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Chapéus

Primeiro foi o boné, verde-escuro, com a aba para frente. Enjoei, quis mudar, virei, aba para as costas.

Caminhei, cansei, hum, chapéu de palha, rústico… diferente, troquei. Mas, depois de um tempo, não combinava com a urbanidade que me rodeava e onde eu estava inserida. Passei para frente em um farol.

Um gorro de inverno, preto, para combinar com tudo, principalmente para me aquecer naquele show no estádio, na plateia, no chão. Show dançante tem que ser no chão. Me aqueceu… dancei…

Achei melhor algo meio alternativo para o verão, uma viseira. Tentei, mas não gosto de viseira. Deixei ali, na piscina, e caí fora.

Busquei um chapéu coco, esse lado teatral que vive em mim. Compartilhamos muitos momentos. Brincar de Charles Chaplin tupiniquim foi divertido um tempo, mas depois sentia necessidade de algo mais sério.

Me apaixonei por um panamá, tinha aquele charme irresistível. Paixão louca. Louca paixão. Não desgrudava dele, fiquei com ele muitos anos, mas o charme no uso direto foi indo embora. Eu nem percebi a decadência diária, só que um dia olhei e não dava mais para andar com ele. Me despedi e fui embora.

Um tempo com os cabelos ao vento, só sentindo o vento, na cidade, na praia e na montanha. E não é que lá, meus olhos brilharam por um chapéu cowboy? Aba larga… Copa alta… Quem diria que eu ia gostar? E olha que gostei.

Pois é, a vida é assim, cheia de chapéus. Troco quando quero, quando cansa, quando mudo o estilo, mas não mudo a essência. E o que vale é não se sabotar, e sim, experimentar.

Top, top, topo.

Adriana Chebabi – Sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas. Publicitária. Roteirista. Escritora. Uma contadora de histórias. Curiosa por natureza.  Uma sonhadora que realiza.  Acredita que podemos melhorar o mundo. Talvez ingênua, talvez não. Desafios a instigam. Ama viajar, estar na natureza e experimentar novos sabores. É do signo de Leão, não tem mais certeza do ascendente, mas sabe que no horóscopo chinês é Macaco.

 

 

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Nostalgia & 2011

Amigos eu tenho pouco para conversar, e muito para deixar aos pensamentos de vocês. Será que cabe aos pequenos, questionar as evoluções que estão sendo priorizadas a favor de uma vida mais aprimorada para eles?

Ou será, que esses mesmos pequenos deverão se sentir, gratificados e levantar as mãos para os céus por poderem ser mais evolutivos, do que nós seus pais? Posso garantir de que essa evolução está dentro de nossas avaliações anteriores ao Século XXI! A isso eu chamo de NOSTALGIA!

Primeiro: Quem não se lembra do gostoso lanche que levava para a escola?

Segundo: Quem não se lembra, de que se não estudasse, não passaria de ano escolar?

Terceiro: Quem não se lembra de que se ficasse na rua mais tempo, ao voltar seria questionado, para não dizer castigado?

Quarto: Quem não se lembra de que não deveria ficar na sala, quando os pais tivessem uma visita?

Quinto: Quem não se lembra de que se mentisse, ou omitisse algo de seus pais, seria castigado, e muitas vezes muito duro o castigo?

Sexto: Quem não se lembra, de que se pedisse mais comida, ou água teria que comer e beber até o final até a barriga estourar?

Sétimo: Quem não se lembra, de que os adultos não conversavam próximos de crianças, de forma nenhuma?

Oitavo: Quem não se lembra, de que os mais velhos comiam o melhor pedaço dos alimentos apresentados à mesa?

Nono: Quem não se lembra, de que corria atrás do sorveteiro, piruliteiro, e do homem do biju?

Décimo: Quem não se lembra, de que tomava a Benção de seus Pais?

