Eu estava sentada em minha varanda, (re)lendo Martha Medeiros, enquanto ativava a vitamina D e eis que um pensamento do tamanho de um elefante passou por mim e eu tive que dar atenção a ele.
Parei a leitura e deixei quarar as ideias, sob o mesmo sol.
O tempo é gerente de mudanças.
Quem passou pelo período pandêmico, como eu, entendeu a incógnita de que mesmo isolados, mudamos. Por vontade, por necessidade ou à revelia, mudamos.
E, como disse a poetisa, a direção é mais importante que a velocidade.
Num flashback, algumas cenas me vieram à memória e eu pude apreciar as minhas escolhas dos últimos anos. Tenho vivido intencionalmente experiências que me ajudam a compreender a complexa equação do tempo, onde o passado e o futuro são fortunas, mas, é para o presente que dou o cuidado que eu mereço.
Merecer, no meu dicionário, é não permitir que a maturidade estrague o que eu conquistei, por isso, eu só o conjugo no presente, e presente é presente mesmo.
Já reparou que há coisas muito boas de se viver que não precisam se repetir?
O bem-estar e a alegria de determinados momentos têm lugar especialíssimo no meu coração, têm efeito em mim, mas, não quero que se repita!
Não quero que se repita é artigo definido de decisão.
A vida é uma sucessão de acontecimentos e não quero me apegar a nenhuma fração. Quero celebrar os momentos, honrar as lembranças e, principalmente, agradecer às pessoas pelas parcerias amorosas que são inegavelmente a composição de uma história que continua.
O tempo comunga a beleza de senti-lo.
Percebo que na tentativa de reproduzir os acontecimentos, reeditar sensações e sentimentos, desperta-se as frustrações. Afinal, um passo à frente e não se está mais onde estava, não sou a mesma, não há razão para querer que as coisas sejam.
Sabe quando você faz uma viagem maravilhosa e pensa em voltar todos os anos? Nunca será igual, não é? Pode ser melhor, pode ser pior, sempre será diferente, porque o tempo não estaciona e a natureza é movimento contínuo.
Quero lembrar, quero comemorar, quero me emocionar com o que passou, só não quero repetir.
Dito isso, não conte comigo! Reservo minha energia para criar experiências novas, intencionais e significativas, com memória, com planejamento, com perspectivas e com pessoas como você…
Refletir me alivia do peso de dizer não, pois, eu não quero ser rude, mas já não posso ser quem fui se até o elefante que passou por aqui não é mais o mesmo. Partiu, todo decidido a visitar outras cabeças.
Dany Cais – Fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. Iinstagram @daniela.cais