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Acordei, outubro rosa!

Hoje acordei um pouco desatenta, com a cabeça pesada e uma vontade de não fazer nada. Levantei-me assim mesmo, escovei os dentes, tomei banho e passei meu creme. Não estava feliz como nos outros dias. Algo em mim doía, um aperto no coração, uma agonia.

Coloquei um vestido simples, afinal, estava indo ao médico para saber o que realmente estava acontecendo.

Entrei na clínica e vi vários rostos de mulheres. Algumas sozinhas, outras acompanhadas, todas com a mesma expressão de preocupação. Eu, sozinha, sentei no canto do sofá. Era uma sala comum de consultório, e não havia muito o que dizer. Sentada ali, com uma revista de fofocas nas mãos, vi chamarem a primeira paciente. Alguns minutos depois, ela saiu. Seus olhos estavam marejados; visivelmente, o diagnóstico não havia sido bom. Foi até a recepção para marcar o tratamento. Que dor, que lamento.

Meu coração apertou de tal forma que achei que iria desmaiar. Assim foi com a segunda paciente. A terceira saiu sem remarcar nada. A quarta mal conseguia andar. Meu coração batia tão forte que comecei a pensar em tudo o que não fiz. Pensei que não me casei, que escolhi a carreira ao invés de ter filhos. Pensei nas besteiras que priorizei, e agora, ali estava eu, uma mulher jovem, com tanto medo.

Foi então que, de súbito, ouvi meu nome. Coração na mão, mãos geladas, achei que iria desmaiar. Levantei-me e entrei na sala. Atrás da escrivaninha, uma mulher de branco, com seus 50 anos, me cumprimentou com um olhar tranquilo.

Sentada, ainda apavorada, comecei a falar: “Foi tomando banho, doutora, que toquei meu seio esquerdo e senti um caroço. Dói um pouco, fiquei com medo e preferi vir aqui ver o que era.”
“Claro”, respondeu a médica. “Abra o vestido, vamos examinar.”
Minhas mãos trêmulas mal conseguiam obedecer. Meu coração palpitante doía, e minha cabeça parecia prestes a explodir. A médica, gentilmente, começou a examinar. Apertou minha mama esquerda com delicadeza, depois a direita, e então pediu que eu me vestisse.

Sentada à minha frente, disse que não deveria me preocupar. “É apenas um nódulo de gordura que precisaremos retirar.”

Senti um alívio imediato, e ela continuou explicando: “Se autoexaminar e tirar todas as dúvidas é a melhor coisa que você pode fazer. Muitas pessoas são negligentes. Não fazem o autoexame e, quando descobrem, têm um problema maior para resolver.”

Ela continuou: “Não é brincadeira o que sentimos ao receber uma notícia dessas. Parece que nossa vida desmorona, destrói nossos sonhos, acaba com a alegria. Mas o câncer de mama não é o fim. O autoexame pode te ajudar a prevenir. Não seja negligente, não se permita sofrer. Esteja no grupo que busca o problema para resolver.”

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.
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A culpa foi da garotada

Depois de alguns anos sem se encontrarem pessoalmente foram almoçar juntos.

Grandes amigos desde a adolescência. Ele e Elas. Elas são duas.

O almoço foi delicioso. Conversas que só grandes e íntimos amigos podem ter. Sensação que tinham se visto ontem. Mas juntos, os três, há mais de três anos não se viam.

Amigo que é amigo desde sempre é assim… risadas, conversas sérias, bobeiras e nada de cerimônias. Tão bom!

Esquerdistas os três, para o terror dos mais conversadores das famílias deles, que diziam:

-Lá vem a gangue.

A nova geração estava presente no almoço também. A tal geração Z. Isso fica para outra conversa.

No final, aquele registro fotográfico. Pela câmera do celular é obvio! Nada de selfie. A garota foi clicar os cinquentões.