Bem, algumas perguntas que podem ser anexadas às outras que por ventura vocês se lembram…

E, que isso tem causado algumas atribulações quando vocês se colocam diante de crianças, e adultos em conflito, ou até mesmo você que acha que não há necessidade de limites nessa aventura que é crescer, para se situar no futuro.

Agora, eu pergunto, nesse dia Santo, pois hoje é Sexta-feira Santa! E daí eu pergunto: O quê é uma Sexta-feira SANTA? Vocês se lembram? Ou melhor, vivenciaram algo bem diferente do que hoje? E qual o significado do peixe na quaresma?

Vocês se lembram?

Joana D’arc de Paula – Bela Urbana, educadora infantil aposentada depois de 42 anos seguidos em uma mesma escola, não consegue aposenta-se da do calor e a da textura do observar a natureza arredor. Neste vai e vem de melodias entre pautas e simetrias, seu único interesse é tocar com seus toques grafitados pela emoção.

 

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Subjetivamente

Subjetiva

Ativa

mas…

Subjetiva quando precisa ser. Precisa?

Objetiva

Ativa

Subjetivamente complexa

Pensante, avante

Um passo para frente

Dois para trás

Essa subjetividade

Gerando dúvidas

Girando como uma roda-gigante

As vezes em cima

As vezes em baixo

Subjetivamente sem quebrar a roda

Subjetivamente ficando tonta de tanto rodar

Assustando e

Assustada na roda que pode quebrar

Porque tanta subjetividade?

Porque tantos pensamentos?

A busca pelo caminho certo

Quando o caminho gira, roda, sobe, desce

Mas não sai dessa roda de subjetividade

Atividade é isso

Vamos avante

Objetivamente a busca

Além dessa subjetividade cansante

ou quem sabe, constante.

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.

 

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Fragmentos de um diário

“… O que tem que ser será? Será?” De novo depois de tantos anos a mesma pergunta e ainda não sei a resposta.

Quem sou eu afinal? Ou quantas sou eu afinal? Ou quais sou eu que gosto mais? Onde quero estar? Quem e o quê quero do meu lado? O que quero fazer? Produzir? Criar? Inventar? Já vi tanta coisa, mas me falta ver tantas outras ainda.

Me olho no espelho e na maioria das vezes ainda gosto da alma que vejo….

O tempo de aceitar coisas ruins já acabou. Hoje é um novo tempo e sei que a “eu de hoje” tem muito mais recursos internos e isso me deixa mais segura para saber que todo ser humano faz escolhas, mas que devemos sempre escolher o que no faz bem.

Eu me prometo que meus domingos serão mais felizes, que a minhas companhias sejam de alegria, acompanhada ou só…. que assim seja, é claro estiver ao alcance de minhas escolhas.

27 de agosto – Gisa Luiza – 49 anos

Adriana Chebabi –  Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :). A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza

Foto Adriana: Gilguzzo/Ofotografico.

 

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Botões

Eu e os meus botões.
Tem horas que da um aperto.
Tem horas que eles são apertados.
Tem horas que eles me apertam.
Tem momentos que vejo e
Tem momentos que eles são mostrados.
Botões aonde vcs estão?
Tem horas que escuto e Tem horas que só escuto o silêncio dos botões.
Tem horas que vem muito barulho.
Tem horas que vem uma paz
Será que apertei o botão certo?
Tem horas que vem a dúvida,
Aonde fui ou aonde os botões me levaram
Aonde estou
Sou um botão?
Sou a soma deles.
Sou o todo.
Haaa botões.
Eu e os meus.

Octavio D’Avila- Formado em Psicologia, terapeuta Ayurvedico. Quando nasceu seu filho, nasceu dentro dele um escritor que descreve detalhes da vida, captura momentos preciosos, momentos que muitas vezes passam despercebidos.
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Existe um eu sou?

Somos aquilo que pensamos ser? Será que me vejo a partir do meu próprio olhar
ou através do olhar dos outros — a começar pela família e, posteriormente, pela
sociedade — que nos impõe valores e comportamentos com a promessa de que
seremos aceitos e amados?

