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Setembro Amarelo

Em cima da penteadeira, um bilhete com uma fita amarela.
Amareladas estão as páginas do diário, pouco escritas por ela.
Um sentimento de vazio por não saber o que conversar.
Enrolada na coberta, sentindo um pouco de frio, que logo iria passar.

Ela tentou falar com a irmã, que, ocupada, não pôde retornar.
Tentou também falar com o namorado, que, sem tempo, não quis conversar.
Ela mesma achava besteira; o que doía nela era, talvez, coisa da sua cabeça.
Pensamentos estranhos, uma grande vontade de resetar o jogo.

Afinal, não havia final feliz para aquela história.
Poucos sentiriam sua falta, e ela poderia recomeçar.
Será que existe recomeço? Será que há outro lugar?
Que diferença faz, se aqui também não está bom?

Em cima da mesa, um bilhete com uma fita amarela que ela não abriu.
Um diário com páginas amareladas, que ela mal escreveu.
Ao lado da cama, um frasco de remédios, vazio.
Olhos fechados, cabelo arrumado, ela dormiu.

Não vai acordar mais… O que será que tinha para dizer?
Não vai me procurar, nenhum tempo do mundo vai resolver.
O bilhete com a fita amarela foi aberto só depois.
Lá dizia: “Nos procure, estamos aqui para ajudar.” Será mesmo?

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela mulher sorrindo.
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Ainda tenho…

O tempo parece um menino…

ora soltando pipa, ora traçando o destino.

O tempo parece um mago, daqueles de festa de aniversário, que esconde os brinquedos da gente e desaparece…achando graça. Parece uma brincadeira de esconde-esconde. Envaidece.

O tempo passa…

Implacável, intolerante, imparcial, quase um delinquente.

O tempo tira sarro da gente

e anda depressa.

Outro dia era uma chuva fina acompanhada de bolinhos e ovos mexidos, e de repente, é uma saudade imensa do meu pai e da minha avó.

Tempo de cada cachorro que amei, tempo de tanta coisa que eu não vivi, tempo de quando carreguei minha filha no colo.

Às vezes, olho para o tempo e choro.

Fico buscando um tempo para me amar um pouquinho.

“pega leve comigo…ainda tenho pipas para soltar”

Siomara Carlson – Bela Urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
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Não me peça para repetir

Eu estava sentada em minha varanda, (re)lendo Martha Medeiros, enquanto ativava a vitamina D e eis que um pensamento do tamanho de um elefante passou por mim e eu tive que dar atenção a ele.

Parei a leitura e deixei quarar as ideias, sob o mesmo sol.

O tempo é gerente de mudanças.

Quem passou pelo período pandêmico, como eu, entendeu a incógnita de que mesmo isolados, mudamos. Por vontade, por necessidade ou à revelia, mudamos.

E, como disse a poetisa, a direção é mais importante que a velocidade.

Num flashback, algumas cenas me vieram à memória e eu pude apreciar as minhas escolhas dos últimos anos. Tenho vivido intencionalmente experiências que me ajudam a compreender a complexa equação do tempo, onde o passado e o futuro são fortunas, mas, é para o presente que dou o cuidado que eu mereço.

Merecer, no meu dicionário, é não permitir que a maturidade estrague o que eu conquistei, por isso, eu só o conjugo no presente, e presente é presente mesmo.

Já reparou que há coisas muito boas de se viver que não precisam se repetir?

O bem-estar e a alegria de determinados momentos têm lugar especialíssimo no meu coração, têm efeito em mim, mas, não quero que se repita!

Não quero que se repita é artigo definido de decisão.

A vida é uma sucessão de acontecimentos e não quero me apegar a nenhuma fração. Quero celebrar os momentos, honrar as lembranças e, principalmente, agradecer às pessoas pelas parcerias amorosas que são inegavelmente a composição de uma história que continua.

O tempo comunga a beleza de senti-lo.

Percebo que na tentativa de reproduzir os acontecimentos, reeditar sensações e sentimentos, desperta-se as frustrações. Afinal, um passo à frente e não se está mais onde estava, não sou a mesma, não há razão para querer que as coisas sejam.