Só podemos dizer que a culpa foi da garotada. As gatas e o gato da geração X pularam no telhado e ao se verem nas fotos, gargalharam. Cada um da sua casa. Da sua tela.

Na chamada do WhatsApp a conversa foi:

-Queima!

-Não dá, é digital (risos).

-Deleta isso, pelo amor de Deus! (gargalhadas).

-Como faz falta uma produção mínima.

-A culpa é da garotada que não sabe tirar foto normal e sem filtro.

A grande verdade é a seguinte: O tempo passa para todos, mas os mais velhos serão sempre os MAIS VELHOS!

PS: Um brinde às amizades que atravessam gerações e que, juntos, sempre acham motivos para rir de si mesmos!

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas, desde 2014. Publicitária. Roteirista. Escritora. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.

 

 

 

 

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Relato Póstumo

Em meados de Novembro Ana galgou o muro da casa de Fernanda, ou melhor dizendo, antiga casa de Fernanda. Não fora uma tarefa branda, mas ao finalizá-la repousando o olhar no quintal de Fer sentiu-se triunfante; satisfeita.

Neste dia em questão completava-se seis meses que Fer já não morava mais nessa cidade, nem país; e muito menos mundo. Essa lembrança tornou a deixar as bochechas de Ana quentes e úmidas pelas lágrimas, fizeram as beiradas de sua boca repuxarem em um sorriso nostálgico e álgico. Ah, Fernanda. Este nome sempre ecoava na mente de Ana de maneira poética e delirante.

Tocada pelo ambiente, Ana cambaleou aproximando-se da piscina que se localizava no centro do quintal de Fernanda. A água e estrutura pareciam devastadas pelo tempo; sujeitada ao abandono, exatamente como Ana estava. Com os pés tocou a borda da piscina enquanto fitava o vazio daquele quintal e respirou fundo. O ar era característico ao ambiente; era úmido e refrescante, levava notas de solidão e nostalgia.

Sentou-se na beirada da piscina e repousou a mão sobre a água suja pelas desastrosas 8 semanas sem um dono e sem amparo. A família de Fernanda mudou de cidade e não haverá mais quem cuide dela. A piscina não terá mais aquela família para atenção aos seus cuidados e Ana não será agraciada com a presença de Fernanda nunca mais. As lágrimas quentes persistiam em escorrer pela face da jovem e os soluços escaparam faceiros por sua garganta má.

Ela não terá mais natais com Fer. Nem tão pouco passará as viradas de ano com ela. Não teria mais aquela companhia gostosa durante a noite. Não encontraria mais ao chegar em casa a pessoa a quem se entregaria em beijos. Não teria mais aquele amor correspondido que ardia em chamas por todo o seu ser. Ana não teria mais Fernanda; E não lhe restava mais nada.

Rolou da beirada à piscina, caiu em escuridão azul, em turbulência; em si. Não queria cair assim. Ana queria Fernandinha com seu cheiro amadeirado e olhar carinhoso; com seus muxoxos doces que acalentavam seu dia e incendiavam a sua existência. Ah, a realidade lhe sufocou tanto quanto a água ao adentrar seus pulmões.

Ana desejava sumir. Sumir junto de Fernanda e ir para o mundo que antes dominava. Oh, como parecia certo… Como foi certo. Pois Ele ouviu suas preces.

O corpo de Ana foi achado duas semanas depois inexplicavelmente conservado na piscina de seu primeiro beijo com Fernanda.

Marisabel Cruz Bela Urbana, enfermeira pós graduanda em docência, finalizando o curso de consultora em amamentação e doula/educadora perinatal. Apaixonada em desbravar novos idiomas, atualmente aprendendo Libras e refinando o inglês. Gosta de rock, MPB e está retomando a paixão e habito pela leitura. Tem 24 anos e signo de touro com ascendente em sagitário. Deleita-se com apresentações de novas culturas e crenças em sua vida, estando sempre em busca de experiências reconfortantes e renovadoras.

