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Avó pela primeira vez

Ultimamente, li um post que dizia a diferença entre ser velha e ser idosa.
A primeira é triste e desanimada, já se coloca de chinelos e passa o maior tempo da vida fechada e quieta.
A segunda tem idade igual à outra, mas continua ativa, alegre e animada para a vida.
Eu não me sinto velha; eu sou mais do segundo tipo.
Ser avó pode fazer você ser considerada em uma das categorias que te faz ser considerada idosa. Mas pode-se ser avó com 40 anos, como foi o caso de minha mãe e tantas outras.
Certo dia, em 2013, no programa Saia Justa da GNT, as mulheres falavam sobre as diferenças entre as avós de um tempo e as de hoje. Coincidiu com o que eu já vinha pensando em escrever há muito tempo. Com isso, senti mais uma força para tratar desse tema. Assim, comecei a tomar coragem para enfrentar a parada, escrever as minhas impressões como “nova avó”. Nesse mesmo ano, com a gravidez da minha filha e a chegada do primeiro neto, caiu a ficha, e comecei a assumir o papel de avó, nova experiência na minha vida.
Na verdade, nunca senti nenhum medo de ser avó. Muitas mulheres temem assumir esse título pelo receio de serem consideradas ‘velhas’. Eu não.
Ser mais idosa, essa associação com o fato de ter netos, nunca me afligiu; sempre considerei ser melhor viver muito do que deixar de passar pelas etapas naturais que o tempo nos permite. Acho até que demorou muito para meus filhos resolverem ter filhos, mas, finalmente, chegou o dia em 2013. Minha mãe foi avó bem mais cedo do que eu. Ela já se tornou avó com 43 quando eu me tornei mãe de um menino, pela primeira vez, aos 23.
Diferente de nós, minha filha, nascida três anos depois do primeiro, vai ser mãe com 35. Portanto, só aos 61 me tornei avó pela primeira vez.
Como é a sensação de ser avó para muitas de vocês?
Quais são as impressões que as futuras vovós já têm?

Flailda Brito Garboggini – Bela Urbana, Pós graduada em marketing, Doutora em comunicação e semiótica. Dois filhos e quatro netos. Formada em piano clássico. Hobbies música, cinema, fotografia e vídeo. Nascida em São Paulo. 4 anos como aluna, 35 anos como professora de Publicidade na PUC Campinas. É aquariana (ao pé da letra).
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Existe um eu sou?

Somos aquilo que pensamos ser? Será que me vejo a partir do meu próprio olhar
ou através do olhar dos outros — a começar pela família e, posteriormente, pela
sociedade — que nos impõe valores e comportamentos com a promessa de que
seremos aceitos e amados?

É verdade que nascemos num mundo factual, onde as coisas já estão dadas e
sobre as quais não temos o menor controle, como o lugar de nascimento, a
família, a cor da pele, entre outros. Somos frutos da nossa época, com a sua
historicidade, cultura e contingências.

A princípio, somos natureza in natura, expressando-se na sua potência de ser e
existir. Ao interagir com o mundo, experimentamos uma força de expansão e
criação — sobretudo de nós mesmos. Neste estado, onde o existir se assemelha
a uma experiência de comunhão com o mundo e com o outro, tudo se entrelaça,
favorecendo a continuidade do ser e tornando-nos uma versão inédita de nós
próprios.

Nesta perspectiva, o sentir e o pensar estão integrados, de tal modo que as
palavras não conseguem conter a linguagem dos afetos — são apenas pontes
entre a experiência partilhada e o indizível do mundo particular que compõe cada
um de nós.

Seguimos pela vida em busca de nós mesmos — ora vivenciando algo mais
próprio, ora nos perdendo em meio aos discursos e falatórios da cultura a que
pertencemos. Todavia, a doce e terrível angústia de ter de ser as minhas
possibilidades, num mundo fluido e dinâmico, convoca-me a transformações e
realizações.

