na Modo Comunicação e Marketing www.modo.com.br e exposições pelo mundo como membro da Ward-Nasse Gallery | SoHo – NY www.wardnasse.com/Juh_Leidl.php
Posted on 1 Comment

A viola emudeceu

20150308233618925281o - inezita Barroso

No Dia da Mulher, a viola emudeceu!
Aos 90 anos, morreu a cantora, pesquisadora, compositora, violeira e apresentadora de TV Inezita Barroso.
Inezita viu tudo. Era um livro de história viva, daqueles com notas de rodapé e trilha sonora. A última testemunha ocular a ter caminhado sobre a própria linha do tempo da música sertaneja. Soube o que queria ser bem cedo, com 7 anos. Ou antes. O fato é que, enquanto saía do ventre de sua mãe, em pleno domingo de carnaval, na casa da Rua Conselheiro Brotero, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, passava em frente o Cordão Carnavalesco Camisa Verde, futura escola de samba com o mesmo nome.
As seis cordas não agradaram a mãe, que preferia ver a filha casada com um advogado ou farmacêutico, mas a música não parava de chamá-la. Quando ia passar férias em uma das fazendas da família, deixava as primas na casa grande, pulava a janela e ia ver os colonos tocando viola. No dia em que um violão caiu em suas mãos, ela atacou de Boi Amarelinho. E teve caboclo marmanjo chorando baixinho.
Quando chegou a década de 1960, Inezita já tinha ímpetos de pesquisadora. O mundo sertanejo era maior que o interior de São Paulo. Sertanejo não, ela não suportava essa nomenclatura por uma questão geográfica. “Sertanejo existe onde tem sertão. Aqui em São Paulo é música caipira. Por acaso, você já foi ao sertão de Jundiaí?”
Decidida a desbravar as profundezas do Brasil, conseguiu um Jipe e dirigiu até a Paraíba, onde iria gravar um filme sobre a Guerra do Paraguai. Foram dois meses de viagem, anotando literalmente todas as notas musicais que encontrava pelo caminho. Como não tinha gravador, escrevia uma a uma do que ouvia das culturas locais em folhas com pentagramas musicais.
Sua aventura rendeu história. Quando chegou a Salvador, testou as trações nas quatro rodas subindo de Jipe as escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.
Mais à frente, no interior da Bahia, ficou encantada por um cantador e passou a anotar rapidamente o que ele cantava, até que um caminhoneiro parou a seu lado ouvindo em alto volume a Rádio Nacional.
“Não consegui ouvir mais nada. Perdi o que aquele homem cantava.” Em outra cidade, resolveu testar sua mira. Apontou a espingarda que levava consigo para um objeto voador e atirou: “Caiu um urubu do meu lado, que horrível aquilo. Nunca mais dei um tiro”.
Sua derrota, uma das poucas da trajetória, se daria na volta. Inezita queria que alguma emissora de rádio ou de TV exibisse sua pesquisa.
Depois de levar o oitavo não, ela quebrou o violão, fez uma fogueira e jogou nas chamas todo o material recolhido pelo Brasil. Um jogo perdido dentre vitórias inquestionáveis, como os seus mais de 80 discos lançados, quase dez filmes e a conquista de uma autonomia artística em um programa de televisão na Cultura(Viola, Minha Viola), com 35 anos de duração, mostrando apenas a legítima música do Brasil.
Pensando bem, aquela fogueira não queimou nada. Tudo o que Inezita Barroso viu pelo País afora ficou bem guardado, fortalecendo a maior defensora das tradições culturais que o Brasil já teve.
Descanse em paz Inezita, e obrigado por tudo!

10983428_900522006636860_3665289255112629747_n Wilson Santiago

Wilson Santiago – Brasileiro, natural de Potunduva SP, união estável, engenheiro de produção, pesquisador, corintiano, espiritualista, musico, poeta, produtor musical e do signo de áries.
Posted on Leave a comment

TUDO

1779117_10205102231060790_478876810227567515_n tEXTO TUDO DE RENATA

Sabe quando você expande o seu pensamento ao ponto de sentir tudo que está a sua volta?

Esse momento de conexão com o universo é tão intenso que deixa escapar nada….nem o bom, nem o ruim. Vem tudo.

Eu fico pensando e sinto cada pedacinho de vida que me cerca. Percebo as atitudes, as intenções, os desejos e muito mais, os medos. Até os meus medos se expandem. Antes eu não tinha motivos pra ter medo… tinha um monte de nada guardado debaixo da minha cabana…. agora meu medo envolve um monte de tudo. E como hoje eu senti esse medo.

Parafraseando um dito popular: eu sinto que agora tenho algo…e por ter alguma coisa que eu ainda nem sei direito o que é, temo perder.

Essa condição de antena do mundo me direcionou pra um beco sem saída e me obrigou a optar pelo TUDO ou NADA…. acostumada a lidar com nada… fiquei confortável por não precisar escolher ou decidir coisas diferentes dessa opção. Agora ando estranhando o tudo.

