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Um segundo congelado no tempo

Eu vivia tranquila
Mal sabia eu
que não tinha problemas
Medos infantis e saúde plena
Preocupações despreocupantes

Quem me dera
ter esse tempo de novo
Eu não soube aproveitar
a simplicidade ingênua
Eu podia cheirar a esperança

Mas em um segundo
tudo mudou
Não havia obstáculo
que pudesse ter me preparado
Um segundo congelado no tempo
Minha alma se arrepiou
Tornou de mim
o que sempre quis ser
Então por que ainda tenho pesadelos?

Hoje a realidade é ilusão
Sei que a única constante
é o coração
Se o tempo parou para mim
o mundo sentiu
eu sei
Aquele segundo que durou
um oceano de tempo

Todas as emoções
passaram pelo meu corpo
Por isso eu sei
só eu sei
tudo o que se pode sentir
sem o peito se partir

Se o tempo parou
como foi que eu mudei?
Em um segundo
não me reconheci
como nada nem ninguém
Nuvens de espaço em branco

Não lembro mais quem era
apesar de ainda o ser
O que importava já é insignificante
Um mar de rostos sem face
Uma lembrança nublada

Hoje eu vejo
que o mundo é dividido
entre antes e depois
dessa notícia
Na minha lembrança
o antes brilha
Mas hoje eu sei que
o passado só é bonito
porque se perdeu
e não vai voltar

Como saberia eu
que poderiam arrancar
toda a minha substância
do meu peito
com poucas palavras
que nem doeram?
O olhar
Sim
o olhar foi pior
Olhar mata
sabia?

Hoje sei
que não seria quem sou
sem esse segundo
De alguma forma
ele acontece
até hoje
Sempre aconteceu
e nunca deixará de ser
Eu sou ele
e ele igualmente me tem
O segundo mais vazio
e mais saturado de todos

Por um segundo congelado no tempo
eu sempre vou
viver

Giulia Giacomello Pompilio – Bela Urbana, estudante de engenharia mecânica da UNICAMP, participa de grupos ativistas e feministas da faculdade, como o Engenheiras que Resistem. Fluente em 4 idiomas. Gosta de escrever poemas, contos e textos curtos, jogar tênis, aprender novos instrumentos e dançar sapateado. Foi premiada em olimpíadas e concursos nacionais e internacionais de matemática, programação, astronomia e física, além de ter um prêmio em uma simulação oficial da ONU

 

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Ninguém perguntou se ela queria

 

Coitada da Torre Eiffel
Que faça chuva ou faça neve
Brilha
Todas as noites
Tem que estar sempre
Completamente
Inquestionavelmente
Impecável
Que não pode nem por um segundo
ser menos que perfeita

Ninguém perguntou se ela queria estar lá
Exposta
Nua
A todos os momentos da sua vida
Apenas seu exterior sendo admirado

Sem ninguém nunca questionar
Como ela se sente
De onde veio
Para onde gostaria de ir
Todas as noites
Não importa o que ela pense
Ela brilha
Pro mundo todo
Está sempre de cabeça erguida
Infalível
Brilhando

Sem ninguém sequer ter indagado
Se era isso o que ela queria
O livre arbítrio brutalmente
Tirado de suas mãos

E todas as noites ela brilha
Pontualmente
Não importam os rostos feios encarando
Ela brilha
Só se tem certeza da morte
E que de hora em hora ela estará brilhando
Para todos
Menos
para
ela
Seu destino irrefutavelmente fora do seu alcance

Apenas um objeto de admiração
Incontáveis
Turistas
Desconhecidos
Estranhos
Todas as noites
Invadindo seu espaço
Sem questionar
Sem pedir
Sem permissão

E mesmo assim
Todas as noites
Ela estará lá
De ferro
Encantadora
Prestativa
Pontual
Sem jamais se queixar
Brilhando

– este não é um poema sobre uma torre

Giulia Giacomello Pompilio – Bela Urbana, estudante de engenharia mecânica da UNICAMP, participa de grupos ativistas e feministas da faculdade, como o Engenheiras que Resistem. Fluente em 4 idiomas. Gosta de escrever poemas, contos e textos curtos, jogar tênis, aprender novos instrumentos e dançar sapateado. Foi premiada em olimpíadas e concursos nacionais e internacionais de matemática, programação, astronomia e física, além de ter um prêmio em uma simulação oficial da ONU