Quando estamos abertos para compor com o fluxo da vida, renunciando à
segurança de um pertencer engessado — isto é, aceitando que não podemos
deter a vida, pois ela nos escapa por entre os dedos — somos então lançados à
aventura de nos criar e recriar na novidade de cada instante.

A ideia de controle retira-nos do movimento da vida, reduzindo o ser a uma
representação daquilo que gostaríamos que fosse. Todavia, não há nada mais
real e potente do que sermos nós mesmos. A busca pela perfeição objetifica-nos
e rouba-nos a beleza do fazer-se e do tornar-se aquilo que se é. É interessante
pensar que um lindo vaso de argila, na sua origem, foi apenas uma massa
disforme; porém, quando moldada pelas mãos de um artífice, transforma-se
numa obra de arte. É possível imaginar a vida como movimento, de modo que
em algum momento, no tempo e no espaço, tal vaso possa retornar à sua origem.
Viver é um estado de permanente recomeço. Noite e dia ressurgem, a cada vez,
de modos diferentes e, assim, passado, presente e futuro encontram-se num
fazer contínuo. A bagagem do passado serve-nos de matéria-prima, que será
atualizada pelo presente, tornando-se a semente para um futuro que já desde
sempre começou. O futuro é um esboço de um amanhã que será preenchido, a
cada dia, ao seu modo. Somente ao final de uma vida podemos vislumbrar a
obra concluída — e não há nada mais sublime do que perceber-se coautor da
própria existência.

Somos complexos, múltiplos e diversos, pois, a cada instante, surgem inúmeras
possibilidades de novos arranjos e combinações com a experiência vivida.
Considerando, assim, as infinitas possibilidades que se apresentam diante de
nós e a finitude que nos constitui, é inevitável lidarmos com a dor de ser e deixar
de ser. Afinal, para que algo possa nascer como possibilidade vivida, outras
possibilidades precisam ser inviabilizadas — ao menos naquele instante no
tempo.

Considerando que somos uma metamorfose ambulante, como cantou Raul
Seixas, na origem de tudo encontra-se um existir vazio, mas potente de
possibilidades — um lugar nunca preenchido, de onde emana o ato criativo.
Podemos, assim, transcender a finitude da vida quando, ao contemplar as
infinitas possibilidades, damos o salto de fé — mergulhando na direção de
algumas delas, não com a pretensão de acertar, mas com o intuito de uma
expansão e autor realização.

O salto de fé projeta-nos para fora, levando-nos, paradoxalmente, a mergulhar
mais fundo em nós mesmos. Tal como as plantas que se estressam no outono
com a chegada do inverno, também aprofundamos nossas raízes para, mais
tarde, florescer com maior vigor.

Às vezes, devido às nossas inseguranças, sentimos necessidade de nos apoiar
em coisas — como a grife de uma roupa, o copo de cristal, um lugar turístico,
entre outros — em busca de garantias para um bom encontro. No entanto,
quando o bom encontro realmente acontece, tais coisas tornam-se irrelevantes.
A vida é assim: quando tentamos definir o que é dançar, perdemos a dança.

Pensar a vida fora da experiência vivida é um trabalho infrutífero — oferece-nos
apenas a ilusão de algo possível para além da nossa própria trajetória singular,
feita de dores e alegrias. Crescer envolve uma dor necessária, pois novas
estruturas estão sendo forjadas para que novas fontes de vida possam nascer e
jorrar do nosso interior.

Maria das Graças Guedes de Carvalho – Psicologa. Ama a vida e suas dádivas como ser mãe, cuidar de pessoas e visitar o mar.

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Mistérios e encantos

Hoje vi o Mar e me encantei novamente com suas ondulações radiantes, sua capacidade de refletir a luz do sol e se mostrar tão belo, límpido, tão espelhado!

Há detalhes escondidos por entre as pedras que resistem nas suas orlas! Vidas que persistem em seu entorno! Pequenos lugares propícios, esconderijos de vidas marinhas!