Sabe quando você faz uma viagem maravilhosa e pensa em voltar todos os anos? Nunca será igual, não é? Pode ser melhor, pode ser pior, sempre será diferente, porque o tempo não estaciona e a natureza é movimento contínuo.

Quero lembrar, quero comemorar, quero me emocionar com o que passou, só não quero repetir.

Dito isso, não conte comigo! Reservo minha energia para criar experiências novas, intencionais e significativas, com memória, com planejamento, com perspectivas e com pessoas como você…

Refletir me alivia do peso de dizer não, pois, eu não quero ser rude, mas já não posso ser quem fui se até o elefante que passou por aqui não é mais o mesmo. Partiu, todo decidido a visitar outras cabeças.

Dany Cais – Fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. Iinstagram @daniela.cais
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Um novo dia

Um novo dia,
Uma nova chance
De mudarmos o que outrora
Nos fizeram distantes…
Longe do amor e da empatia
Quem de nós nunca se perdeu um dia?
Mas a lua vem e traz sonhos consigo,
Basta enxergar além do horizonte tolhido.
Buscar dentro de si,
Amor e compreensão,
Mais ainda que isso,
Buscar o verdadeiro perdão!
Coração em paz,
Pensamentos elevados,
Como seria bom se fossemos todos curados!?
O processo é solo,
A atitude é pessoal,
Um dia você desperta,
Pro incrível e anormal!
Desejo essa luz
Que conduz aos desorientados,
Somos todos Tal navio
Sem farol em dia nublado!

Carol Costa – Bela Urbana, mulher, mãe de dois meninos, bacharel em direito, apaixonada pela escrita, pela vida e movida por sonhos.

 

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Carta ao meu Passado

Querido Passado,

Você deveria estar lá, no passado. Mas não é assim: você está no meu presente de forma consciente ou inconsciente. Esse não é mais o seu lugar. Seu lugar é lá, no passado.

“Mas Paula, eu estou no passado. É você quem me traz e continua carregando no presente. Me deixa no meu lugar, me deixa para trás” – diz o meu Passado.

Você tem razão. Lá você está muito bem. Agora que eu penso, lá você está muito bem. Você pertence ao passado, esse é o seu lugar. Não adianta trazer você para o presente porque você não encaixa aqui, você é uma peça de um quebra-cabeça que estou tentando encaixar no meu presente; e obviamente você não encaixa porque meu quebra-cabeça atual é outro, já não é o mesmo do meu passado.

“Então me deixa para trás! Me solta! Se liberta!” – diz o meu Passado.

Sim, Passado. Você tem razão. Obrigada por tudo que você me ensinou quando era o meu presente, mas como você já não é meu presente, preciso deixar você ir embora. Respeito o seu lugar e não deixarei você entrar no meu presente de novo porque você já não existe mais.

“Paula, se perdoa! Me liberando e me deixando no passado você vai se perdoar” – diz meu Passado.

Assim é, Passado. Eu te libero. Eu sinto muito, me perdoe, sou grata, eu te amo.

Com carinho,

Paula.

Paula Andrea Benavides –  É colombiana, mora no Brasil há 13 anos, mãe da Gabi de 11 anos, franqueada de uma escola de idiomas, é solteira.
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Tempo simbólico

O tempo é algo simbólico
Algo que passa e não se sente
Muitas vezes ele surge
Sem por que e de repente

Quando menos se espera
Já estamos lá na frente
Consumindo o futuro
O passado e o presente

Temos muitos deveres
E trabalhamos descontentes
Porém quando temos tempo livre
A diversão sempre emerge

Apesar de não sentir
Ele está sempre presente
Contando a nossa história
E os momentos da nossa gente…

Mirian Fernandes – Bela Urbana,  estudante do ensino médio, gosta de  escrever poesias, músicas que falam sobre violência abusos e muitos outros.
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Falo do eu que é hoje…

Guardo aqui dentro todo mundo que já fui.
Entre as farpas.. Entre os medos..
Entremeados, todos, entre as vidas que acolhi, e “mortes” que escolhi me dar.
Somos, nesse lapso, o que a soma conseguiu resolver de nós.
E tudo bem não aceitar.
Só não muda nada.
Nem o tempo.