É verdade que nascemos num mundo factual, onde as coisas já estão dadas e
sobre as quais não temos o menor controle, como o lugar de nascimento, a
família, a cor da pele, entre outros. Somos frutos da nossa época, com a sua
historicidade, cultura e contingências.

A princípio, somos natureza in natura, expressando-se na sua potência de ser e
existir. Ao interagir com o mundo, experimentamos uma força de expansão e
criação — sobretudo de nós mesmos. Neste estado, onde o existir se assemelha
a uma experiência de comunhão com o mundo e com o outro, tudo se entrelaça,
favorecendo a continuidade do ser e tornando-nos uma versão inédita de nós
próprios.

Nesta perspectiva, o sentir e o pensar estão integrados, de tal modo que as
palavras não conseguem conter a linguagem dos afetos — são apenas pontes
entre a experiência partilhada e o indizível do mundo particular que compõe cada
um de nós.

Seguimos pela vida em busca de nós mesmos — ora vivenciando algo mais
próprio, ora nos perdendo em meio aos discursos e falatórios da cultura a que
pertencemos. Todavia, a doce e terrível angústia de ter de ser as minhas
possibilidades, num mundo fluido e dinâmico, convoca-me a transformações e
realizações.

Quando estamos abertos para compor com o fluxo da vida, renunciando à
segurança de um pertencer engessado — isto é, aceitando que não podemos
deter a vida, pois ela nos escapa por entre os dedos — somos então lançados à
aventura de nos criar e recriar na novidade de cada instante.

A ideia de controle retira-nos do movimento da vida, reduzindo o ser a uma
representação daquilo que gostaríamos que fosse. Todavia, não há nada mais
real e potente do que sermos nós mesmos. A busca pela perfeição objetifica-nos
e rouba-nos a beleza do fazer-se e do tornar-se aquilo que se é. É interessante
pensar que um lindo vaso de argila, na sua origem, foi apenas uma massa
disforme; porém, quando moldada pelas mãos de um artífice, transforma-se
numa obra de arte. É possível imaginar a vida como movimento, de modo que
em algum momento, no tempo e no espaço, tal vaso possa retornar à sua origem.
Viver é um estado de permanente recomeço. Noite e dia ressurgem, a cada vez,
de modos diferentes e, assim, passado, presente e futuro encontram-se num
fazer contínuo. A bagagem do passado serve-nos de matéria-prima, que será
atualizada pelo presente, tornando-se a semente para um futuro que já desde
sempre começou. O futuro é um esboço de um amanhã que será preenchido, a
cada dia, ao seu modo. Somente ao final de uma vida podemos vislumbrar a
obra concluída — e não há nada mais sublime do que perceber-se coautor da
própria existência.

Somos complexos, múltiplos e diversos, pois, a cada instante, surgem inúmeras
possibilidades de novos arranjos e combinações com a experiência vivida.
Considerando, assim, as infinitas possibilidades que se apresentam diante de
nós e a finitude que nos constitui, é inevitável lidarmos com a dor de ser e deixar
de ser. Afinal, para que algo possa nascer como possibilidade vivida, outras
possibilidades precisam ser inviabilizadas — ao menos naquele instante no
tempo.

Considerando que somos uma metamorfose ambulante, como cantou Raul
Seixas, na origem de tudo encontra-se um existir vazio, mas potente de
possibilidades — um lugar nunca preenchido, de onde emana o ato criativo.
Podemos, assim, transcender a finitude da vida quando, ao contemplar as
infinitas possibilidades, damos o salto de fé — mergulhando na direção de
algumas delas, não com a pretensão de acertar, mas com o intuito de uma
expansão e autor realização.

O salto de fé projeta-nos para fora, levando-nos, paradoxalmente, a mergulhar
mais fundo em nós mesmos. Tal como as plantas que se estressam no outono
com a chegada do inverno, também aprofundamos nossas raízes para, mais
tarde, florescer com maior vigor.