Mais além, há uma imensidão azulada, que tomou a forma do Céu e guarda nas profundezas escuras o segredo da Vida,

O eterno movimento dos contrastes.

Luz e sombra, calor e frio. Concentrar-se em seus antros inimagináveis e esparramar suas espumas na superfície.

Às vezes plácido movimento, outras vezes, furiosas tempestades, mas sempre entregando a Beleza que recolhe do seu interior!

Ana Paixão – Bela Urbana, filosofa, pedagoga, palestrante e educadora que trabalha com treinamentos há mais de 10 anos

 

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O exercício de poder e o vocábulo indizível do que se sente

Achou que podia ser ríspido comigo, achou que podia ser displicente comigo, achou que podia me criticar por falhas que não cometi, assim fez.

Achou que podia exigir de mim o sexo que não consegui, achou que tinha mais razão e quando reclamei, achou que sempre recebia a culpa de tudo no mundo. Achou que podia me vigorar, vigiar minhas mensagens, meus eletrônicos, pós câmera escondida, criticou minha negativa, era amor. E de achar em achar, se criou o hábito, se perdeu o espaço e a vida.

Era para si o centro de tudo que era bom e tudo que era ruim. O resto orbitava. Me sentia o resto. E quando debatemos essa relação de centro e periferia, apenas eu tinha algo a fazer, mudar e repensar. Até o que no pacto era de sua responsabilidade, eu tinha que sinalizar. Eu era o servo.
Eu tinha a faca, o queijo, o machucado, a culpa do corte e o curativo para colocar, e apenas uma mão para fazer tudo isso. Não era queijo, mas minha queixa, meu problema, minha solução que me machucava e que não permitia atender a demanda de alguem. Tudo isso para resolver ao mesmo tempo, senão adeus. Pior solidão é aquela na qual quem está contigo te impõe. E impõe ao ponto de querer dormir numa noite fria com ventilador, apenas para sentir o abraço quente de um cobertor.

Que poder tem Narciso sobre seu espelho, se só o que ele vê é sua estonteante imagem? Apenas poder sobre aquele que lhe presenteia com espelho, limpa o espelho, carrega o espelho e mesmo assim, ergue o espelho no ângulo incorreto. Sobre esse serviçal recai o poder de quem só quer ver a si, sofre por não ter com quem se espelhar, chora de barriga cheia de si, de umbigo.

E quando se libertar? Quando ressuscitar meu narciso e lutar? Quando conseguir comunicar mercuriosa minhas vontades em uma negociação diplomática por território? Ou simplesmente aceitar que a vida é assim, uma condição rara de uma doença chamada amor que, aos desafortunados, aparece como lepra?

A cada um que sofre, uma solução. Mas de fato, belas palavras servem apenas para ampliar um vocábulo de sentimentos inomináveis que tentamos, de análise em análise elaborar. Um vocabulário que não serve a ninguem, a não ser ao que adquire. Individual vocabulário que não conseguimos comunicar. E por lógica, o vocabulário que não se usa para comunicar, não existe. Mas por que ele está lá, dentro de nós, como sentimentos indecifráveis?

E se o que sentimos, de bom ou ruim, reside em um vocabulário indecifrável ao outro, como negociar a paz? Se nossa necessidade é incomunicável, como ser atendido pelo outro? E se não podemos contar com seu esforço em tentar entender nossa arqueologia gráfica emocional? Capaz que uma boa relação se faz de pessoas que tentam decifrar um ao outro, sabendo da inglória tarefa de fazê-lo, abastecendo- se de perceber o quanto o outro tenta. E tenta para estar junto.

E nessa tentativa, o exercício de poder (exercido com o achar que pode) se esvai, pois encontra sempre uma demanda alheia que pode atender antes de trazer a sua, na certeza que será atendida ou mesmo tentada. Uma troca de gentilezas que tenta acolher e ler o outro de forma sincera. Capaz que seja isso. Capaz que não.

