Muitas pessoas me perguntam em silêncio como pude permanecer numa relação abusiva… Poucos realmente têm empatia pelo que passei e tentam se colocar em meu lugar…. alguns se voluntariam a psicólogos repletos de conselhos “certeiros”…. umas duas ou três tentam entender a fundo as situações pelas quais vivi… ninguém sabe na verdade o que eu senti ou sinto até hoje…. eu mesma procuro diariamente validar meu passado, entender, ressignificar dentro de mim pra então, seguir adiante…. absolutamente ninguém compreende as dores de se viver uma relação abusiva e a dificuldade que é sair dela, só eu e você, que eventualmente passou por isso também… No início tudo parece que vai passar, você se enche de esperança e coragem achando que pode mudar a pessoa que está com você… mas ninguém muda ninguém… as pessoas são o que são… o que muda é a nossa capacidade de enxergar… viver na pele o abuso é uma tortura sem data pra acabar… teve um momento em minha vida que não havia um dia que fosse em que eu não chorava… vivia triste, com medo e ainda assim me achava corajosa… não gostava de me colocar no papel de vítima, então de certa forma eu tentava “mascarar” as situações… eu mesma me enganava… tinha um véu em meus olhos e nada via além… perdi meu amor próprio, minha liberdade, meu direito de ir e vir… vivi presa numa vida, em ciclos eternos… e com isso a coragem vai sumindo, não tinha forças pra sair daquela relação… só sabia ter medo… e foi em um Natal, 25 de dezembro, que com a presença da minha mãe em casa, tive coragem para tomar as rédeas da minha vida de volta…. mas não pensem que foi fácil, não foi nada fácil… vivi dois anos de medos e perseguições de um homem que não aceitava o fim da relação… abri mão de bens materiais, eu achava que estaria “comprando” a minha paz, mas a paz não tem preço… então mudei… larguei emprego, casa, uma vida estável e vim para longe… perto da minha família, perto dos meus…. a cada página virada nessa minha história, sinto mais orgulho de mim… por quem eu fui, por que eu sou e principalmente, por quem estou me tornando…. estou me resgatando, pedaços meus espalhados com o passar do tempo… resgato o que eu era para construir quem eu sou… hoje sim, tenho as rédeas da minha vida em minhas mãos e não permito que ninguém tente tomá-la novamente de mim…
Carol Costa – Bela Urbana, mulher, mãe de dois meninos, bacharel em direito, apaixonada pela escrita, pela vida e movida por sonhos.