Sem qualquer equilíbrio, empilho tudo em frente ao espelho..
É manhã de quarta-feira.
Já foram tantas.. Já fomos tantos..
Já fui tanto.
O que ele não reflete, vidrado, me mostra o que perdi, enquanto me esquadrinha a verdade cruel do tempo: vencer, as vezes, é extinguir.

Falo do eu que é hoje.. Dos que não são.. De validade.. Tudo.
Vitória ou derrocada?
É um momento de pouca paixão, sobretudo autoral.
Mas todo respeito.

E ali, de volta, é esse próprio tempo quem me responde o aceno, rindo dos 2 pêlos brancos acesos no canto direito do bigode ainda preto, e da testa invadindo o telhado castanho mais desavergonhadamente pelo flanco esquerdo.
Já entendi.. Por igual, nem a velhice.
O caminho é mesmo muito mais tortuoso do que supôs minha inocência superada.

Ainda ali, retardado o tempo, me viu tentar, desesperadamente, não ceder aos caprichos de outros eus.
Outras eras, de outros “eras”.
Deixar me calçar os pés doloridos o que menos correu atrás de sonhos nossos, ou vestir meu sorriso desbotado o mais melancólico de nós.. Lágrimas, estranhamente mais livres, proibidas para o que mais conquistou, e até o silêncio, entalado, mudou-se de cada um que em mim foi grito, e canto, e voz.
Não hoje. Não, tempo.
Já conheço bem uma porção de equívocos para saber os que mais combinam com o meu dia.
Intercalar-me é tão certo quanto errar, só tenho prefirido inaugurar lambanças inéditas.

Olho o relógio aceso no celular a me dizer que é tarde para um tanto de vidas, e deixo a culpa bater a porta, guardando em casa meu cachorro e o tempo que não temos. Tudo embaralhado nas voltas da chave que não suspende o sonho.
Que não acende suspiros..
A rotina é feito doce diet para quem não pode o normal mas quer, e a gente segue fazendo o melhor que pode para iludir os prazeres e controlar as “glicoses”.
Meu tempo, meus temperos, né?
Ou o destempero total.

Na esquina da vida, entre a espera de ser e de vencer, vem o menino que queria ser feliz e, de um jeito meio destrambelhado, conseguiu, um pouco, em cada um que teve sua vez.
Não sem perder.. Não sem pesar..
Não sempre.. Mas muito.
E de verdade.
E se havia mesmo tão mais para ser menos, convém lembrar, em tempo, que há sorte, até mesmo, onde ainda não há gratidão.
Mas há tempo pra gente descobrir que aquilo que nos tornamos é vitória.
Dá tempo.

Escrito pelo pior poeta de nós todos, e que não faz a menor ideia do que está dizendo.

Bernardo Fernandes –  Um gêmeo canceriano, e um ingênuo que já passou dos 35 anos, nesse contínuo processo insano de se descobrir. Achou na Comunicação uma paixão e uma labuta, e vive nessa luta de existir além do resistir, fazendo diferente e diferença… Ser feliz de propósito, sabe? Sem se distrair desse propósito. E vai assim, escrevendo o que a alma escolhe dizer, tocando o que a viola resolve contar, fazendo festas com cachorros e amigos perdidos, e brincando de volei, de pique, e de ser feliz na aventura da sua viagem. Vai uma carona?

 

 

 

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Vivemos esperando

Vivemos esperando. O que você está esperando? Talvez, no atual contexto da sua vida, sua resposta seja simples: “estou esperando o ônibus, o carro de aplicativo, a fila do supermercado andar, a chuva passar”. Para outros leitores e ouvintes, a resposta poderá ser mais complexa, com embargo na voz e um nó na garganta sairá um espremido “estou esperando o diagnóstico de tal exame, a reconciliação de pessoas queridas, o retorno ao lar, a fila da adoção andar”.