NOTA: Memória criada aos 14 anos; retomei e a revisei aos 24 anos)

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Sonhos esmagados pela dor

Chegou calada na escola, fazia tempo que não se via o seu sorriso.
No canto da boca ensaiava um riso, mas a memória tirava o ensaio e trazia carregada uma lágrima.
Não interagia, fingia, temia, chorava escondida esperando ninguém ver, mas os olhos inchados denunciavam o que ela queria esconder.
Mas não importava, a vida continuava sem ela, continuavam as risadas e as resenhas, continuava a dor que ninguém sabia e que ela procurava esconder.

Em casa, o quarto impecável, as roupas dobradas e arrumadas cor por cor, a dor expressa em uma organização que não tem valor.
Nas noites o medo reinava, o ranger dos tacos ou a porta que se abria e tudo recomeçava novamente, ele não tinha dó.
Entrava sorrateiro, calado, colocava a mão nos cabelos dela e fazia ela tremer de medo, as lágrimas corriam caladas no canto do rosto, desgosto, esgotamento, não estava certo, se a vida era assim, não queria mais viver.
Na manhã a apatia, a mãe que fingia não saber, o cinismo de que nada tinha acontecido estampado nos olhos de quem vê e a pergunta que cravava a raiva em seu peito, “está tudo bem com você?”

Mais um dia, tudo igual, as resenhas, a escola e a dor que parecia permanente, a mente já cansada, dormente, triste, insolente, demente, escrota, pungente, morte indefinida, distante de ser gente, destrói a vida.
Tantos sonhos esmagados pela dor que não tem tamanho, não tenho esconderijo onde ele não possa me ver, não tenho mais sonhos, desisti de crescer.
Nos cadernos as notas que caíam, no comportamento a dor que não sumia escondia cada vez mais a beleza que era destruída nas noites que não dormia.
Encontrada por quem espreita, o giz que desfaz a dor, cai como uma luva, tudo fica colorido, ela tem mais força, nada mais é impossível.

E mais giz e mais força, agora não fazia diferença se a crença de quem estava à volta era duvidosa do que sentia, sentia que tinha encontrado um novo quarto na mente que o escroto pungente não poderia entrar.
Mas não bastava essa fortaleza, tenha que ter certeza de que ele irá desaparecer, desaparecer para o mundo, desaparecer para você.
Pega o cachorro do amigo que entrega o giz, vai para casa aprender a desaprender, giz, cachorro, choro e certeza, já sabe o que vai fazer.
A noite chega, o giz acaba, o cachorro na mão e a certeza, hoje isso termina, não vai mais ter volta, a porta abre silenciosamente e fecha, a tranca indica privacidade, um estampido forte e um pequeno sussurro, um cheiro de ferro no ar, um minuto de silêncio, e agora é minha vez, antes do bater na porta, outro estampido, tudo termina de vez.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.

LIGUE 180 ao ouvir ou ver sinais de violência

 

 

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Adios Querida Luna!

Eu sempre trabalho com a possibilidade do suicídio ou do teu sorriso, e tudo oscila dentro das probabilidades nessa roleta russa que é a minha bipolaridade.

Eu não exagero e eu não minto mais, pinto como Picasso em Guernica só que um pouco mais dark e mais profundo que a série alemã,
trago referências como se fossem uma viagem chuvosa, fria e egoísta com você em Amsterdã.

Não me subestime eu escrevo porque preciso de você tanto quanto a Marvel precisa da DC ou até o meu suicídio acontecer.

Eu sei, você vai dizer que esse texto tem flow e ritmo de rap, um sad trap, talvez, só que “EU SOU BRANCO, BRO”, e velho demais pra essas mina que acabaram de chegar aos vinte, mandando nude no meu direct, imagina se eu fosse rapper?