Esse texto vai ganhando ares cada vez mais contornos incompreensíveis e preciso aqui parar. Tentativas de expor meu sentimento indecifrável só irá confundir o leitor. Espero que apenas amplie o vocabulário interno, para que a capacidade de ler o outro seja uma vez mais a ode da vida em relação. Sem deixar de ser ouvido e compreendido para tornar-se nem servo nem capataz, mas sim, na troca de tentativas, ser mais nós que eu.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
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Cinquenta anos pela frente

Nem sempre está tudo no lugar. Nem sempre dá certo. Tentamos novamente, com a esperança de que dê certo, mas também com a consciência de que pode não dar. E, francamente, tudo bem.

Gosto de mesas bem postas e jantares tardios, daqueles em que nos sentamos à mesa às 21h e saímos de lá às 2h ou 3h da manhã, com o rosto doendo de tanto rir e a alma renovada na presença de bons amigos. Sim, eu sou daquele que quer o melhor, mas sem que esse melhor passe por cima de quem amo. Às vezes, me distancio; outras vezes, me aproximo, como a maré que molha as margens do rio, mas sempre passando.

Gosto de poesia e de boa música, de curtir um jazz enquanto leio Jane Austen. Agora, imagine isso com uma bela taça de vinho sobre a mesa… Não tem preço. São pedaços e momentos que guardo dentro de mim, que fantasio e, às vezes, também não dão certo. E tudo bem. Tudo bem porque estamos ao lado de quem amamos e fazendo o que amamos: cuidando uns dos outros.

Nossa casa, nossa vida, nossos momentos… Tão nossos que nos desacostumamos com essa tal de privacidade. Sabemos que, em algum momento, ouviremos a famosa frase: “Tudo tem que ser do seu jeito?”. É nesse instante que percebemos que escolhemos o caminho certo. Porque olhamos nos olhos de quem amamos e nos entregamos com intensidade, sem dar o braço a torcer. Mas, invariavelmente, faremos o que elas pedem.

Algumas pedem com um tom mais firme, outras conquistam pelo coração, falando baixinho o que querem. E eu, como bom padrasto bobo, sempre cedo. E o pior? Gosto disso.

Devo estar realmente ficando louco. A entrada nos cinquenta anos de idade me fez perder um parafuso. Sim, eu disse que gosto de tudo isso: dos problemas, das coisas que, teoricamente, não dão certo, das tentativas, das discordâncias de ideias e, de vez em quando — e que fique claro, de vez em quando —, eu gosto também das brigas (risos).

É assim o roteiro de um filme? Seria aqui que, no meu filme da vida, apareceria a legenda: “E viveram felizes para sempre”? Risos. Tudo dando tão certo, tudo no caminho correto porque acreditamos no Pai Maior, em Deus.

Será esta a colheita de que sempre falamos? Colher o carinho e o coração de cada um que temos ao nosso redor?

Poxa, se for isso, Deus me agraciou muito mesmo. A família que amo. Os amigos que me aturam com um baita bom humor. As sobrinhas adotadas que passaram a fazer parte do meu coração e sequer cogitaram pagar aluguel — vê se pode? Amigos que são tão parte de mim que, às vezes, me confundo. Já sabemos a reação um do outro e, com delicadeza (e às vezes brutalidade), falamos o que pensamos. Mas é tudo tão perfeito, tudo tão bom.

E dentro de casa, a beleza do coração de duas mulheres.

A primeira, minha esposa, que me agracia com tudo o que um homem poderia sonhar: carinho, sabedoria, persistência e, principalmente, amor.

A segunda carrega consigo a força da juventude, que transita entre a menina e a mulher. Como essa mulher me ensina! Deita no meu colo e me pede cafuné. Me ensina a ser uma pessoa melhor.

Sim, de verdade, com amor a Deus, nesses últimos cinquenta anos que vivi, tudo o que pedi ao Pai me foi concedido. Nada, absolutamente nada, ficou sem resposta.

