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Fragmentos de um diário

“… O que tem que ser será? Será?” De novo depois de tantos anos a mesma pergunta e ainda não sei a resposta.

Quem sou eu afinal? Ou quantas sou eu afinal? Ou quais sou eu que gosto mais? Onde quero estar? Quem e o quê quero do meu lado? O que quero fazer? Produzir? Criar? Inventar? Já vi tanta coisa, mas me falta ver tantas outras ainda.

Me olho no espelho e na maioria das vezes ainda gosto da alma que vejo….

O tempo de aceitar coisas ruins já acabou. Hoje é um novo tempo e sei que a “eu de hoje” tem muito mais recursos internos e isso me deixa mais segura para saber que todo ser humano faz escolhas, mas que devemos sempre escolher o que no faz bem.

Eu me prometo que meus domingos serão mais felizes, que a minhas companhias sejam de alegria, acompanhada ou só…. que assim seja, é claro estiver ao alcance de minhas escolhas.

27 de agosto – Gisa Luiza – 49 anos

Adriana Chebabi –  Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :). A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza

Foto Adriana: Gilguzzo/Ofotografico.

 

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Saudade da ausência futura

O marido de Laura viajou e ela ficou na cidade que mora com a filha adolescente, Liz, que em apenas alguns meses iria viajar e permanecer distante por um ano, a filha, de 16 anos se alegrou com a possibilidade de compartilhar a cama com a mãe por alguns dias e Laura se encheu de ternura por Liz ainda gostar de dormir com ela, esses momentos eram inestimáveis, as risadas, as conversas antes do sono, Laura ainda vive o luto da infância da filha que se foi, a adolescência traz muitas mudanças e mãe e filha sempre se deram muito bem, mas conforme Liz foi se tornando mais velha vieram os conflitos, os mal humores, as palavras atravessadas, a rebeldia, o relacionamento delas nem sempre era tranquilo e Laura tinha consciência que eram mudanças inerentes à essa fase da vida de Liz, nem por isso menos desafiadoras.

Em um desses dias Laura pediu para a filha arrumar a cama, Liz não gostou, respondeu rispidamente que não iria arrumar e que isso não era importante para ela, não queria perder tempo com isso, se para dormir com ela era o preço que teria que pagar, voltaria para seu próprio quarto, pegou seu travesseiro e edredom e revirando os olhos e pisando forte no chão, saiu batendo a porta do quarto de Laura, a mãe  tentou conversar, não compreendeu a ira da filha, Liz não quis conversa, Laura disse: “não vou aceitar que volte”, pronto, ponto final, não dormiriam mais juntas.

Laura sentiu uma dor quase física e chorou, chorou copiosamente como se alguém tivesse morrido, a filha estranhou essa reação tão intensa da mãe por uma simples discussão das muitas que tinham rotineiramente, a mãe seguiu chorando por muito tempo, horas depois Liz se aproximou de Laura e pediu desculpas, explicou que estava ocupada com seus afazeres e o pedido  para arrumar a cama veio em hora errada, se incomodou, e do alto de sua rebeldia adolescente veio a negativa, perguntou para a mãe como poderiam fazer as pazes e tentar resolver o drama, e por fim voltaram a dormir juntas e felizes na cama de Laura, Liz levou o edredom e travesseiro de volta, se abraçaram e se perdoaram.

Mais tarde em suas reflexões, Laura ainda comovida com a briga, a tristeza, a mágoa, o choro, a intensidade dos próprios sentimentos tentava entender e processar toda a “novela” que vivera, perguntava-se se a menopausa teria a sua participação em tudo isso, talvez sim, talvez ter ficado sozinha na cidade sem o marido, talvez um dia difícil e cheio de responsabilidades e desafios, talvez os pais envelhecendo e a vida que de constante, só mesmo a mudança, talvez a antecipação da saudade, essa que doía mais que tudo da ausência que sentiria de Liz em breve, muito breve.

Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.

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Acordei, outubro rosa!

Hoje acordei um pouco desatenta, com a cabeça pesada e uma vontade de não fazer nada. Levantei-me assim mesmo, escovei os dentes, tomei banho e passei meu creme. Não estava feliz como nos outros dias. Algo em mim doía, um aperto no coração, uma agonia.