Mas voltando ao que realmente te interessa, isso aqui não é nem poesia, são só algumas palavras repetidas e tão vazias quanto a nossa sala agora, quanto a minha alma a qualquer hora, qualquer dia, só me diz que eu te espero, você sabe que é sincero, quando eu digo que te amo, que te quero, que me torno repetitivo, mas quais são as palavras que mais quero repetir na vida? Felicidade, paz? Eu já não sei mais, eu só quero que tudo pare, que o mundo desacelere, a vida é tão curta e eu tão culto que me sinto inútil.

Hoje as oportunidades perdidas me deram beijos e abraços de despedida, riram e voltaram pra me atormentar, as decisões erradas fizeram em mim sua morada!

Eu senti tudo, e o que você me disse foi como facadas, eu chorei e as lágrima derramadas escondidas no chão da escada, me fizeram pensar que a vida não vale nada sem a pessoa amada.

Talvez eu precise de mais amor próprio, talvez eu queira mais dois dedos do seu veneno com um pouco de ópio, ou simplesmente a minha certidão de óbito.

Tudo é relativo e tudo vai depender de quanto eu consigo ser permissivo, eu sei do que eu preciso, eu sei que soa ofensivo, mas eu também me lembro de tudo que me foi dito, mal de escorpião, rancoroso, passivo agressivo, não sou eu, é apenas o meu signo, risos, risos, risos.
Temos escolha ou apenas lidamos com os prejuízos? Quantos se foram? Quantos dos que ficaram não estão depressivos? Quem realmente está vivo?
Aldo, eu sinto sua falta, primo! Eu queria poder ter feito algo, dizer que vai ficar tudo bem, mas a real é que eu não sei. Você não foi condenado, Deus está ao seu lado, ele me disse, numa das viagens do meu coração alado, fica em paz,Tia Maria, sorria, eu preciso voltar, perdoem o meu TDA e a minha dislexia.

Não me leve a mal, eu quis teu bem, eu tentei te tocar, ser relevante, lavar tua alma, enxugar tuas mágoas, mas eu não cheguei lá eu fui além, te atravessei e você nem me olhou, só disse “tudo bem” eu também te amei.

Ficam as boas lembranças, ficam as facadas nas minhas entranhas, ficam as cicatrizes nos meus poemas, mas pra mim, não é apenas o fim.

Porque nada nunca acaba, tudo me remoi e dói pra caralho, as tuas fotos, os teus stories, nossa história retrógrada, então uso a minha retórica que me puxa pra baixo da escuridão, na caverna de platão, eu enxerguei, eu acordei, eu me levantei, escalei esse buraco no nosso leito. Efeito borboleta, o teu bater de asas afundou meu peito.

E como seguir desse jeito?
É por isso companheiros que eu espero que eu tenha sido um bom amigo!
Lembrem do meu sorriso…

Pai, perdoa teu filho perdido, minhas irmãs, eu não vejo mais sentido, mas saibam que eu as amei.

Mãe, eu te orgulhei? Saiba que diante de Deus eu me ajoelhei, eu orei, Mãe!

E de novo saiba que eu chorei e doeu, e dói, como se fossem dois sóis a sós comigo, refletindo toda a vergonha que eu sinto.

E eu sinto muito, escrevo pouco, sofro em demasia, faço drama, atuo, mas é que a comédia já não me servia.

Novamente eu sai da linha, mas foda-se não é problema seu, bom proveito. Eu vou voltar ao início do sofrimento, quem sabe no suicídio eu te esqueço.

Lucas Alberti Amaral – Belo urbanonascido em 08/11/87. Publicitário, tem uma página onde espalha pensamentos materializados em textos curtos e tentativas de poesias  www.facebook.com/quaseinedito  (curte lá!). Não acredita em horóscopo, mas é de Escorpião, lua em Gêmeos com ascendente em Peixes e Netuno na casa 10. Por fim odeia falar de si mesmo na terceira pessoa.
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Traque, treco, triqui , troco, truco

Viver é sonoro, faz Traque, Treco, Triqui, Troco, Truco, a vida não é de nenhuma forma silenciosa, ela é barulhenta, cheia de ruídos ensurdecedores e silêncios constrangedores.