Às vezes, devido às nossas inseguranças, sentimos necessidade de nos apoiar
em coisas — como a grife de uma roupa, o copo de cristal, um lugar turístico,
entre outros — em busca de garantias para um bom encontro. No entanto,
quando o bom encontro realmente acontece, tais coisas tornam-se irrelevantes.
A vida é assim: quando tentamos definir o que é dançar, perdemos a dança.

Pensar a vida fora da experiência vivida é um trabalho infrutífero — oferece-nos
apenas a ilusão de algo possível para além da nossa própria trajetória singular,
feita de dores e alegrias. Crescer envolve uma dor necessária, pois novas
estruturas estão sendo forjadas para que novas fontes de vida possam nascer e
jorrar do nosso interior.

Maria das Graças Guedes de Carvalho – Psicologa. Ama a vida e suas dádivas como ser mãe, cuidar de pessoas e visitar o mar.

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Mistérios e encantos

Hoje vi o Mar e me encantei novamente com suas ondulações radiantes, sua capacidade de refletir a luz do sol e se mostrar tão belo, límpido, tão espelhado!

Há detalhes escondidos por entre as pedras que resistem nas suas orlas! Vidas que persistem em seu entorno! Pequenos lugares propícios, esconderijos de vidas marinhas!

Mais além, há uma imensidão azulada, que tomou a forma do Céu e guarda nas profundezas escuras o segredo da Vida,

O eterno movimento dos contrastes.

Luz e sombra, calor e frio. Concentrar-se em seus antros inimagináveis e esparramar suas espumas na superfície.

Às vezes plácido movimento, outras vezes, furiosas tempestades, mas sempre entregando a Beleza que recolhe do seu interior!

Ana Paixão – Bela Urbana, filosofa, pedagoga, palestrante e educadora que trabalha com treinamentos há mais de 10 anos

 

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Lavando louça

Pia cheia, lavar a pia, o povo pia,

Berra, grita, esperneia…

Panelas seguem seu rumo, não são lavadas

São apavorantes… porque? Me pergunto? Porque?

Ah imagino que as mãos cansem e o cérebro derreta.

Sujou, lavou, lavou, ensaboou, ensaboa que tudo passa

Lavar a louça? Muitos não lavam, enrolam,

Outros, se encorajam, superam e até meditam…

Assim como a vida, você lava ou não lava a louça?

Macarena Lobos –  Formada em comunicação social, fotógrafa há mais de 25 anos, já clicou muitas personalidades, trabalhos publicitários e muitas coberturas jornalísticas. Trabalha com marketing digital e gerencia o coworking Redes, roteirista e produtora do podcast Maca Comunica. De natureza apaixonada e vibrante, se arrisca e segue em frente. 

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Mãe on

Hoje olhei a estante onde juntei os livros que o filho que foi pra longe, deixou. Um me chamou atenção e resolvi pegar para ler: Zen e a arte de salvar o planeta.

Bela descoberta de leitura e de um lado das escolhas do filho.

Sai abrindo gavetas do passado onde esse menino que agora já vai nos 30, tinha 6, 7 anos. Aprendeu a ler, se agarrou aos livros e não soltou mais.

Todos os de Harry Potter lia e relia. Ficção, histórias reais, filosofia, política foram acompanhando seu crescimento.

Ao lado um grande incentivados, o pai. Livros de presente, sempre.

Ele entre aulas de jiu-jitsu, academia, surf, namoradas e amigos, um livro por perto.

Silêncio no quarto, livro na mão.

Café na padaria, na livraria, livro na mão. Aeroporto, avião, livros na mão.

Hoje ao ler o Zen me deparei com suspiros de alegria e enormes saudades de vê-lo no silêncio de um livro.

As estantes agora vazias, encheram as caixas de mudança.

Hoje ele está nas montanhas geladas trabalhando, vivendo.