Coloquei um vestido simples, afinal, estava indo ao médico para saber o que realmente estava acontecendo.

Entrei na clínica e vi vários rostos de mulheres. Algumas sozinhas, outras acompanhadas, todas com a mesma expressão de preocupação. Eu, sozinha, sentei no canto do sofá. Era uma sala comum de consultório, e não havia muito o que dizer. Sentada ali, com uma revista de fofocas nas mãos, vi chamarem a primeira paciente. Alguns minutos depois, ela saiu. Seus olhos estavam marejados; visivelmente, o diagnóstico não havia sido bom. Foi até a recepção para marcar o tratamento. Que dor, que lamento.

Meu coração apertou de tal forma que achei que iria desmaiar. Assim foi com a segunda paciente. A terceira saiu sem remarcar nada. A quarta mal conseguia andar. Meu coração batia tão forte que comecei a pensar em tudo o que não fiz. Pensei que não me casei, que escolhi a carreira ao invés de ter filhos. Pensei nas besteiras que priorizei, e agora, ali estava eu, uma mulher jovem, com tanto medo.

Foi então que, de súbito, ouvi meu nome. Coração na mão, mãos geladas, achei que iria desmaiar. Levantei-me e entrei na sala. Atrás da escrivaninha, uma mulher de branco, com seus 50 anos, me cumprimentou com um olhar tranquilo.

Sentada, ainda apavorada, comecei a falar: “Foi tomando banho, doutora, que toquei meu seio esquerdo e senti um caroço. Dói um pouco, fiquei com medo e preferi vir aqui ver o que era.”
“Claro”, respondeu a médica. “Abra o vestido, vamos examinar.”
Minhas mãos trêmulas mal conseguiam obedecer. Meu coração palpitante doía, e minha cabeça parecia prestes a explodir. A médica, gentilmente, começou a examinar. Apertou minha mama esquerda com delicadeza, depois a direita, e então pediu que eu me vestisse.

Sentada à minha frente, disse que não deveria me preocupar. “É apenas um nódulo de gordura que precisaremos retirar.”

Senti um alívio imediato, e ela continuou explicando: “Se autoexaminar e tirar todas as dúvidas é a melhor coisa que você pode fazer. Muitas pessoas são negligentes. Não fazem o autoexame e, quando descobrem, têm um problema maior para resolver.”

Ela continuou: “Não é brincadeira o que sentimos ao receber uma notícia dessas. Parece que nossa vida desmorona, destrói nossos sonhos, acaba com a alegria. Mas o câncer de mama não é o fim. O autoexame pode te ajudar a prevenir. Não seja negligente, não se permita sofrer. Esteja no grupo que busca o problema para resolver.”

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.
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A culpa foi da garotada

Depois de alguns anos sem se encontrarem pessoalmente foram almoçar juntos.

Grandes amigos desde a adolescência. Ele e Elas. Elas são duas.

O almoço foi delicioso. Conversas que só grandes e íntimos amigos podem ter. Sensação que tinham se visto ontem. Mas juntos, os três, há mais de três anos não se viam.

Amigo que é amigo desde sempre é assim… risadas, conversas sérias, bobeiras e nada de cerimônias. Tão bom!

Esquerdistas os três, para o terror dos mais conversadores das famílias deles, que diziam:

-Lá vem a gangue.

A nova geração estava presente no almoço também. A tal geração Z. Isso fica para outra conversa.

No final, aquele registro fotográfico. Pela câmera do celular é obvio! Nada de selfie. A garota foi clicar os cinquentões.

Só podemos dizer que a culpa foi da garotada. As gatas e o gato da geração X pularam no telhado e ao se verem nas fotos, gargalharam. Cada um da sua casa. Da sua tela.

Na chamada do WhatsApp a conversa foi:

-Queima!

-Não dá, é digital (risos).

-Deleta isso, pelo amor de Deus! (gargalhadas).

-Como faz falta uma produção mínima.

-A culpa é da garotada que não sabe tirar foto normal e sem filtro.

A grande verdade é a seguinte: O tempo passa para todos, mas os mais velhos serão sempre os MAIS VELHOS!