Esta história é sobre sobre uma pessoa linda que teve sua vida mesclada com outros universos, leitora voraz, via e ouvia os personagens de seus livros, escutava cada palavra, cada ideia, sentia a brisa e viajava por entre cidades, países e reinos encantados, mundos fantásticos e seus personagens, aventuras e desventuras, acompanhou suas provações, amizades e amores avassaladores. Fez tudo que se pode fazer junto a literatura.

No cotidiano real foi esposa, mãe e vó, falava baixo, tinha voz suave e melodiosa que nunca proferia palavrões; teve uma vida humilde, honesta e correta, não conheceu tantos lugares, não teve o amor avassalador dos livros, seu homem abusou da regra três e partiu; mas ela veio nesta vida pra amar e o fez com maestria, construiu amizades sólidas e sinceras, e amou os filhos que a vida lhe deu.

Sua saúde não era das melhores, tinha um Triqui Triqui uma tal de bronquite, que a presenteou com seu gatinho interior que miava em certas estações e silenciava com as inalações; com o tempo, o Triqui Triqui virou um Treco chamado asma, e, como a vida e um agregar de experiências, após seis décadas convivendo e recebendo passivamente o Troco de fumaça dos homens de sua vida (seu pai e um marido eram tabagistas), foi quando em certo ano, o Triqui, o Treco e o Troco unidos, se tornaram ruidosos demais, deram seu golpe de Truco, e ela foi internada com diagnóstico de D.P.O.C. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

No Hospital, neste ano, pela primeira vez foi apresentada a Traque, devido uma longa permanência entubada na UTI precisou ser submetida a uma Traqueostomia , e após longos 50 dias pode se libertar da Traque e voltar pra casa pra conviver apenas com o seu trio da Triqui, do Treco e do Troco unidos , e claro , com seu gatinho interior que agora não se limitava a algumas estações, e vinha miar e ronronar diariamente, requisitando banhos de inalações e determinando que o ritmo da vida agora seria de Tartaruga, tudo bem lento, pra não chiar, pra não miar, pra não cansar.

Graças ao universos dos livros, a “Tartarugues” da vida real não a limitou, voltou a voar, amar, viajar e aventurar-se por mundos sem fim, a sua voz ecoava e fazia barulho e manifestava o infinito universo que havia dentro de si. Contou suas histórias, deu sua opinião, defendeu posições e declarou seu imenso amor. Amiga verdadeira, não desamparou em conselhos e afeto aqueles que a cercam.

Mas, apesar dos cuidados realizados, o seu trio da Triqui, do Treco e do Troco unidos deram um novo golpe de Truco e determinaram que voltasse ao hospital, onde junto com seus filhos completou seus 80 anos. Novamente o Truco trouxe a Traque de volta, aparentemente de forma definitiva, desvelou-se uma estenose de traqueia e um bócio mergulhante que tirou a luz de sua traqueia em 90 por cento , sendo agora a Traque vital pra sua vida.

A Traque veio pra casa e agora temos os novos ruídos provenientes desta união “ traque, treco, triqui, troco e truco”, com experiências sonoras de secreções que se movimentam e das técnicas de aspirações protetivas, sua voz melodiosa não está mais presente aos ouvidos de quem a conhece, surgiram novas formas de comunicação, uma campainha sonora que chama ao longe, o dedilhar das unhas , o estalado da língua como que um cavalinho a galope e os beijinhos estralados que nos chama o olhar pro seu lindo sorriso. Agora sua voz é silenciosa, que fala sem som, a nossa capacidade de fazer leitura labial preservou sua voz, ela fala em silêncio e nós lemos sua voz, seus lábios, seu olhar, seu sorriso e ela irradia amor.

Saibam e aproveitem ! O Viver é sonoro ! Traque, Treco, Triqui, Troco, Truco, serão sempre desafios; mas a vida não é de nenhuma forma silenciosa, ela é barulhenta, cheia de ruídos ensurdecedores e silêncios já não mais constrangedores. Amar faz muito muito barulho! Te Amo!