Lembra, Pai, quando questionei os Teus caminhos? Quando chorei sobre as Tuas decisões? Sempre me olhaste com Teu sorriso paterno, no bater das asas de uma borboleta. Nunca Te iraste porque duvidei, nunca soltaste minha mão. E aqui estou.

Lembra, Pai, quando Te perguntei por que me colocaste entre pessoas tão boas? Quando disse que acreditava não ter como contribuir com o mundo? E Tu, através dos pássaros que alegram os dias, me sorriste.

Sim, Pai, que ensinamentos recebi de Ti! Que conhecimentos me deste sem pedir nada em troca. Com paciência e fé, apenas disseste: “Segue em frente, filho. Tudo vai dar certo”.

Tudo deu certo. E vai continuar dando. Mesmo se algo sair do controle, tudo bem. Vamos vencer.

Bom, tenho mais cinquenta anos pela frente. Há muito a planejar. Não dá para ficar parado apenas falando com vocês.

Bora curtir a vida!

Um beijo.

Amo vocês.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.

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No devido tempo

Em uma das primeiras oportunidades de visitar a Bienal de Artes de São Paulo, vi uma obra que me marcou muito. Não me recordo o nome da artista mas o titulo da obra era “O Tempo”.

Eram vários vergalhões (ferros de construção) de bitola larga empilhados, sendo que os que estavam rentes ao chão eram de um azul índigo com seus reflexos róseos. Conforme esses ferros eram sobrepostos, sua coloração ia se tornando alaranjada, de um tom vibrante, vivo.

Essa imagem ficou gravada em minha memória e anos depois, quando comecei a fazer esculturas em ferro, foi essa coloração acesa da ferrugem que me arrebatou.

Era o ano 1996, quando o tema Sustentabilidade, reutilização, enfim, os 5Rs não estavam no ‘mainstreaming’; eu valorizava a releitura do material.

Ressignificar o que se descarta, não é lixo.

Era uma forma de estimular uma reflexão do consumo consciente.

Nesse tempo, trabalhando com plantas e jardins, aprendi a respeitar e acompanhar o ritmo da Natureza. Esperar a época certa para podas, para semear, esperar a época certa da floração de cada espécie; vivenciar as estações do ano equilibrou a ansiedade, o descontrole emocional e mental.

Algumas clientes me chamavam para mostrar uma folha amarelada de uma planta e então percebi o quanto a sociedade atual tinha se distanciado da visão do envelhecer.

Os idosos já não conviviam com os filhos, com os netos e estes perdiam a oportunidade de ouvir sobre suas raízes, sobre suas origens.

Como valorizar a história da sua cidade, do seu país se não houver a valorização de suas próprias memórias?

O real valor de qualquer coisa, de qualquer projeto, de qualquer alimento, lhe é atribuído de acordo com o tempo que lhe é dedicado.

Quando se trata de curas das questões internas, cada um tem seu tempo.

Atualmente as pessoas falam muito em resiliência, se cobram e são cobradas por uma recuperação, reação rápida ao incômodo fato ocorrido, contudo, nesse processo o que importa é o quão profunda e consciente será a transmutação.

Nas do Ser, Chronos, o Senhor do Tempo, reina.

Também chamado em latim, Aeon, “eternidade”. Na mitologia grega era a personificação do ‘tempo eterno e imortal’.

Carece aqui invocar Kairós, a qualidade do tempo vivido, segundo a Bíblia, “o Tempo de Deus”.

Enfim, aproveite seu tempo no seu tempo!

“Que ele seja eterno enquanto dure”. (Vinícius de Moraes)

Érika Taguchi – Publicitária por formação, com especialização em Marketing além de: terapeuta holística, praticante de Yoga Arhatica, fundadora do Instituto Sempre Vivva, artesã, cozinheira, costureira, poeta, jardineira, personal organizer e tantas outras definições mais.

 

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Não me peça para repetir

Eu estava sentada em minha varanda, (re)lendo Martha Medeiros, enquanto ativava a vitamina D e eis que um pensamento do tamanho de um elefante passou por mim e eu tive que dar atenção a ele.