PS: Um brinde às amizades que atravessam gerações e que, juntos, sempre acham motivos para rir de si mesmos!

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas, desde 2014. Publicitária. Roteirista. Escritora. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.

 

 

 

 

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Relato Póstumo

Em meados de Novembro Ana galgou o muro da casa de Fernanda, ou melhor dizendo, antiga casa de Fernanda. Não fora uma tarefa branda, mas ao finalizá-la repousando o olhar no quintal de Fer sentiu-se triunfante; satisfeita.

Neste dia em questão completava-se seis meses que Fer já não morava mais nessa cidade, nem país; e muito menos mundo. Essa lembrança tornou a deixar as bochechas de Ana quentes e úmidas pelas lágrimas, fizeram as beiradas de sua boca repuxarem em um sorriso nostálgico e álgico. Ah, Fernanda. Este nome sempre ecoava na mente de Ana de maneira poética e delirante.

Tocada pelo ambiente, Ana cambaleou aproximando-se da piscina que se localizava no centro do quintal de Fernanda. A água e estrutura pareciam devastadas pelo tempo; sujeitada ao abandono, exatamente como Ana estava. Com os pés tocou a borda da piscina enquanto fitava o vazio daquele quintal e respirou fundo. O ar era característico ao ambiente; era úmido e refrescante, levava notas de solidão e nostalgia.

Sentou-se na beirada da piscina e repousou a mão sobre a água suja pelas desastrosas 8 semanas sem um dono e sem amparo. A família de Fernanda mudou de cidade e não haverá mais quem cuide dela. A piscina não terá mais aquela família para atenção aos seus cuidados e Ana não será agraciada com a presença de Fernanda nunca mais. As lágrimas quentes persistiam em escorrer pela face da jovem e os soluços escaparam faceiros por sua garganta má.

Ela não terá mais natais com Fer. Nem tão pouco passará as viradas de ano com ela. Não teria mais aquela companhia gostosa durante a noite. Não encontraria mais ao chegar em casa a pessoa a quem se entregaria em beijos. Não teria mais aquele amor correspondido que ardia em chamas por todo o seu ser. Ana não teria mais Fernanda; E não lhe restava mais nada.

Rolou da beirada à piscina, caiu em escuridão azul, em turbulência; em si. Não queria cair assim. Ana queria Fernandinha com seu cheiro amadeirado e olhar carinhoso; com seus muxoxos doces que acalentavam seu dia e incendiavam a sua existência. Ah, a realidade lhe sufocou tanto quanto a água ao adentrar seus pulmões.

Ana desejava sumir. Sumir junto de Fernanda e ir para o mundo que antes dominava. Oh, como parecia certo… Como foi certo. Pois Ele ouviu suas preces.

O corpo de Ana foi achado duas semanas depois inexplicavelmente conservado na piscina de seu primeiro beijo com Fernanda.

Marisabel Cruz Bela Urbana, enfermeira pós graduanda em docência, finalizando o curso de consultora em amamentação e doula/educadora perinatal. Apaixonada em desbravar novos idiomas, atualmente aprendendo Libras e refinando o inglês. Gosta de rock, MPB e está retomando a paixão e habito pela leitura. Tem 24 anos e signo de touro com ascendente em sagitário. Deleita-se com apresentações de novas culturas e crenças em sua vida, estando sempre em busca de experiências reconfortantes e renovadoras.

NOTA: Memória criada aos 14 anos; retomei e a revisei aos 24 anos)

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Sonhos esmagados pela dor

Chegou calada na escola, fazia tempo que não se via o seu sorriso.
No canto da boca ensaiava um riso, mas a memória tirava o ensaio e trazia carregada uma lágrima.
Não interagia, fingia, temia, chorava escondida esperando ninguém ver, mas os olhos inchados denunciavam o que ela queria esconder.
Mas não importava, a vida continuava sem ela, continuavam as risadas e as resenhas, continuava a dor que ninguém sabia e que ela procurava esconder.