A saudade se intensifica e vira esperança. Esperança de revê-lo feliz em cada escolha. Esperança que nossos caminhos se cruzem em algum momento e eu possa de novo admirá-lo num canto qualquer amarrado a um livro.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.

 

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O exercício de poder e o vocábulo indizível do que se sente

Achou que podia ser ríspido comigo, achou que podia ser displicente comigo, achou que podia me criticar por falhas que não cometi, assim fez.

Achou que podia exigir de mim o sexo que não consegui, achou que tinha mais razão e quando reclamei, achou que sempre recebia a culpa de tudo no mundo. Achou que podia me vigorar, vigiar minhas mensagens, meus eletrônicos, pós câmera escondida, criticou minha negativa, era amor. E de achar em achar, se criou o hábito, se perdeu o espaço e a vida.

Era para si o centro de tudo que era bom e tudo que era ruim. O resto orbitava. Me sentia o resto. E quando debatemos essa relação de centro e periferia, apenas eu tinha algo a fazer, mudar e repensar. Até o que no pacto era de sua responsabilidade, eu tinha que sinalizar. Eu era o servo.
Eu tinha a faca, o queijo, o machucado, a culpa do corte e o curativo para colocar, e apenas uma mão para fazer tudo isso. Não era queijo, mas minha queixa, meu problema, minha solução que me machucava e que não permitia atender a demanda de alguem. Tudo isso para resolver ao mesmo tempo, senão adeus. Pior solidão é aquela na qual quem está contigo te impõe. E impõe ao ponto de querer dormir numa noite fria com ventilador, apenas para sentir o abraço quente de um cobertor.

Que poder tem Narciso sobre seu espelho, se só o que ele vê é sua estonteante imagem? Apenas poder sobre aquele que lhe presenteia com espelho, limpa o espelho, carrega o espelho e mesmo assim, ergue o espelho no ângulo incorreto. Sobre esse serviçal recai o poder de quem só quer ver a si, sofre por não ter com quem se espelhar, chora de barriga cheia de si, de umbigo.

E quando se libertar? Quando ressuscitar meu narciso e lutar? Quando conseguir comunicar mercuriosa minhas vontades em uma negociação diplomática por território? Ou simplesmente aceitar que a vida é assim, uma condição rara de uma doença chamada amor que, aos desafortunados, aparece como lepra?

A cada um que sofre, uma solução. Mas de fato, belas palavras servem apenas para ampliar um vocábulo de sentimentos inomináveis que tentamos, de análise em análise elaborar. Um vocabulário que não serve a ninguem, a não ser ao que adquire. Individual vocabulário que não conseguimos comunicar. E por lógica, o vocabulário que não se usa para comunicar, não existe. Mas por que ele está lá, dentro de nós, como sentimentos indecifráveis?

E se o que sentimos, de bom ou ruim, reside em um vocabulário indecifrável ao outro, como negociar a paz? Se nossa necessidade é incomunicável, como ser atendido pelo outro? E se não podemos contar com seu esforço em tentar entender nossa arqueologia gráfica emocional? Capaz que uma boa relação se faz de pessoas que tentam decifrar um ao outro, sabendo da inglória tarefa de fazê-lo, abastecendo- se de perceber o quanto o outro tenta. E tenta para estar junto.

E nessa tentativa, o exercício de poder (exercido com o achar que pode) se esvai, pois encontra sempre uma demanda alheia que pode atender antes de trazer a sua, na certeza que será atendida ou mesmo tentada. Uma troca de gentilezas que tenta acolher e ler o outro de forma sincera. Capaz que seja isso. Capaz que não.

Esse texto vai ganhando ares cada vez mais contornos incompreensíveis e preciso aqui parar. Tentativas de expor meu sentimento indecifrável só irá confundir o leitor. Espero que apenas amplie o vocabulário interno, para que a capacidade de ler o outro seja uma vez mais a ode da vida em relação. Sem deixar de ser ouvido e compreendido para tornar-se nem servo nem capataz, mas sim, na troca de tentativas, ser mais nós que eu.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.