Parei a leitura e deixei quarar as ideias, sob o mesmo sol.

O tempo é gerente de mudanças.

Quem passou pelo período pandêmico, como eu, entendeu a incógnita de que mesmo isolados, mudamos. Por vontade, por necessidade ou à revelia, mudamos.

E, como disse a poetisa, a direção é mais importante que a velocidade.

Num flashback, algumas cenas me vieram à memória e eu pude apreciar as minhas escolhas dos últimos anos. Tenho vivido intencionalmente experiências que me ajudam a compreender a complexa equação do tempo, onde o passado e o futuro são fortunas, mas, é para o presente que dou o cuidado que eu mereço.

Merecer, no meu dicionário, é não permitir que a maturidade estrague o que eu conquistei, por isso, eu só o conjugo no presente, e presente é presente mesmo.

Já reparou que há coisas muito boas de se viver que não precisam se repetir?

O bem-estar e a alegria de determinados momentos têm lugar especialíssimo no meu coração, têm efeito em mim, mas, não quero que se repita!

Não quero que se repita é artigo definido de decisão.

A vida é uma sucessão de acontecimentos e não quero me apegar a nenhuma fração. Quero celebrar os momentos, honrar as lembranças e, principalmente, agradecer às pessoas pelas parcerias amorosas que são inegavelmente a composição de uma história que continua.

O tempo comunga a beleza de senti-lo.

Percebo que na tentativa de reproduzir os acontecimentos, reeditar sensações e sentimentos, desperta-se as frustrações. Afinal, um passo à frente e não se está mais onde estava, não sou a mesma, não há razão para querer que as coisas sejam.

Sabe quando você faz uma viagem maravilhosa e pensa em voltar todos os anos? Nunca será igual, não é? Pode ser melhor, pode ser pior, sempre será diferente, porque o tempo não estaciona e a natureza é movimento contínuo.

Quero lembrar, quero comemorar, quero me emocionar com o que passou, só não quero repetir.

Dito isso, não conte comigo! Reservo minha energia para criar experiências novas, intencionais e significativas, com memória, com planejamento, com perspectivas e com pessoas como você…

Refletir me alivia do peso de dizer não, pois, eu não quero ser rude, mas já não posso ser quem fui se até o elefante que passou por aqui não é mais o mesmo. Partiu, todo decidido a visitar outras cabeças.

Dany Cais – Fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. Iinstagram @daniela.cais
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Carta ao meu Passado

Querido Passado,

Você deveria estar lá, no passado. Mas não é assim: você está no meu presente de forma consciente ou inconsciente. Esse não é mais o seu lugar. Seu lugar é lá, no passado.

“Mas Paula, eu estou no passado. É você quem me traz e continua carregando no presente. Me deixa no meu lugar, me deixa para trás” – diz o meu Passado.

Você tem razão. Lá você está muito bem. Agora que eu penso, lá você está muito bem. Você pertence ao passado, esse é o seu lugar. Não adianta trazer você para o presente porque você não encaixa aqui, você é uma peça de um quebra-cabeça que estou tentando encaixar no meu presente; e obviamente você não encaixa porque meu quebra-cabeça atual é outro, já não é o mesmo do meu passado.

“Então me deixa para trás! Me solta! Se liberta!” – diz o meu Passado.

Sim, Passado. Você tem razão. Obrigada por tudo que você me ensinou quando era o meu presente, mas como você já não é meu presente, preciso deixar você ir embora. Respeito o seu lugar e não deixarei você entrar no meu presente de novo porque você já não existe mais.

“Paula, se perdoa! Me liberando e me deixando no passado você vai se perdoar” – diz meu Passado.

Assim é, Passado. Eu te libero. Eu sinto muito, me perdoe, sou grata, eu te amo.

Com carinho,

Paula.