Em casa, o quarto impecável, as roupas dobradas e arrumadas cor por cor, a dor expressa em uma organização que não tem valor.
Nas noites o medo reinava, o ranger dos tacos ou a porta que se abria e tudo recomeçava novamente, ele não tinha dó.
Entrava sorrateiro, calado, colocava a mão nos cabelos dela e fazia ela tremer de medo, as lágrimas corriam caladas no canto do rosto, desgosto, esgotamento, não estava certo, se a vida era assim, não queria mais viver.
Na manhã a apatia, a mãe que fingia não saber, o cinismo de que nada tinha acontecido estampado nos olhos de quem vê e a pergunta que cravava a raiva em seu peito, “está tudo bem com você?”

Mais um dia, tudo igual, as resenhas, a escola e a dor que parecia permanente, a mente já cansada, dormente, triste, insolente, demente, escrota, pungente, morte indefinida, distante de ser gente, destrói a vida.
Tantos sonhos esmagados pela dor que não tem tamanho, não tenho esconderijo onde ele não possa me ver, não tenho mais sonhos, desisti de crescer.
Nos cadernos as notas que caíam, no comportamento a dor que não sumia escondia cada vez mais a beleza que era destruída nas noites que não dormia.
Encontrada por quem espreita, o giz que desfaz a dor, cai como uma luva, tudo fica colorido, ela tem mais força, nada mais é impossível.

E mais giz e mais força, agora não fazia diferença se a crença de quem estava à volta era duvidosa do que sentia, sentia que tinha encontrado um novo quarto na mente que o escroto pungente não poderia entrar.
Mas não bastava essa fortaleza, tenha que ter certeza de que ele irá desaparecer, desaparecer para o mundo, desaparecer para você.
Pega o cachorro do amigo que entrega o giz, vai para casa aprender a desaprender, giz, cachorro, choro e certeza, já sabe o que vai fazer.
A noite chega, o giz acaba, o cachorro na mão e a certeza, hoje isso termina, não vai mais ter volta, a porta abre silenciosamente e fecha, a tranca indica privacidade, um estampido forte e um pequeno sussurro, um cheiro de ferro no ar, um minuto de silêncio, e agora é minha vez, antes do bater na porta, outro estampido, tudo termina de vez.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.

LIGUE 180 ao ouvir ou ver sinais de violência

 

 

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Adios Querida Luna!

Eu sempre trabalho com a possibilidade do suicídio ou do teu sorriso, e tudo oscila dentro das probabilidades nessa roleta russa que é a minha bipolaridade.

Eu não exagero e eu não minto mais, pinto como Picasso em Guernica só que um pouco mais dark e mais profundo que a série alemã,
trago referências como se fossem uma viagem chuvosa, fria e egoísta com você em Amsterdã.

Não me subestime eu escrevo porque preciso de você tanto quanto a Marvel precisa da DC ou até o meu suicídio acontecer.

Eu sei, você vai dizer que esse texto tem flow e ritmo de rap, um sad trap, talvez, só que “EU SOU BRANCO, BRO”, e velho demais pra essas mina que acabaram de chegar aos vinte, mandando nude no meu direct, imagina se eu fosse rapper?

Mas voltando ao que realmente te interessa, isso aqui não é nem poesia, são só algumas palavras repetidas e tão vazias quanto a nossa sala agora, quanto a minha alma a qualquer hora, qualquer dia, só me diz que eu te espero, você sabe que é sincero, quando eu digo que te amo, que te quero, que me torno repetitivo, mas quais são as palavras que mais quero repetir na vida? Felicidade, paz? Eu já não sei mais, eu só quero que tudo pare, que o mundo desacelere, a vida é tão curta e eu tão culto que me sinto inútil.

Hoje as oportunidades perdidas me deram beijos e abraços de despedida, riram e voltaram pra me atormentar, as decisões erradas fizeram em mim sua morada!

Eu senti tudo, e o que você me disse foi como facadas, eu chorei e as lágrima derramadas escondidas no chão da escada, me fizeram pensar que a vida não vale nada sem a pessoa amada.

Talvez eu precise de mais amor próprio, talvez eu queira mais dois dedos do seu veneno com um pouco de ópio, ou simplesmente a minha certidão de óbito.

