Posted on Leave a comment

Mãe on

Hoje olhei a estante onde juntei os livros que o filho que foi pra longe, deixou. Um me chamou atenção e resolvi pegar para ler: Zen e a arte de salvar o planeta.

Bela descoberta de leitura e de um lado das escolhas do filho.

Sai abrindo gavetas do passado onde esse menino que agora já vai nos 30, tinha 6, 7 anos. Aprendeu a ler, se agarrou aos livros e não soltou mais.

Todos os de Harry Potter lia e relia. Ficção, histórias reais, filosofia, política foram acompanhando seu crescimento.

Ao lado um grande incentivados, o pai. Livros de presente, sempre.

Ele entre aulas de jiu-jitsu, academia, surf, namoradas e amigos, um livro por perto.

Silêncio no quarto, livro na mão.

Café na padaria, na livraria, livro na mão. Aeroporto, avião, livros na mão.

Hoje ao ler o Zen me deparei com suspiros de alegria e enormes saudades de vê-lo no silêncio de um livro.

As estantes agora vazias, encheram as caixas de mudança.

Hoje ele está nas montanhas geladas trabalhando, vivendo.

A saudade se intensifica e vira esperança. Esperança de revê-lo feliz em cada escolha. Esperança que nossos caminhos se cruzem em algum momento e eu possa de novo admirá-lo num canto qualquer amarrado a um livro.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.

 

Posted on Leave a comment

O exercício de poder e o vocábulo indizível do que se sente

Achou que podia ser ríspido comigo, achou que podia ser displicente comigo, achou que podia me criticar por falhas que não cometi, assim fez.

Achou que podia exigir de mim o sexo que não consegui, achou que tinha mais razão e quando reclamei, achou que sempre recebia a culpa de tudo no mundo. Achou que podia me vigorar, vigiar minhas mensagens, meus eletrônicos, pós câmera escondida, criticou minha negativa, era amor. E de achar em achar, se criou o hábito, se perdeu o espaço e a vida.

Era para si o centro de tudo que era bom e tudo que era ruim. O resto orbitava. Me sentia o resto. E quando debatemos essa relação de centro e periferia, apenas eu tinha algo a fazer, mudar e repensar. Até o que no pacto era de sua responsabilidade, eu tinha que sinalizar. Eu era o servo.
Eu tinha a faca, o queijo, o machucado, a culpa do corte e o curativo para colocar, e apenas uma mão para fazer tudo isso. Não era queijo, mas minha queixa, meu problema, minha solução que me machucava e que não permitia atender a demanda de alguem. Tudo isso para resolver ao mesmo tempo, senão adeus. Pior solidão é aquela na qual quem está contigo te impõe. E impõe ao ponto de querer dormir numa noite fria com ventilador, apenas para sentir o abraço quente de um cobertor.

Que poder tem Narciso sobre seu espelho, se só o que ele vê é sua estonteante imagem? Apenas poder sobre aquele que lhe presenteia com espelho, limpa o espelho, carrega o espelho e mesmo assim, ergue o espelho no ângulo incorreto. Sobre esse serviçal recai o poder de quem só quer ver a si, sofre por não ter com quem se espelhar, chora de barriga cheia de si, de umbigo.

E quando se libertar? Quando ressuscitar meu narciso e lutar? Quando conseguir comunicar mercuriosa minhas vontades em uma negociação diplomática por território? Ou simplesmente aceitar que a vida é assim, uma condição rara de uma doença chamada amor que, aos desafortunados, aparece como lepra?

A cada um que sofre, uma solução. Mas de fato, belas palavras servem apenas para ampliar um vocábulo de sentimentos inomináveis que tentamos, de análise em análise elaborar. Um vocabulário que não serve a ninguem, a não ser ao que adquire. Individual vocabulário que não conseguimos comunicar. E por lógica, o vocabulário que não se usa para comunicar, não existe. Mas por que ele está lá, dentro de nós, como sentimentos indecifráveis?

E se o que sentimos, de bom ou ruim, reside em um vocabulário indecifrável ao outro, como negociar a paz? Se nossa necessidade é incomunicável, como ser atendido pelo outro? E se não podemos contar com seu esforço em tentar entender nossa arqueologia gráfica emocional? Capaz que uma boa relação se faz de pessoas que tentam decifrar um ao outro, sabendo da inglória tarefa de fazê-lo, abastecendo- se de perceber o quanto o outro tenta. E tenta para estar junto.

E nessa tentativa, o exercício de poder (exercido com o achar que pode) se esvai, pois encontra sempre uma demanda alheia que pode atender antes de trazer a sua, na certeza que será atendida ou mesmo tentada. Uma troca de gentilezas que tenta acolher e ler o outro de forma sincera. Capaz que seja isso. Capaz que não.