Paula Andrea Benavides –  É colombiana, mora no Brasil há 13 anos, mãe da Gabi de 11 anos, franqueada de uma escola de idiomas, é solteira.
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Vivemos esperando

Vivemos esperando. O que você está esperando? Talvez, no atual contexto da sua vida, sua resposta seja simples: “estou esperando o ônibus, o carro de aplicativo, a fila do supermercado andar, a chuva passar”. Para outros leitores e ouvintes, a resposta poderá ser mais complexa, com embargo na voz e um nó na garganta sairá um espremido “estou esperando o diagnóstico de tal exame, a reconciliação de pessoas queridas, o retorno ao lar, a fila da adoção andar”.

O verbo ESPERAR é conjugado por todos, com demandas e tempo diferentes. Em relação ao TEMPO, o sábio Salomão escreveu “Há um tempo certo para cada coisa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu”. Concluo que o tempo e a espera são elementos da vida humana com implicações distintas mediante as fases da vida.

Na atual fase da história da minha vida, o tempo cronológico marca a chegada dos 40 anos; o tempo psicológico brinca com o sonho da maternidade, afinal faz tempo que estou na fila da adoção e até já escrevi um livro sobre isso, intitulado “Enquanto espero”. Enquanto espero meus filhos, surgem outras esperas que custam meu bem mais valioso – o tempo.

Entre uma espera e outra, enquanto escrevo este texto, ecoa em minha mente a música “Oração ao tempo” de Caetano Veloso. Estou convicta de que há tempo para todas as coisas, porque tudo passa como já cantava Ivete Sangalo “quando a chuva passar, quando o tempo abrir, abra a janela e veja eu sou o sol”. No mesmo compasso, reafirmo o início do meu texto com um trecho do Jota Quest “Vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais”.

Miriam Camelo de Assis – Bela Urbana, alguém sendo constantemente reformada pelas palavras. Formada em administração e letras. É professora de língua portuguesa por profissão e paixão. Ama artesanato e uma boa conversa.

 

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Uma faxina em todos os tempos

Sobre o tempo, temos o presente, o passado e o futuro.

Somente os fatos bons e agradáveis que ocorreram no passado deveriam influenciar o presente e o futuro.

Os fatos ruins que ocorreram no passado, se eles ainda interferem no presente é porque alguém, muitas vezes nós mesmos, damos uma utilidade a esse fato. Seja para nos vitimizarmos ou para punirmos alguém cobrando faturas eternas.

E os fatos ocorridos no passado, já não são mais reais. São meras lembranças.

Então vamos nos propor a fazer uma faxina dos fatos ruins do passado? Vamos nos libertar e seguir em frente? A energia que gastamos para construir o futuro tem que ser sempre maior que a energia que gastamos para remoer, entender ou justificar o passado.

Não é uma tarefa fácil. E acho que faço esse chamado para também me encorajar. A encarar aquelas lembranças e mágoas que geraram tantas birras. Com fulano, com ciclano, com o pai, com a mãe, com isso que não funciona, com aquilo que não me serve, com tudo com o que eu implico. Encarar com maturidade o que precisa ser reparado ou retratado, para dar um fim à utilidade de mais uma história triste. E assim eliminar mais uma pedra que pesa na minha caminhada.

Que nossas construções para o futuro sejam limpas e leves. Que nossos esforços sejam focados somente na construção dos nossos maiores sonhos. Que estejamos sinceramente empenhados em ter uma vida plenamente feliz. E que no futuro, todas as pessoas encontrem a harmonia e a empatia dentro dos seus relacionamentos e dos seus núcleos mais próximos e queridos.
Pois assim, o tempo estará cada dia mais, a nosso favor.

Noemia Watanabe – Bela Urbana, mãe da Larissa e química por formação. Há tempos não trabalha mais com química e hoje começa aos poucos se encantar com a alquimia da culinária. Dedica-se às relações comerciais em meios empresariais, mas sonha um dia atuar diretamente com público. Não é escritora nem filósofa. Apenas gosta de contemplar os surpreendentes caminhos da vida.