Tudo é relativo e tudo vai depender de quanto eu consigo ser permissivo, eu sei do que eu preciso, eu sei que soa ofensivo, mas eu também me lembro de tudo que me foi dito, mal de escorpião, rancoroso, passivo agressivo, não sou eu, é apenas o meu signo, risos, risos, risos.
Temos escolha ou apenas lidamos com os prejuízos? Quantos se foram? Quantos dos que ficaram não estão depressivos? Quem realmente está vivo?
Aldo, eu sinto sua falta, primo! Eu queria poder ter feito algo, dizer que vai ficar tudo bem, mas a real é que eu não sei. Você não foi condenado, Deus está ao seu lado, ele me disse, numa das viagens do meu coração alado, fica em paz,Tia Maria, sorria, eu preciso voltar, perdoem o meu TDA e a minha dislexia.

Não me leve a mal, eu quis teu bem, eu tentei te tocar, ser relevante, lavar tua alma, enxugar tuas mágoas, mas eu não cheguei lá eu fui além, te atravessei e você nem me olhou, só disse “tudo bem” eu também te amei.

Ficam as boas lembranças, ficam as facadas nas minhas entranhas, ficam as cicatrizes nos meus poemas, mas pra mim, não é apenas o fim.

Porque nada nunca acaba, tudo me remoi e dói pra caralho, as tuas fotos, os teus stories, nossa história retrógrada, então uso a minha retórica que me puxa pra baixo da escuridão, na caverna de platão, eu enxerguei, eu acordei, eu me levantei, escalei esse buraco no nosso leito. Efeito borboleta, o teu bater de asas afundou meu peito.

E como seguir desse jeito?
É por isso companheiros que eu espero que eu tenha sido um bom amigo!
Lembrem do meu sorriso…

Pai, perdoa teu filho perdido, minhas irmãs, eu não vejo mais sentido, mas saibam que eu as amei.

Mãe, eu te orgulhei? Saiba que diante de Deus eu me ajoelhei, eu orei, Mãe!

E de novo saiba que eu chorei e doeu, e dói, como se fossem dois sóis a sós comigo, refletindo toda a vergonha que eu sinto.

E eu sinto muito, escrevo pouco, sofro em demasia, faço drama, atuo, mas é que a comédia já não me servia.

Novamente eu sai da linha, mas foda-se não é problema seu, bom proveito. Eu vou voltar ao início do sofrimento, quem sabe no suicídio eu te esqueço.

Lucas Alberti Amaral – Belo urbanonascido em 08/11/87. Publicitário, tem uma página onde espalha pensamentos materializados em textos curtos e tentativas de poesias  www.facebook.com/quaseinedito  (curte lá!). Não acredita em horóscopo, mas é de Escorpião, lua em Gêmeos com ascendente em Peixes e Netuno na casa 10. Por fim odeia falar de si mesmo na terceira pessoa.
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Traque, treco, triqui , troco, truco

Viver é sonoro, faz Traque, Treco, Triqui, Troco, Truco, a vida não é de nenhuma forma silenciosa, ela é barulhenta, cheia de ruídos ensurdecedores e silêncios constrangedores.

Esta história é sobre sobre uma pessoa linda que teve sua vida mesclada com outros universos, leitora voraz, via e ouvia os personagens de seus livros, escutava cada palavra, cada ideia, sentia a brisa e viajava por entre cidades, países e reinos encantados, mundos fantásticos e seus personagens, aventuras e desventuras, acompanhou suas provações, amizades e amores avassaladores. Fez tudo que se pode fazer junto a literatura.

No cotidiano real foi esposa, mãe e vó, falava baixo, tinha voz suave e melodiosa que nunca proferia palavrões; teve uma vida humilde, honesta e correta, não conheceu tantos lugares, não teve o amor avassalador dos livros, seu homem abusou da regra três e partiu; mas ela veio nesta vida pra amar e o fez com maestria, construiu amizades sólidas e sinceras, e amou os filhos que a vida lhe deu.

