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A palavra da vez é Rizoma

Substantivo masculino. 1. MORFOLOGIA BOTÂNICA: caule subterrâneo e rico em reservas, comum em plantas vivazes, caracterizado pela presença de escamas e gemas, capaz de emitir ramos folíferos, floríferos e raízes; 2. FIGURADO: base sólida que legitima ou autoriza alguma coisa; fundamento, raiz.

Essa é a resposta que o Google trás quando perguntado. Essa palavra, de dois significados possíveis, dentro da acepção digital desse oráculo, é usada por muitos dentro do campo filosófico dos botecos como algo que lembra a forma da raiz (cheia de ramificações e distribuições ao redor do solo) e, por isso serve de metáfora a vários sentidos possíveis de reflexão.

A vida não tem uma linearidade. Não é reta, previsível ou facilmente plano-execução. Ela tem seus percalços, que por nós são desviados. Nossa vida, e nossa história, são cheias de ramificações, seja por mudanças simples de rotas ou por desvios em eventuais problemas, dilemas, dialéticas. A vida é, portanto, um rizoma.

O Google, como vimos, apresenta duas possibilidades de interpretação para essa palavra: Raiz rica em reservas e comum às plantas muito vivas, ou base sólida, legitimadora. A vida, por ser cheia de desvios de rota, vai criando no solo de nossa história um conjunto de caminhos por onde busca seu alimento e se abastece de nutrientes. A vida, portanto, a cada desvio de rota, consolida mais nossa estrutura, nossa firmeza. A vida, como rizoma, é rica.

Por muito tempo, pensei que os desvios de rota em meus sonhos seriam fraquezas. Por muito tempo, esses desvios criavam em mim uma sensação de fracasso. Desde que entendi essa palavrinha, tenho me botado a pensar: o que me fez desviar de uma rota senão a necessidade de encontrar soluções para problemas da própria rota, me tornando capaz de continuar. Seria isso menos legítimo? Talvez não.

Renunciar à história de nossas vidas, dentro dessa pequena reflexão, é renunciar a beleza da flor que, sustentada por mil platôs de caminhos desviados por debaixo da terra, encontra alimento para alcançar os céus. Imaginei minha flor vermelha, pois ela se tornou amarela. Encontrou outros nutrientes e se fez assim, bela. Não pela beleza que quis, mas pela beleza que a vida, em seus descaminhos proporcionou.

Que meu olhar veja na flor de cada um, não a beleza que ele aparenta ter desenvolvido, mas os nutrientes escondidos de uma vida de raízes lutadoras e vencedoras. Que assim seja.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
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Esperar é caminhar

Há pouco tempo conheci o provérbio judaico “o homem faz planos e Deus dá risadas”. Na minha interpretação, acho que Deus dá gargalhadas!

Eu faço planos e traço minuciosamente o trajeto a ser percorrido. No entanto, a rota inicialmente traçada sofre alterações no decorrer da caminhada. São nesses momentos de mudanças que me deparo com as “gargalhadas divinas”.

Nasci e me criei na agitação de São Paulo. Depois dos trinta anos de idade, fui para o interior para acompanhar meu marido nas mudanças do trabalho. Morei em Bauru, morei em Campinas. Atualmente, voltei para São Paulo e estou penando para enfrentar o ritmo da minha cidade.

Eu já encarei a mudança de carreira profissional. Minha primeira formação é Administração. Por dez anos trabalhei ativamente em funções administrativas, mas minha grande paixão é ensinar. Então, quando tive uma oportunidade fiz o curso de Letras e depois de alguns anos comecei a dar aula, unindo minha paixão ao meu ganha-pão.

Desde pequena meu sonho é ser mãe. Segui o caminho conhecido tradicionalmente, que é namorar, noivar e casar. Estou casada há 13 anos, numa união cheia de paz e amor. Mas, os filhos como sonhados e planejados não vieram. Meu marido e eu fizemos tratamento de reprodução assistida e não deu certo. A vida é assim! Não temos controle sobre o fôlego da vida.

Meus planos foram desconstruídos e novas construções começaram a surgir. A vida apresentou o caminho da adoção. Começamos a jornada e estamos habilitados para recebermos nossos filhos. A qualquer momento o telefone vai tocar e a vida vai nos levar para outros caminhos. Enquanto esperamos, vivemos!

Eu poderia escrever muito e profundamente sobre cada etapa, mas por hoje só considero um provérbio bíblico que me acompanha “o homem faz planos, mas Deus dá a palavra final”. Continuo fazendo meus planos, com menos rigor, porque aprendi que a cada mudança eu me desenvolvo muito mais.

Viver exige escolhas e cada escolha apresenta um caminho que precisa ser trilhado. Esperar é caminhar.

Miriam Camelo de Assis – Bela Urbana, alguém sendo constantemente reformada pelas palavras. Formada em administração e letras. É professora de língua portuguesa por profissão e paixão. Ama artesanato e uma boa conversa.