Thelma Carlsen Fontefria – Bela Urbana, psicóloga, mãe de Isabella, 2 cães, 1 gata, 1 afilhada, 2 gerbils netos, mora em Santos, tentando manter a sanidade neste tempos de um Brasil tão distópico.

 

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VAZIO infinito

Ele perdeu a noção do tempo. Não sabia qual era o dia da semana, o mês, o horário. Tudo isso deixou em uma outra vida, em um certo dia.

O dia que uma dor tão profunda apertou seu peito, maior do que todas as outras que já tinha sentido. Ele sempre sentiu dores fortes, desde criança. A dor de um vazio, como se fosse a queda em um buraco, ele sempre se sentia caindo. As vezes parava e se agarrava em algo, mas não conseguia segurar por muito tempo, logo caia de novo.

Em cada queda a dor aumentava, foi ficando tão grande, mas tão grande, assim como o vazio que sentia. Vazio infinito. Dor crescente.

Tinha sorte, mas não a percebia. Perdia, sempre perdia, não pela falta de sorte, mas pela confusão mental que o VAZIO lhe causava.

Tentou o suicídio três vezes em épocas diferentes, mas não morreu, foi salvo.

Salvo? Ele nunca viu assim, preferia ter ido, mas se achava incompetente até para isso.

Em uma tarde de inverno resolver largar tudo, a madrasta, a namorada, a irmã, o cachorro. Saiu pela porta, não deixou bilhete, não levou roupas, não levou comidas, não levou telefone, nem carteira, nem cartões, nada. Foi embora somente com o VAZIO.

Quanto tempo faz? Ele não sabe, Não sabe mais quem era. Sabe quem é, sabe que vive nas ruas, sabe que mendiga, nem sabe se está na sua cidade ou em outras, já andou tanto, que não sabe nem se já voltou.

A dor acalmou, se sente anestesiado. Nunca mais amou, amar machucava. Nunca mais quis se matar. Nunca mais quis nada. Não sentia nem dor, nem amor.

Uma noite bem tarde, ruas vazias, estava na frente de uma uma loja, com televisores que começaram a acender e mostravam um show de rock de uma banda que ele ouvia e gostava.

Uma lágrima escorreu de seus olhos. Ficou olhando aquilo. Lembrou da dor, lembrou do amor. Lembrou de si. Do vazio. Da queda. Fechou os olhos, pediu perdão. Foi embora, era melhor ser invisível. Não queria ascender.

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

Foto Adriana: Gilguzzo/Ofotografico.

 

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Fragmentos de um diário 2

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“…. mas nesse últimos dias ando repensando e revendo certas coisas e venho concluindo algumas coisas importantes. Mudar não é fácil, mudar comportamentos é mais difícil ainda, mas o primeiríssimo passo é percebermos que precisamos mudar, melhorar. Penso individualmente o quanto preciso melhorar, controlar minha ansiedade, meu lado impaciente que gera momentos desgastantes, sorrir mais, enfim, aprender mais, melhorar, crescer e ter sempre meus objetivos de vida de acordo com minha vida. Isso que escrevo não é nada negativo, pelo contrário, é primeiro passo, é uma auto-análise de como ainda posso melhorar.

Que bom que posso e que podemos sempre melhorar, que bom poder enxergar isso e mais ainda, ter a chance de fazer acontecer. Porém, mudar comportamentos é difícil, comportamento coletivo, mais difícil ainda. O que quero escrevendo isso é que todos percebam o seu papel, que todos estejam de acordo com seu objetivo de vida, que todos estejam sempre pré-dispostos a melhorarem e com isso fazer as coisas melhores. É questão de postura de vida, do acreditamos ser certo ou errado.