Sua saúde não era das melhores, tinha um Triqui Triqui uma tal de bronquite, que a presenteou com seu gatinho interior que miava em certas estações e silenciava com as inalações; com o tempo, o Triqui Triqui virou um Treco chamado asma, e, como a vida e um agregar de experiências, após seis décadas convivendo e recebendo passivamente o Troco de fumaça dos homens de sua vida (seu pai e um marido eram tabagistas), foi quando em certo ano, o Triqui, o Treco e o Troco unidos, se tornaram ruidosos demais, deram seu golpe de Truco, e ela foi internada com diagnóstico de D.P.O.C. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

No Hospital, neste ano, pela primeira vez foi apresentada a Traque, devido uma longa permanência entubada na UTI precisou ser submetida a uma Traqueostomia , e após longos 50 dias pode se libertar da Traque e voltar pra casa pra conviver apenas com o seu trio da Triqui, do Treco e do Troco unidos , e claro , com seu gatinho interior que agora não se limitava a algumas estações, e vinha miar e ronronar diariamente, requisitando banhos de inalações e determinando que o ritmo da vida agora seria de Tartaruga, tudo bem lento, pra não chiar, pra não miar, pra não cansar.

Graças ao universos dos livros, a “Tartarugues” da vida real não a limitou, voltou a voar, amar, viajar e aventurar-se por mundos sem fim, a sua voz ecoava e fazia barulho e manifestava o infinito universo que havia dentro de si. Contou suas histórias, deu sua opinião, defendeu posições e declarou seu imenso amor. Amiga verdadeira, não desamparou em conselhos e afeto aqueles que a cercam.

Mas, apesar dos cuidados realizados, o seu trio da Triqui, do Treco e do Troco unidos deram um novo golpe de Truco e determinaram que voltasse ao hospital, onde junto com seus filhos completou seus 80 anos. Novamente o Truco trouxe a Traque de volta, aparentemente de forma definitiva, desvelou-se uma estenose de traqueia e um bócio mergulhante que tirou a luz de sua traqueia em 90 por cento , sendo agora a Traque vital pra sua vida.

A Traque veio pra casa e agora temos os novos ruídos provenientes desta união “ traque, treco, triqui, troco e truco”, com experiências sonoras de secreções que se movimentam e das técnicas de aspirações protetivas, sua voz melodiosa não está mais presente aos ouvidos de quem a conhece, surgiram novas formas de comunicação, uma campainha sonora que chama ao longe, o dedilhar das unhas , o estalado da língua como que um cavalinho a galope e os beijinhos estralados que nos chama o olhar pro seu lindo sorriso. Agora sua voz é silenciosa, que fala sem som, a nossa capacidade de fazer leitura labial preservou sua voz, ela fala em silêncio e nós lemos sua voz, seus lábios, seu olhar, seu sorriso e ela irradia amor.

Saibam e aproveitem ! O Viver é sonoro ! Traque, Treco, Triqui, Troco, Truco, serão sempre desafios; mas a vida não é de nenhuma forma silenciosa, ela é barulhenta, cheia de ruídos ensurdecedores e silêncios já não mais constrangedores. Amar faz muito muito barulho! Te Amo!

Thelma Carlsen Fontefria – Bela Urbana, psicóloga, mãe de Isabella, 2 cães, 1 gata, 1 afilhada, 2 gerbils netos, mora em Santos, tentando manter a sanidade neste tempos de um Brasil tão distópico.

 

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A Tal do Natal

A Tal era a vizinha da minha bisavó.

Eu era uma menininha de 05 anos.

A bisavó era pequenininha mas era maior que eu.

Era véspera de Natal e todos se reuniam na casa da bisa. A vó, o vô, as tias avós, as tias, tios, primos de primeiro e segundo grau, embora eu nem soubesse o que era isso e a Tal.

A noite era de festa, música, cores e muitos sabores. Eu toda bonitinha, lacinho, sapatilha e roupinha rosa. A Tal, parecia uma árvore de Natal, saia curtinha, sapato salto, cabelão, muitas pulseiras e batom vermelho.

A casa ficava em festa. O piano era tocado, de mãos em mãos, as vezes a quatro mãos.

A Tal estava sempre comendo.

Nós crianças brincávamos, corríamos de um lado para outro, dando voltas na árvore da frente, mas vira e mexe dávamos de cara, ou melhor, nas pernas da Tal.

Quando o relógio batia 23h45 íamos todos para a sala como a bisa queria. Dávamos as mãos e rezávamos. Eu não entendia muito toda aquela reza, mas sentia que aquilo era importante e ficava quietinha, meus primos eram bagunceiros e não paravam deixando minha tias enlouquecidas.