O verbo ESPERAR é conjugado por todos, com demandas e tempo diferentes. Em relação ao TEMPO, o sábio Salomão escreveu “Há um tempo certo para cada coisa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu”. Concluo que o tempo e a espera são elementos da vida humana com implicações distintas mediante as fases da vida.

Na atual fase da história da minha vida, o tempo cronológico marca a chegada dos 40 anos; o tempo psicológico brinca com o sonho da maternidade, afinal faz tempo que estou na fila da adoção e até já escrevi um livro sobre isso, intitulado “Enquanto espero”. Enquanto espero meus filhos, surgem outras esperas que custam meu bem mais valioso – o tempo.

Entre uma espera e outra, enquanto escrevo este texto, ecoa em minha mente a música “Oração ao tempo” de Caetano Veloso. Estou convicta de que há tempo para todas as coisas, porque tudo passa como já cantava Ivete Sangalo “quando a chuva passar, quando o tempo abrir, abra a janela e veja eu sou o sol”. No mesmo compasso, reafirmo o início do meu texto com um trecho do Jota Quest “Vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais”.

Miriam Camelo de Assis – Bela Urbana, alguém sendo constantemente reformada pelas palavras. Formada em administração e letras. É professora de língua portuguesa por profissão e paixão. Ama artesanato e uma boa conversa.

 

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…ao tempo

Ao tempo,
que me curou as feridas da infância

Ao tempo,
que passou rápido para que eu ingressasse no mundo da maioridade

Ao tempo,
que se apressou, para atender todas as minhas demandas de mulher, mãe, profissional, irmã, amiga e outros infinitos papéis que vivi

Ao tempo,
que se aquietou, pacientemente, quando me recolhi em dores e sofrimentos

Ao tempo,
que se expandiu e se alongou para fazer caber tantos eventos, festas e encontros, num curto espaço de tempo

Ao tempo,
que me trouxe marcas no rosto e no corpo, mostrando-me a intensa vida vivida

Ao tempo, que carrega sabedoria e em mim a deposita, à esperança de que dela eu faça bom uso

Um brinde AO TEMPO, que me fez ver que há tempo para tudo, quando estamos no tempo presente.

Marisa da Camara – Bela Urbana, Administradora aposentada, que hoje atua em suas paixões: a escrita e a radiestesia. Crê nas energias da natureza e é amante da vida, dos seres humanos e ‘doidinha’ por seus 4 netos.

 

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Cedo demais

Você me acordou cedo demais.

Calma, não quero levantar ainda. Está escuro, não ouço os pássaros ainda.

Espere mais um pouco. Vou fechar os olhos me cobrir de novo e depois você volta.

Agora sim, vou levantar.

Mas calma ai vou devagar.

Você esta vendo que o dia esta frio, mais lento hoje. Nao espere muito de mim.

Certo, já coloquei a roupa, vou como sempre, tomar um suco rápido e sair. Você vai ficar ai me olhando? Vem comigo, uma hora está bom. Passa rápido.

Não disse, voou. Agora fique calmo o banho nãoo demora, um café e seguimos.

O elevador chegou, você não vem? Anda logo precisamos correr pra pegar o metro. Pronto perdemos um. Agora esperar.

Chegamos, ela já está nos esperando. Entra logo temos muito o que fazer, vai demorar.

Acabou, vamos embora correndo, tenho fome. Almoçamos e deitamos um pouco.

Nossa, a sesta foi muito longa, você me enganou. Precisamos refazer os planos. Vai ser tudo corrido de novo, mercado, fármacia, olha o sinal, rápido!

Fechou!

Eu disse: rápido!

E esse porteiro parece surdo, nos esperando trancados do lado de fora.

Sobe, vamos! Deixa tudo ai preciso ligar para os filhos.

A tarde já foi. Agora a noite.

Você sempre ao meu lado me lembrando que está passando. Apenas passando. Eu e você. Você e eu!

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.