Nunca pensei que felicidade se encontrava em potinhos…. e procurei onde ela morava dentro de cada pessoa que me cercava…achei amor, encanto, ilusão, esperança, dor, tristeza….perseverança. A perseverança que eu senti nos outros por tanto tempo, morava também em mim…. e agora ela me confunde.

Agora me coloco na condição de observadora de mim mesma pra baixar o volume do mundo e tentar ouvir o que chama aqui dentro…o que me move pra me confundir novamente pelos pensamentos e me achar pelas palavras.

10958210_10205888085426658_4684666609892689174_n - Renata Lavras Maruca

Renata Lavras Maruca Mulher, mãe, publicitária e cronistas nas horas de desespero. Especialista em marketing de conteúdo digital. Observadora do universo humano e suas correlações” intermundos” (reais e virtuais). Viciada em doces, gordinha por opção e encantada pela sedução inteligente. Prefere sempre vestir em palavras escritas tudo aquilo que reflete ou carece de análise. Resumindo: Complicada e perfeitinha
 

 

Posted on 1 Comment

Amigos para dividir a vida

shutterstock_234386563 amigas

Hoje eu quero compartilhar com vocês um lindo texto que li pela primeira vez na minha adolescência. O texto me tocou profundamente naquele momento, pensei na dor e na solidão que aquele autor sentia e como conseguiu traduzir tão bem aqueles sentimentos em palavras. Pelo que li na época, o texto foi publicado em um grande jornal de São Paulo, não sei qual, também não citava o nome do autor, que talvez não quisesse ser identificado, mas sim adivinhado, porém precisava urgentemente compartilhar o que sentia.

Muitos anos já se passaram desde que li pela primeira vez esse texto e durante todos anos já reli diversas vezes. A conclusão é simples, é importante termos amigos para dividir a vida. Ser e ter aqui se complementam. Sou amiga e tenho também. A VIDA é BELA assim.

Abaixo segue o texto na íntegra.

“Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.” Autor desconhecido

foto-adriana2

 Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência  Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos.  Agradece imensamente a sorte de ter GRANDES AMIGOS 🙂

 

Posted on 2 Comments

COITADINHA E A JANELA DA VIZINHA

shutterstock_155363555 - mulher e janela

Coitadinha tinha uma janela

marrom

A tinta não durava

descascava

Tinta de má qualidade

baratinha

 

Coitadinha se achava esperta

Adorava coisas baratinhas

Comprava MUITO

coisas baratinhas

INÚTEIS

feias

quinquilharias, muitas

mas, esperta que se achava,

baratinhas.

 

A tinta da janela descascava

A tinta do cabelo desbotava

A roupa não tinha caída

Os livros não importavam

 

Coitadinha tinha

03 “amigas”

01 “marido”

01 vizinha – sem aspas

 

A janela da VIZINHA não descascava

A janela da vizinha vivia ABERTA

A JANELA da vizinha era amarela

A janela da vizinha era maior que a dela

 

Coitadinha fofocava

Olhava a janela da vizinha

e fofocava

e procurava

lascas que não encontrava

 

Coitadinha se incomodava

Coitadinha sozinha chorava

10959308_10203700598545176_5268303932415920241_n Dri perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos. Está feliz com suas janelas 🙂

 

Posted on 4 Comments

Ando um pouco consternada.

Passei anos a margem dos padrões, colecionando promessas e relacionando atitudes.

Falava mais. Com o tempo aprendi o peso e a força de cada palavra. Calei, dando lugar a um silêncio que normalmente conta muito mais de mim.

Atualmente observo um tanto além. Aprendi a ler as pessoas pelas controvérsias. O azedume revela as faces e a doçura esconde os defeitos.

Timidamente me resguardo o direito de manter meu pensamento livre, uma vez que os olhos já encontram as diferenças com certa facilidade.

Uns melhores e outros piores. Rodeados de verdades veladas e imersos em atitudes tão voláteis quanto seus valores.

“Há tempos nem os santos tem ao certo a medida da maldade”.

10958210_10205888085426658_4684666609892689174_n - Renata Lavras Maruca

Renata Lavras Maruca Mulher, mãe, publicitária e cronistas nas horas de desespero. Especialista em marketing de conteúdo digital. Observadora do universo humano e suas correlações” intermundos”(reais e virtuais). Viciada em doces, gordinha por opção e encantada pela sedução inteligente. Prefere sempre vestir em palavras escritas tudo aquilo que reflete ou carece de análise. Resumindo: Complicada e perfeitinha
 

Posted on Leave a comment

Férias com muita energia

shutterstock_208962949 (1)

São férias, mas não exatamente para relaxar e ficar fazendo nada. A ideia é justamente o contrário, estar ativo da hora que se acorda até a hora que se vai pra cama.

Trata-se de um conceito que escolas de educação física na Dinamarca introduziram em seu programa de cursos há vários anos visando famílias. Durante o mês de julho, quando é verão no hemisfério norte e os alunos regulares estão de férias, as escolas oferecem pacotes de uma semana, incluindo alojamento, refeições e muitas atividades físicas e recreativas, com opções para pessoas de todas as idades; do netinho até os avós.