Esse texto vai ganhando ares cada vez mais contornos incompreensíveis e preciso aqui parar. Tentativas de expor meu sentimento indecifrável só irá confundir o leitor. Espero que apenas amplie o vocabulário interno, para que a capacidade de ler o outro seja uma vez mais a ode da vida em relação. Sem deixar de ser ouvido e compreendido para tornar-se nem servo nem capataz, mas sim, na troca de tentativas, ser mais nós que eu.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
Posted on Leave a comment

Assim como a chuva… (quem dera fôssemos eternos)

A chuva que cai, na escuridão,
No silêncio da noite…
Revela nuvens carregadas!
Nuvens que, sendo reveladas, por sua vez,
Escondem, por um tempo breve, as estrelas e a Lua!
E mesmo que não as vejamos, ainda estão lá… A Lua e as estrelas…

Quase são eternas as estrelas…
Até que, um dia, sem saber, venham a morrer…
Sim, as estrelas também morrem… Você não sabia?
E se tornam supernovas, e depois, os temidos buracos negros…
Carl Sagan, um importante Astrofísico disse certa vez…
Somos feitos de poeira estelar…

Sim! Ele tinha razão… Os mesmos átomos que compõe os corpos celestes, também estão em nós…
Logo… Somos também quase eternas e eternos,
Pois somos feitas e feitos da mesma matéria dos Astros que bailam pelo Cosmos…
Ao som ensurdecedor do silêncio, no vácuo quase perfeito do Universo!

Não…
Calma…
Não nos tornaremos supernovas…
Nem tão pouco buracos negros…
Mas seremos para sempre… Para sempre…
Faíscas invisíveis tilintando pelo Espaço…

Como a chuva que cai,
E escoa na Terra, em seu ciclo perpétuo…
Assim, estaremos nas lembranças de alguém… Até que…
Este alguém também vire apenas uma breve estrela,
Nas memórias de outro alguém!
Seremos, todas e todos, um dia, fragmentos de memórias interestelares!

Sílvio Leme –  Ator, Mímico, Malabarista, Palhaço, Diretor Teatral, Produtor Teatral, Professor de Teatro, Oficineiro Cultural, Cantor, Palestrante. É de esquerda, é feminista, contra qualquer preconceito que exista na sociedade, é antifascista. Acredita na Utopia de uma humanidade e uma sociedade melhores, um dia! Faz exercícios, anda de bicicleta, sempre que possível. É pai do Ícaro, o amor de sua vida!

 

Posted on 2 Comments

Em mim todas

Eu não tenho mais 16 anos.

Eu não tenho mais só 16 anos.

Tenho 19, 20, 21, 23, 26, 29, 30, 35, 36, 40, 41, 46, 50, 52, 56…

e todas que estão entre essas.

Não me convenço mais com frases feitas, desgastadas e rasas.

Aos 16 me encantava com belas declarações.

Aos 46 as vezes, também…

Já aos 56 declarações não podem ser rasas

Precisam ser profundas, mesmo no “eu te amo”

Tão profundas que me levem a ficar leve.

Não tenho em mim só uma idade.

Tenho a de hoje e todas que já percorri, incluindo as que vem antes dos 16, dos 15 ao zero

Zero sim!

Todas habitam em mim.

Em um único dia, várias vem a tona

A pureza da de 16

A beleza da de 20

A preocupada de 6

A professora de 11

A medrosa de 30

A responsável de sempre

A grande curiosa

A desconfiada, a carinhosa, a receosa, a empreendedora, a criativa, a indignada, a ativista, a administradora, a poeta, a escritora, a mãe, a filha, a irmã, a amiga, a namorada, a mulher…

Tenho em mim um mundo grande, que transborda e que sempre cresce.

E por isso não me convenço mais só com essas frases feitas, mas ainda me encanto com atitudes exatamente com a mesma pureza que me encantava quando tinha só 16.

Mora em mim todas.

A menina, a mulher.

Mas preciso que saiba,

eu não só mais 16.

Adriana Chebabi – Sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas. Publicitária. Roteirista. Escritora. Uma contadora de histórias. Curiosa por natureza.  Uma sonhadora que realiza.  Acredita que podemos melhorar o mundo. Talvez ingênua, talvez não. Desafios a instigam. Ama viajar, estar na natureza e experimentar novos sabores. É do signo de Leão, não tem mais certeza do ascendente, mas sabe que no horóscopo chinês é Macaco. Essa foto foi tirada no Museo do Amanhã no Rio de Janeiro em setembro de 2024. Aliás, ama museu e esse ela se apaixonou.