Precisamos estar mais pré-dispostos ao sim. Que tal tentarmos antes de dizer não. Que tal avaliarmos se não damos conta antes de dizer não. Posturas positivas e negativas. Aonde quero estar? Aonde queremos estar?…”

01 de março – Giza Luiza – 30 anos

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência  Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos. 

 

 

 

 

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Fragmentos de um diário

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…é esse lance de você se ver sozinho, se encontrar, saber o que você quer ou não, e ter consciência de que ninguém é bengala de ninguém. Você não pode esperar que as pessoas vão estar sempre do seu lado e saber quando você está bem ou mal. Você não pode ficar contando com as pessoas, porque não é sempre que elas estarão no mesmo clima pra te ajudar, sempre que puderem e perceberem e, é lógico, se gostarem de você, irão te ajudar, mas não dá pra ficar contando com isso sempre, por isso é melhor nunca contar, conte sempre com você, não fique esperando que vai aparecer alguém e te salvar dos seus problemas, e se aparecer é algo a mais e não apenas um complemento.

30 de julho – Gisa Luiza – 18 anos

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 Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência  Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos. 

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O click de Alexandra

Edição 1

Alexandra tinha 49 anos, faltavam 05 meses para seu aniversário de 50. Os amigos do trabalho toda hora perguntavam: “- E a festa Alexandra como vai ser?”. Outros diziam: “ – Tem que comemorar com um festão a data”.

Alexandra, ouvia, esboçava um leve sorriso e pensava:  “é até que  seria bom, afinal nem festa de 15 anos eu tive”, mas aí, logo em seguida, pensava em todos os gastos extras, no marido sempre tão indiferente,  e sua  vontade já morria nesses pensamentos.

Ela vivia como muitas mulheres vivem nessa fase da vida: as rotinas da casa, as rotinas do trabalho e algumas idas ao Shopping com Aninha, sua melhor amiga desde os tempos do colégio.

Alexandra não era feia, mas digamos que pedreiro nenhum assobiava quando ela passava. Ela não era gorda, mas não era magra, vivia com um óculos do século passado, as roupas pioravam a situação, brincos, colares, pulseiras, ou qualquer tipo de bijuteria ou acessório não existiam em seu guarda-roupa. Esmalte? O mais ousado era “renda” e mesmo assim, por economia, só uma vez por mês.

No trabalho, Alexandra, sempre foi exemplar, uma contadora de mão cheia. Entrou na “firma” quando ainda era estudante universitária. Aplicada, dedicada, foi logo contratada. Ela cresceu com a firma de contabilidade nesses últimos trinta anos. O que era uma pequena empresa passou a ter uma equipe com mais de cem pessoas, hoje com vários profissionais diferentes: contadores, advogados, estoquista, a equipe de TI,  a assessoria de imprensa etc. Alexandra apesar de ter crescido no trabalho, ficava sempre muito isolada,  muito formal com todos, muito e somente em seus números e cálculos.

Eis que um dia, nesse mesmo ambiente, ela recebeu um e-mail que tinha como assunto “do seu admirador secreto”. Ela abriu o e-mail que estava escrito “Te vejo passar todos os dias, conheço seus passos de longe, seu perfume, o som da sua voz… e abra aqui para ler todo o resto”.

Ela deletou e pensou:  “Bobagem. Só  que a mensagem não saia da sua cabeça e pensava: “Será mesmo que ele me conhece?”

Coincidência ou não, no dia seguinte ela mandou fazer lentes de contato e resolveu aposentar os óculos.

Os e-mails continuavam a chegar, a cada dois dias o mesmo e-mail aparecia, e consequentemente, ela não abria e deletava , mas…se abria para  novas e pequenas atitudes: um batom mais forte, um corte de cabelo moderno, um salto alto, uma roupa mais justa. A cada e-mail não aberto, uma mudança no visual e na alma, e começava a sentir o mundo como há muito não sentia, sem perceber ficou mais leve, alegre, sorridente. Resolveu participar dos “happys” da “firma”.