Aquele ano eu vi a Tal chorando naquela hora, ela abaixou a cabeça e as lágrimas caíam. Eu tão pequena, vi quando as lágrimas pingaram no tapete. Não era para ninguém ver, mas eu vi tudo, inclusive que só eu vi. A Tal viu que eu vi. Nossos olhares se fixaram  por segundos como se fossem uma eternidade.

Papai Noel chegou com seu HOHOHO e quebrou esse olhar ou qualquer coisa que viesse a seguir. Suadão, nunca vi Papai Noel com tanto calor. Cadê o tio Zé? Diziam que ele tinha medo e por isso sempre sumia nessa hora, as crianças corriam para achar o Tio medroso, mas Papai Noel mais rápido começava a chamar o nome das crianças para dar os presentes e todos voltavam correndo.

Que bagunça. Que alegria, a Tal ajudava Papai Noel e entregar os presentes e quando o saco ficou vazio, ele saiu sem o trenó, andando pela porta da frente. Eu fui escondida ver como ele ia embora e para minha surpresa, vi Papai Noel beijando a Tal.

Descobri. Ela era namorada do Papai Noel. Sai correndo, eufórica, para contar o maior segredo de todos os tempos, mas a Tal me impediu e pediu que eu não contasse para ninguém porque segredos de Natal nunca podem ser revelados. Etc e TAL.

Fiquei quieta, mas feliz porque o segredo do Papai Noel só eu sabia. Que noite feliz!

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

Foto: @gilguzzo @ofotografico

 

 

 

 

 

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A certinha da sociedade

Cristina é uma cinquentona, bonita, fina, cheirosa, que anda com um carrão novo importando e tão perfumado quanto ela.

Mãe de um jovem adulto, rapaz bonito também, moreno, como ela. Ela torcia para que filho casasse com uma loira, vivia dizendo “brincando”: – precisa clarear a família. Falava em tom de brincadeira e nem se dava conta o quanto preconceito tinha em sua fala, no fundo queria mesmo ter netos loiros, de morenos já bastava sua família e a do marido.

Marido esse muito bem sucedido, alto executivo, viajado, andava com seu carrão do ano importado, sempre com o ar condicionado ligado e com vidros blindados. Nesse país não tem como ser de outra forma, pensava. Sorte que seu dinheiro permitia esses gastos.

Ela tinha se aposentado há um ano, fez carreira pública, se aposentou muito bem, preferiu ter seu dinheiro para suas despesas pessoais e para alguns segredos. Segredos tão escondidos que é difícil imaginar aquela mulher que adora fazer caridade na igreja com seus segredos.

A guerra pelas eleições fervia na internet, mas ela preferia não dar palpite. Falava sua opinião para grupos pequenos de amigos, todos que pensavam como ela. Se alguém pensasse diferente, já olhava por cima, com desdém, pedia licença, afinal, era educada e saia de perto. Para que discutir política?

A vida dela é chata, assim como ela, bem chata. Era desejada por outros chatos e infelizes, afinal o poder do dinheiro e ainda da beleza, mesmo que morena, ainda causavam impacto e fetiche nesses outros iguais.

O marido e ela, tinham aquela união estável e chata onde a paixão foi embora há muito tempo, se é que existiu em algum dia. Cada um no seu mundo solitário, perfumado e protegido. A casa andava mais quieta do que antes, sempre foi uma casa de pouco barulho, mas depois que o filho foi estudar fora, o silêncio é quase mortal.

Aquele candidato é verdadeiro, homem que fala o que pensa, se encantou. Chegou a sonhar com ele. Um sonho que jamais poderia ser compartilhado. Um sonho onde aquele homem a amarrava na cama e berrava com ela, Ela frágil, ele forte, e não é que ele tinha algo do seu pai quando dava bronca nela e em suas irmãs.

Em segredo ficou esse sonho, assim como os outros que ninguém jamais poderia imaginar naquela figura tão perfeitinha da sociedade do alto escalão. Esses segredos eram quase uma felicidade.

Vivia de quases e tanto fazia o resto.

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

Foto Adriana: Gilguzzo/Ofotografico.