A tradição das escolas de educação física, chamadas idrætshøjskole, comecou nos anos 1920 na Dinamarca. Não fazem parte do currículo escolar oficial, mas muitos jovens optam por frequentar essas escolas por períodos de 4, 6 ou 10 meses depois que terminam o ensino médio e antes de ingressarem na universidade.

E não se trata somente de atividade física; os cursos também enfatizam muito o companheirismo e o trabalho em equipe. Assim, quando oferecem os programas para famílias (familiehøjskole), a coisa não é muito diferente. O objetivo de muitas atividades é fazer com que as pessoas se conheçam, façam amizades, descubram interesses em comum e realizem tarefas em conjunto.

Cada programa começa num domingo  à tarde e termina no sábado seguinte. A capacidade é de aproximadamente 150 pessoas por programa. Toda noite após o jantar, são anunciadas as atividades do dia seguinte para adultos e crianças. As crianças são agrupadas por idade, enquanto adultos podem escolher entre diferentes modalidades, como ginástica rítmica e acrobática, escalada, parkour, cross fit, hip hop, ioga, ciclismo, caminhada, pilates, volley, futebol, etc.

Muitas das pessoas que compram esse pacote de férias já praticam alguma atividade física regularmente; outras vão para justamente dar o pontapé inicial e encontrar motivação para continuar se movimentando depois das férias, mas há também uma pequena parcela que acaba praticando em uma semana  todo o esporte que não praticou no ano inteiro.  Para estes, o importante é começar com algo leve. Fazer cross fit, por exemplo, já no primeiro dia, vai  te deixar dolorido para o resto da semana. Experiência própria!

O dia sempre começa com um canto matinal às 9h, logo após o café da manhã, no salão nobre da escola. Cantar é uma tradição na Dinamarca, principalmente em escolas. Após duas ou três canções e algumas informações práticas, cada um sai para o seu destino esportivo  matutino, que dura  uma hora e meia. Entre 11h e 12h, adultos e crianças podem usar as piscinas interna  e externa da escola ou a sala de ginástica acrobática.  Após o almoço, entre 13 e 14h30, há uma pausa, e cada um pode fazer o que quiser . Alguns vão para seus quartos descansar, outros para a sala de leitura e jogos de mesa (nada de eletrônicos!), e outros ainda têm energia para continuar fazendo alguma atividade física. Eu e meu marido às vezes jogávamos beach volley com outros amigos na hora da pausa. Parece exagero, mas depois de uns dois dias nesse ritmo, parece que a gente fica cheia de energia e que o corpo pede para continuar se movimentando.

A partir das 14h30 mais atividades; agora juntando adultos e crianças em brincadeiras tipo gincanas, competições, caça ao tesouro, etc.

Final da tarde, mais piscina. Depois do jantar,  algo mais leve para os adultos, como assistir uma palestra, um filme, ou ouvir um trio de jazz saboreando um bom vinho. O legal de tanta atividade física é que depois as pessoas sentem menos culpa ao saborear uma boa comida, sobremesa, bebida…  Enquanto isso, as crianças continuam brincando nas dependências e espaços verdes da escola, aproveitando os dias longos com luz até quase às 23h.

O pacote ainda inclui uma pequena excursão no meio da semana para algum lugar bonito nas proximidades da escola, como uma praia ou um parque natural.

No final do programa, os participantes já estão tão entrosados entre si e com os instrutores, que são normalmente alunos ou ex-alunos das escolas , que torna difícil a despedida. Durante o último canto matinal, com os agradecimentos e as fotos mostradas em telão não há quem consiga conter uma lagriminha que insiste em escorrer .

Não é à toa que muitas famílias voltam no ano seguinte, e continuam participando por vários anos. Muitos ficam amigos e já combinam de se encontrar de novo no próximo ano. Eu e minha família (marido e dois filhos ) já participamos quatro vezes, em duas escolas diferentes.

Não sei se existe algo parecido no Brasil. Poderia-se comparar um pouco com férias em um hotel tipo resort, mas o padrão de luxo das escolas de educação física da Dinamarca é bem mais simples, embora seja tudo muito bem organizado e profissional. A diferença principal está no enfoque mais acentuado na atividades físicas e principalmente no espírito de conjunto que se cultiva e que muitas vezes acaba criando laços de amizade para o resto da vida.

Por enquanto, os programas para famílias são oferecidos apenas em língua local; já os programas regulares recebem também alunos de outros países.

Para saber mais sobre as escolas, visite o site de algumas delas:

https://www.oure.dk/in-english

https://www.ollerup.dk/?id=57

https://giv.dk/english

mirian 2

Miriam Moraes Bengtsson – É formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCCAMP e possui mestrado em Comunicação e Inglês pela Universidade de Roskilde, na Dinamarca. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação. Natural de Garca, SP, vive atualmente em Copenhague, Dinamarca, com marido e dois filhos, e trabalha com comunicação digital e branding em empresa da área farmacêutica. Em seu tempo livre, gosta de praticar esportes, viajar e estar com família e amigos. Contribui para o Belas Urbanas com suas experiências de viagem.