Mas a curiosidade não saia da sua cabeça, quem seria que mandava os e-mails? Um dia desconfiou do jovem rapaz que cuidava da rede, era um moço bonito, alias, cá entre nós aqui, bem bonito, moreno, com um lindo par de olhos verdes e no auge dos seus 26 anos.

Primeiro seus pensamentos foram cruéis consigo mesma. “Que absurdo você tem idade para ser mãe dele, ele combina mais com sua filha, mas também começaram a vir outros pensamentos: Se essas atrizes da TV namoram garotões, por que eu não posso?”.  E na sua cabeça começaram a parecer todos os casos iguais em que conhecia que ela acreditava que “foram felizes”, pelo menos por um tempo, porque ingenuidade de acreditar no  “felizes  para sempre” ela já não tinha mais.

O marido, alguns anos mais velho, continuava no mesmo passo. Todo dia quando ela chegava em casa, encontrava ele na frente do computador comendo queijo e gelo. Ele não a via, não reparou no novo corte de cabelo, nas unhas vermelhas, nas calças mais justas. Um dia ele olhou mais demoradamente para ela e ela pensou:  “Ele vai falar, reparou”, mas não, só olhou mais demoradamente mesmo e nada disse, talvez tenha pensado, talvez tenha faltado coragem, talvez, talvez…o certo é que voltou para seu computador, seu queijo e seu gelo.

A filha de 16 anos reparou – mulheres sempre reparam – e gostou da nova mãe que via; o filho de 18 anos só pensava no vestibular e, como pai, talvez não fosse um bom reparador.

O moço da rede em um desses “happys” da firma ficou do seu lado. Conversaram, flertaram, e ela, certa que era ele perguntou depois de alguns chopes:

– É você?

E ele:

– Eu o quê?

– Me fala vai? É você?

– Você fica feliz se eu disser que sim?

– Sim

– Então digo que sim, só para ver você feliz.

– Amanhã vou abrir.

– O quê?

– Você sabe.

– Sei?

– Sei que sabe.

– Não sei.

– Sabe sim… Vou abrir heim…

– Hum, então vou esperar… que horas vai abrir? Onde?

Ela riu. Ele não entendeu.

E no dia seguinte ela abriu e literalmente, coincidência ou não, destruiu toda a segurança da rede da “firma”. O e-mail era um desses “supervírus” da informática que clonam os computadores, roubam as informações, e em uma firma de contabilidade isso era o pior que pode acontecer.

O escritório parou. O espanto, os comentários eram gerais: “Por que ela fez aquilo?”, “Que ingênua”, “Por que abriu esse tipo de e-mail?”, “Coitada, vai perder o emprego”. Os olhares eram os piores possíveis. A situação foi tão séria que ela foi mesmo mandada embora, mas ela não se abalou, algo de fato, tinha mudado.

Colocou suas coisas na caixa, deu tchau para poucos amigos que não a julgaram, deu  um ”up” na maquiagem . Quase indo embora, encontrou o moço da rede e disse:

– Eu disse que ia abrir.

Ela caiu na gargalhada e ele também.

Ele levou a caixa para ela até o carro e apanhou no jardim uma flor que entregou para ela. Ela ficou tão emocionada que seus olhos se encheram de água, e pensou:  “Há quantos anos não ganho flores?”.

Dias depois resolveu que não compraria mais queijo e se deu conta de que não gostava de nada gelado. Chega de gelos. Colocou um ponto  final no casamento e, quando saiu para caminhar na rua, ficou muito feliz com todos os assobios que ouviu dos pedreiros.

PS.: A festa de 50 anos foi de arromba, sem economias, dançaram todos até o sol nascer. Os amigos da “firma” foram em peso. Os amigos da ginástica. A turma da faculdade e do colégio foram  reencontrados e também foram. Foi realmente um festão. O gatão dos olhos verdes também foi… mas essa história eu conto em outra.

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde é a responsável pela autoria de todas as histórias do projeto. Publicitária, empresária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência  Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos.