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Relações abusivas, uma reflexão sobre autoconhecimento e autocuidado

Relações abusivas muitas vezes são acordos, permissões silenciosas, repetições de padrões inconscientes. Aquilo que em alguns momentos não percebemos ou fingimos não perceber.

Quando a permissão aparece fora pode ser que já estejamos vivendo muitas permissões dentro de nós. Platão, filósofo da Grécia antiga, chamava essa atitude de licenciosidade, o ato de permitir perder o domínio de si mesmo quando medos, frustrações, e outras sensações diminuem nossa capacidade de ser quem somos como seres dignos e valorosos. Perdemos a confiança em nós mesmos e passamos a nos apoiar e nos justificar em nossas debilidades e inconscientemente percorremos caminhos dentro de nós perdidos em um labirinto de sensações e hábitos que nos falam sobre nossa falta de valor. Assim, adoecemos e não lutamos dentro, mas em algum momento a necessidade de entrar em guerra se torna iminente quando percebemos a realidade estampada em nossa vida nos limites das relações adoecidas e sem amor! Como acabei nessa situação? Quem será o culpado? O que fazer agora? São muitas as questões que nos surgem no momento que abrimos os olhos e começamos a trilhar a senda do autoconhecimento.

Há um livro hindu chamado Bhagavad Gita que conta a história de uma guerra onde o herói, chamado Arjuna, sente o ímpeto da licenciosidade diante do seu dever como guerreiro de lutar por aquilo que é seu por direito, apenas porque seus inimigos são seus “familiares”. Este livro fala simbolicamente do homem dividido dentro de si entre o que carrega de luz e de sombra. Por um lado somos valorosos e corajosos para enfrentar as circunstâncias da vida e por outro lado temos as justificativas de nossas fragilidades para não fazer o que é preciso para garantir nossa dignidade humana. E porque Arjuna deve enfrentar seus familiares? Porque precisa matar nele mesmo as sombras que o impede de ver o que é Real, que o impede de amar.

O amor no contexto filosófico fala da capacidade humana de ver com clareza, de discernir o que é válido e agir em conformidade com a própria natureza humana, oferecendo o melhor de sua conduta nos relacionamentos. Não tem a ver com o que esperamos do outro, mas do quanto de amor podemos viver por nós mesmos utilizando nossos valores como ferramentas na ação de amar. Encontrar nossas próprias motivações, inerentes a nossa identidade para agir no mundo sem perder nossa integridade, sem nos deixar arrastar pelos apelos exteriores quando estes nos tiram o brilho de nossa vida. Por isso autoconhecimento e autocuidado são essenciais. É preciso conhecer nossas forças interiores, nossas habilidades para enfrentar os ciclos da vida, e imprescindível também, é conhecer nossas próprias armadilhas interiores: medos, fragilidades, escapismos da realidade, reatividades quando encontramos algo que nos causa contrariedades, porque talvez nos cause dor e não queremos lidar com a dor. Esse conjunto de sensações, hábitos e fenômenos afetivos são “familiares” ao nosso cotidiano, porque passamos muito tempo nos apoiando nessas características para nos proteger e nos defender, e são esses familiares que nos impedem de utilizar nossas verdadeiras armas que são as virtudes, verdadeiro exército que nos liberta dos condicionamentos e automatismos onde a consciência não está presente. Falta despertar nossas sementes latentes de coragem e amor para romper hábitos psicológicos e assumir as rédeas das nossas ações como protagonistas de uma vida iluminada por sentimentos mais elevados de confiança e vontade de ser e de agir com mais valor.

Acontece que muitos de nós vivemos relações tóxicas, onde ambos os pares são responsáveis por suas escolhas e por sua conduta. Contudo, vivemos em uma sociedade e um tempo histórico que não valoriza a educação formativa do ser humano que busca esse autoconhecimento verdadeiro para aprender a protagonizar sua história com fortaleza psicológica e a liberdade necessária para tomar decisões mais inteligentes, escolhendo atitudes que tragam equilíbrio e deixando de lado as que poderiam provocar adoecimento.

Também nossos pais, pertencentes a essa mesma sociedade, e por falta de algo melhor para nos oferecer podem ter nos levado a firmar acordos e permissões através de violência física ou psicológica e assim, o que aprendemos desde cedo através de relações adoecidas poderá ditar os acordos e permissões de nossas ações futuras se continuarmos inconscientes dos motores e gatilhos que nos conduzem. Como disse Jung em um de seus tratados, “Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamar isto de destino”.

Qual o benefício de manter uma vida inconsciente? qual será o benefício de escolher posturas que nos colocam no papel de vítima ou de predador? Pois, parece que no fim das contas todo predador é uma vítima e toda vítima é um predador em alguma circunstancia, pelo menos se olharmos essas interações na natureza, e porque formamos parte da natureza essas características também nos cabem quando nos deixamos viver sem consciência do que nos move, reagindo ao sabor das demandas cotidianas. Talvez esse lugar, esse papel, já tenha se solidificado de tal forma que nos traga o beneficio de certa comodidade, ou seja, desde esse lugar podemos justificar muitas atitudes, e o maior dos benefícios: não lutar contra nossas debilidades, buscar fora o que é apenas reflexo do que contemplamos dentro de nós. Como disse o filósofo e imperador romano Marco Aurélio, “A nossa vida é aquilo que os nossos pensamentos fizeram dela”. Porém, sabemos que muito do que pensamos vem do mundo que nos rodeia, ou das questões que fogem a nossa responsabilidade, já que foi o meio em que vivemos que causou essa distorção da realidade. Podemos assim ter argumentos para responsabilizar o mundo por nossa situação e continuarmos guiados por contratos e permissões inconscientes, e ainda nos achando conscientes disto. Porém, sempre temos como refazer contratos ou selar novos acordos conosco. Claro que não é nada fácil desapegar-se das couraças que nos protegeram até agora, nem tão fácil submergir desse caos interno as ferramentas necessárias para nossa independência e autonomia.

Mas podemos começar com um passo pequeno de cada vez, aprendendo a respirar com mais calma diante das pressões diárias, conquistando estratégias inteligentes para vencer nossas inércias, e assim aos poucos vamos tomando conta de nós. Porque o pior abuso é aquele que cometemos contra nós mesmos, quando dizemos sim aquilo que nos paralisa, quando não percebemos que nosso tempo de cura é só nosso, e quando fechamos os olhos para ver as situações em suas verdadeiras dimensões. Porque a dor sempre vai existir. Buda dizia que a dor é veículo de consciência, pois nos ajuda a tomar consciência de suas causas para conseguir assim cessar a dor.

Platão também disse em seu livro Filebo, que “a dor mal canalizada se torna ódio, e o ódio se torna vício”. A palavra ódio no contexto não é simplesmente sentir raiva de alguém, mas trata-se de aversão e desejo. Queremos afastar a dor e buscamos alívio imediato. Queremos nos entorpecer como uma fuga irracional. Não há raciocínio inteligente, apenas respostas automáticas, como quando nos queimamos em uma superfície quente e automaticamente nos afastamos por proteção. Instinto de proteção é natural, mas quando se transforma em hábitos repetidos já não sentimos a vida, não apreciamos a paisagem. E na corrida para encontrar algo fora de nós que possa amortecer a dor que queima por dentro agimos sem pensar. Instala-se o medo da dor, evitamos sentir a vida para não doer, agimos no automático para esquecer, nos permitimos ser menos do que podemos ser…

Em nosso corpo podemos perceber que a dor avisa quando algo não está equilibrado e que precisamos dar atenção, entrar em ação para reequilibrar nosso funcionamento, nosso metabolismo, nosso fluir vital. A dor psicológica também requer atenção e ação consciente, mas nem sempre percebemos esses processos sutis. Negligenciamos nossos humores, nossos incômodos, e, no fim já não sabemos onde está a raiz das reações, explosões, implosões, etc. No livro O Pequeno Príncipe há um ótimo ensinamento sobre o autocuidado e autoconhecimento onde o principezinho diz que é preciso disciplina para manter o equilíbrio e por isso ao acordar ele costumava fazer a toalete do corpo e também do planeta, que pode representar os detalhes da nossa vida. Ele tinha dois vulcões e um deles era extinto, mas por precaução revolvia os dois e dizia “nunca se sabe”. Ele também cuidava de seu jardim, onde tinha uma bela rosa que representava muito para ele, por isso retirava qualquer erva que surgia, pois tinha receio que tratasse dos baobás, árvores que se tornam enormes, e que no caso do seu planetinha podiam causar estragos catastróficos. O grande ensinamento aqui é estar atento às ervas daninhas que surgem sorrateiramente e que no início parecem pequenas e inofensivas, mas que após um longo tempo de negligência crescem e tomam proporções muitas vezes insuspeitáveis.

Cuidar é um exercício de atenção diário. A natureza, por exemplo, nos ensina que o ritmo e a constância são fundamentais para que surjam as flores e os frutos através da lei que rege a planta. Se as condições são adequadas todos os dias ela realiza a fotossíntese necessária para manter a energia que possibilitará que cumpra todo seu ciclo de vida. Não há um dia em que a planta se recuse a realizar aquilo que é sua natureza, assim como o sol não decide ser outra coisa que não seja sua natureza solar.

Ana Paixão – Bela Urbana, filosofa, pedagoga, palestrante e educadora que trabalha com treinamentos há mais de 10 anos
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Sobre relacionamentos abusivos – parte 4 – Ave de Rapina

“Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”, e quem irá me dizer que não?

Dos limões que a vida me deu posso dizer que fiz uma limonada e diga-se de passagem, limonada essa daquelas bem azeda e ruim de tomar.

Nunca fui de fazer planos mas os poucos que fiz nunca saíram da maneira como planejei e talvez seja por isso que as frustrações ainda machucam mas já não me ferem mais.

Acredito que quando decidimos compartilhar a vida com alguém temos a responsabilidade meio a meio de fazer aquele investimento fluir com sucesso. Porém, quando o investimento é feito sempre somente por uma das partes a chance disso terminar das piores maneiras é grande.

Por isso decidi encerrar um dos ciclos, se não o mais, desgastante da minha vida.

E neste caso a situação se assemelha à uma vítima que precisa escapar do cativeiro, mas que sente pena do seu sequestrador.

A Arlequina iria se despedir do Coringa.

Eu precisava sair e você me dava todas as razões possíveis para ficar. Era como se eu tivesse despertado de um sono profundo e muito pesado. De repente tudo estava muito claro e o fim já não era mais uma pergunta.

O fim era uma resposta.

As suas tentativas incansáveis de me fazer repensar só me deram mais certeza de estar no caminho certo.

O choro, a manipulação, as palavras chaves e as suas inúmeras hipóteses sobre o que aconteceriam se eu decidisse terminar me fizeram dar o primeiro passo para não poder mais voltar.

Você me fez perder noites de sono, me fez perder amigos, dinheiro, saúde e por último minha casa.

O preço de tanta compaixão foi pago com muitas lágrimas de ódio por ter perdido cada móvel que eu demorei muito para conquistar.

Judas é íntimo e nunca um estranho não é mesmo?

Por diversas vezes você me fez acreditar estar perdendo minha sanidade.

Foi cruel.

Você me separou de você.

O juramento se cumpriu.

Recomeçar do zero pode parecer uma tortura, quase todos nós temos medo do novo e está tudo bem.

Descobri que mesmo quando é tirado o chão de nossos pés ainda nos restam asas para voar. É assustador perder bens, pessoas e sentimentos porém é assustadoramente maravilhoso perder o chão, ganhar o céu e se descobrir como uma águia.

O fim que eu renunciei por várias vezes me mostrou diversas possibilidades de aprendizado.

Não tenho culpa por ter feito o meu melhor.

Não tenho culpa de ter agido com meu coração.

Eu me amo.

Eu me curo.

Eu me cuido.

E se nesse novo processo aparecer uma companhia vai ser super legal dividir a caminhada pois agora eu também sei voar.

Fim.

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor. 
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Sobre relacionamentos abusivos – parte 3 – Ele roubou meu coração

Com quantos perdões se fazem uma relação de sucesso?
Sinceramente não sei, mas apostaria em muitos.
Existem os dias de luta para que possamos reconhecer os dias de glória e o que eu mais queria era compartilhar todos esses dias com meu parceiro. O que eu não esperava era por uma batalha sem fim na qual ficamos presos sem achar uma saída.
Mais uma vez eu decidi começar do zero, uma vida nova porém dessa vez sozinha.
Sim eu poderia, pelo menos foi o que mais ouvi diante de dezenas de conselhos que escutei.

Você é mulher linda, inteligente, profissional com certeza vai encontrar alguém que te valorize.

As falas são as mesmas mas o que esquecem de dizer é que algumas feridas, preferencialmente as afetivas, não se cicatrizam com uma boa noite de sono.

No dia seguinte da minha vida nova senti o desespero da saudade mas aguentei firme.

Eu não poderia me sabotar mas ao me olhar no espelho sentia culpa.

Bastou um telefonema e todo meu discurso findou ao som de uma velha risada que eu conhecia bem.

Estou com saudades. Eu também.

O coração é enganoso e Deus foi o primeiro à nos alertar.

No peito a esperança fazia cócegas.

Decidir esquecer tudo o que havia acontecido até ali, permitiu abrir espaço para novas decepções após nossos novos dias juntos.

O tempo foi passando velozmente em nossa frente e todos meus sentimentos foram se mesclando ao amor e compreensão que eu sentia.

O amor virou medo.

O carinho virou ansiedade.

Todos os dias a mentira progredia, a fim de esconder outras ‘sujeiras’.

Mas como explicar a sensação de responsabilidade com alguém que se coloca em situações perigosas?

Troquei fechaduras, tranquei portas, mudei a senha do cartão.

Você mentiu, manipulou e me fez acreditar que eu estava louca quando numa noite tentou me convencer que meus dados bancários haviam sido clonados. O desespero crescia em saber o que teria acontecido com meu dinheiro enquanto você olhava fixamente no meus olhos e mentia para mim.

A sua habilidade em reverter a situação favoravelmente para si era algo fora do comum.

Surreal, além de ser roubada eu ainda te pedi desculpas.

Você roubou meu coração, minha carteira e meu tempo. E eu aprendi a parar de ver o seu lado bom para ver o que você realmente me mostrava.

O choque foi cruel.

Continua …

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor. 
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Sobre relacionamentos abusivos – parte 2 – Gêmeos

Uma vez li em algum lugar que compreensão demais é burrice.

Hoje concordo.

Sempre entendendo, concordando, perdoando, me colocando no lugar do outro me fez ver o quanto abrimos brechas para arrependimentos cruéis.

Em todo caso já expresso minha opinião de que claramente devemos nos colocar no lugar do próximo. Ao menos provar nossa empatia diariamente se possível desde que, você não se anule pelo próximo também pois é exatamente aí que mora o perigo.

O que eu pensava que seria apenas mais uma noite chorando se tornou uma rotina torturante.

E o meu instinto altruísta sempre teria as melhores opções possíveis para justificar os porquês de eu não ter ido embora antes.

Na minha interpretação de taurina raíz eu teria que ficar até o fim e jamais abandonaria um parceiro que havia se perdido de si mesmo na vida por algum tempo.

A minha recompensa eram nossos dias felizes com você sóbrio.

Uma eterna montanha russa num carrinho sem cinto.

Em algum momento iríamos cair.

Mas enquanto não caíamos só me restava segurar bem firme na sua mão e aproveitar a viagem.

Eram dias de extrema alegria, eram dias de extrema tristeza, as suas personalidades se dividiam entre a versão de um marido apaixonado e um adolescente louco.

Gêmeos.

Geminiano louco num corpo duplicado.

Hora no céu, hora no inferno.

Não dava para prever, a qualquer momento qualquer um dos dois poderia estar comigo. Mas houve um momento que esta versão louca e irresponsável ganhou força e todo amor foi se transformando em medo.

Você enlouqueceu e me segurou.

Você enlouqueceu e não voltou.

Você enlouqueceu.

Você.

Queria te ajudar mas eu também estava afundando.

Só queria resgatar o meu marido em algum lugar ali dentro daquele corpo alucinado.

Num domingo de sol tudo mudaria.

Um revólver engatilhado só não foi disparado talvez por gritos incansáveis de perdão a Deus.

O desespero tomou conta de mim e ali tive certeza que te perderia para sempre.

Eu não poderia deixar a loucura te levar.

Decidi lutar.

Continua …

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor. 
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Sobre relacionamentos abusivos – parte 1 – Coringa

Dizem que os amores são únicos e há quem acredite que na vida toda existe somente um amor.

Como saber se não apostar todas as fichas?

Nunca fui das pessoas que acreditam em contos de fadas e amores impossíveis, o que mais almejava era uma boa companhia para poder relaxar comigo numa tarde de domingo sem muita pretensão. Então assim te conheci.

Você se aproximou e aos poucos fomos nos conectando de uma forma surreal, completa e única.

Abreviamos todos os passos tradicionais de uma relação e nos casamos após o primeiro beijo. Apelidamos nossa casa e criamos raízes e razões para ficarmos juntos para sempre.

Você me dizia o quanto valia o risco de se jogar na vida e me apresentou um lugar maravilhoso, onde seria meu refúgio e o nosso lar. Eu me entreguei, mergulhei, te contei todos os meus segredos e em troca você me revelou os seus.

A conexão já havia sido criada e em tudo estávamos ligados. Eu e você contra o mundo e lendo nossos signos pelas estrelas de madrugada.

Eu era um livro que você já havia lido.

Surreal mas sentíamos que não poderia ser algo comum.

Nos jogamos nessa imensidão sem ao menos nos previnir. Fomos de peito aberto segurando nossas mãos e voando no espaço.Você me fez perder o medo, me segurou, me amou em detalhes.

Numa noite de amor percebemos juntos o quanto estávamos ligados de corpo e alma. Te olhei e depois de um longo beijo me olhou e disse que eu era a sua Arlequina e assim como o Coringa eu era uma criação da sua mente e que havia me encontrado depois de muito procurar.

Éramos feitos um para o outro.

Nada mais poderia dar errado para nós e entre juras de amor te jurei, ninguém mais poderia me separar de você além de você mesmo e assim eu te provaria meu amor.

E ali descobri que a pior mentira é aquela que contamos a nós mesmos.

Você sumiu por uma noite e me fez desabar em lágrimas sem ao menos saber onde estava.

Os dias se passavam e a única razão pela qual me fazia apostar nessa relação era única e exclusiva de que você e só você conseguia me enxergar atravéz da alma.

Mas esquecemos que energia demais também gera explosões e danos irreversíveis.

Não seria diferente conosco.

Tanta sintonia poderia se voltar contra mim e demorou para eu entender.

O ‘amor tóxico’ nunca mostra seus gatilhos, ele os cria ao longo do tempo. Uma mentira que gerou várias outras e resultou num cenário de tragédia anunciada.

O ciclo precisava ser encerrado, porém como arrancar uma árvore que já tinha dado flor mas momento apresentava espinhos?

Mesmo machucada e com mil motivos para ir embora decidi ficar.

Te segurei, te cuidei e curei todas as tuas feridas. Na tua escuridão eu quis ser luz e na tua fome eu quis ser pão.

Eu só não imaginava o quão doloroso seria as páginas seguintes deste livro.

Dançamos por muito tempo no silêncio onde a música era o delírio.

Continua …

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor. 
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Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher

O trabalho com grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher é uma abordagem sócio educacional que visa promover a responsabilização, a mudança de comportamento e a prevenção da violência de gênero. Essa metodologia busca proporcionar um espaço seguro para que os autores de violência possam compartilhar suas experiências, refletir sobre seus padrões de comportamentos e aprender estratégias para lidar com conflitos e relações interpessoais não abusivas.

É um espaço sem julgamentos. Nem condenações, mas, sobretudo, é um espaço de responsabilização. Quando os participantes tentam colocar as responsabilidades de suas ações em outras pessoas, justamente é invertida essa lógica. O abuso praticado por esses homens não é destino. É uma escolha. Errada. É fato que muitos homens viveram em ambiente abusivos, foram abusados, ou vivenciaram agressões em seus lares na infância. Mas isso nunca pode justificar ou atenuar a repetição de determinado comportamento.

Vivemos uma fase extremamente perigosa em terceirizar a perpetuação do abuso sofrido para a próxima geração, assim, simplificando as atitudes abusivas praticadas como uma reação ao abuso sofrido. É necessário considerar isso. Mas não podemos e devemos ter como justificativa. A perpetuação do abuso e do papel do abusador se deve ao patriarcado, ao machismo e ao exercício de uma masculinidade viciada em virilidade, poder e controle.

O grupo reflexivo para homens autores de violência contra a mulher é realizado em um ambiente sócio educativo, acolhedor, composto por um facilitador, que geralmente é um profissional experiente e capacitado em questões de gênero, masculinidades e violência, e um grupo de homens que tenham histórico de agressão física, verbal, psicológica, abuso sexual contra mulheres. Esses grupos são baseados nos princípios de igualdade, equidade, não-violência, respeito mútuo e confidencialidade.

O grupo reflexivo vem quebrando esse padrão de respostas automatizadas. Essa normatização de atitudes abusivas, controladoras e castradoras.
A metodologia do trabalho com grupos reflexivos geralmente envolve uma fase inicial de estabelecimento de normas e regras, onde são definidas expectativas de comportamento e respeito durante as sessões. Em seguida, os participantes são encorajados a compartilhar suas experiências de violência, explorando as dinâmicas de poder e controle presentes em suas relações.

Os encontros em grupo permitem que os homens compartilhem suas experiências pessoais, escutem as histórias de outros participantes e sejam desafiados a questionar suas visões de masculinidade, poder e controle. O objetivo do projeto é incentivar a empatia e a responsabilidade pelos próprios atos, além de ajudar os homens a desenvolverem habilidades de comunicação saudáveis, resolução de conflitos e respeito mútuo.

Esse projeto é fundamental para trabalhar a prevenção e a redução da violência contra as mulheres, proporcionando uma oportunidade de aprendizado e crescimento pessoal para os homens envolvidos. Além disso, ele também pode oferecer suporte psicológico, afetivo e encaminhamento para outros serviços, como terapia individual, quando necessário.
Alguns aprendizados e resultados:

  • Identificação de padrões de comportamento violento entre os abusadores, relacionados à sua história pessoal, percepções equivocadas sobre a masculinidade e dificuldades de controle emocional;
  • Aumento da percepção de responsabilidade pelos atos cometidos e reconhecimento dos danos causados às vítimas;
  • Ampliação da compreensão sobre as questões de gênero e a desigualdade entre homens e mulheres na sociedade;
  • Adolescência de habilidades de comunicação assertiva e resolução de conflitos de forma não violenta;
  • Reorientação dos abusadores para práticas não violentas, através da mentalização e da construção de uma nova identidade masculina;

Concluo que seja necessário investir em políticas públicas de prevenção, que incluam ações educativas e de conscientização sobre a violência doméstica e familiar desde a infância, adolescência e fase adulta, visando evitar a perpetuação desse ciclo. Além disso, é necessário ampliar o acesso a essas intervenções por meio de parcerias com secretarias de ensino, empresas, secretarias de saúde e segurança pública, e a criação de centros especializados, que ofereçam suporte integral a esses homens, incluindo programas de educação em gênero e ressocialização.

A intervenção com homens abusadores é um passo importante para enfrentar a violência doméstica, violência de gênero e contra a mulher, mas precisa ser acompanhada de outras medidas que atuem na raiz do problema. A conscientização, a educação e o suporte integral são fundamentais para romper com esse ciclo de violência e promover relações familiares saudáveis e igualitárias.

É necessário produzir intervenções educativas, nesses casos geralmente visam oferecer apoio emocional, conscientização sobre questões de gênero e violência doméstica, desenvolvimento de habilidades de comunicação saudáveis e educação sobre resolução pacífica de conflitos.

Eu, homem cruel.
Fui marcado pelo meu passado.
Aqui onde me ergo, 
me dispo do meu orgulho.
Envergonhado pelos atos insanos,
com humildade, refaço o meu traço.
Sim, abusador, dominador do poder,
Cego pelo egocentrismo cruel.
Cravei mágoas e cicatrizes na alma de outros.
Um homem monstro disfarçado de homem cordial.
Fácil papel.
Reflito sobre as dores que causei.
Só agora percebo também as dores que não senti.
Ouvir a mim mesmo.
A minha voz silenciada, calada, vazia.
Entendendo o valor da empatia.
Compreendo o poder do respeito.
Desaprendo a arrogância e semeio humildade no meu coração.
E, com gestos, ações, e dores,  reconstruo meu coração desfeito.
A violência que aflige minha história,
Não será mais causa do sofrer alheio.

Sergio Barbosa – Professor de Filosofia. Co fundador da Campanha Laco Branco. Gestor de projetos voltados para homens autores de violência contra a mulher. Pai de três pessoas maravilhosas. Adora plantas e verde.

 

 

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Eu fugi com as roupas em sacos de sanito

Falar de relações abusivas não é fácil… pois, para quem as vivenciou, o colocar no papel ou falar em voz alta é reviver as situações dolorosas. Eu poderia descrever “n” situações de abuso e relações tóxicas ao longo de 40 anos. Normalmente quem passa por isso, se não se cuidar e buscar ajuda, cai novamente nas mãos de pessoas abusivas e tóxicas. Muda o nome, mas o descritivo das personagens costuma ser idêntico, já dizem os especialistas!

Os relacionamentos abusivos acontecem em várias esferas e nem sempre o abusado percebe a teia em que está se metendo até estar totalmente preso a ela. Comigo foi assim… e por algumas vezes.

Eu havia saído de um relacionamento há alguns meses. Estava literalmente curtindo a solteirice. Naquela sexta à noite, estava já na terceira programação. Fui encontrar amigos em um bar. Cheguei e dei de cara com uma mesa em que eu não conhecia praticamente ninguém. Conhecidos apenas um amigo, que cantava ao som de seu violão, e a amiga que havia convidado. Cheguei bem no meu estilo: vestido curto, cigarro (naquela época podia fumar em locais fechados), falando alto (que é o meu comum, sem beber) e bebi minhas caipirinhas habituais. Um pouco feliz demais por encontrar o amigo cantor, com que à época tinha uma grande intimidade, fizemos uma brincadeira que sempre fazíamos: enquanto ele cantava imitando diversos artistas, eu sentava em uma de suas pernas, fazendo micagens! Essa era eu: sem pudor, sem mimimi, sem me preocupar muito com o que os outros estavam pensando.

Eis que a amiga me chama de canto e me diz que um de seus amigos havia se interessado por mim. Perguntei sobre ele. Ela disse que só o conhecia do trabalho, que ele era gente boa, mas só. Ao voltar para a mesa, muitas músicas e alguns drinks e cigarros depois, ele veio puxar papo. Queria saber tudo ao meu respeito, me ouvia atentamente e concordava com quase tudo, senão com tudo que eu falava. A primeira luz vermelha acendeu e eu não vi. Querer agradar demais e esse excesso de simpatia, hoje eu sei, é sinal de alerta! Faz parte do jogo de sedução do abusador!

Trocamos telefone. Ele viajaria no dia seguinte para a praia para passar alguns dias. De lá, em épocas que não existia whatsapp, ele me mandava mensagens de texto todo os dias e mais de uma vez: “bom dia, boa tarde, boa noite. Só queria saber de você!” Achei fofo! Ele mostrando interesse de verdade, não deixando com que a viagem esfriasse o clima de paquera iniciado no dia que nos conhecemos. A segunda luz vermelha acendeu e eu não vi. Ele não estava querendo manter nada quente, estava era querendo saber o que eu fazia. De uma maneira “fofa” ele controlava meus passos, sem eu perceber.

Enfim, ele voltou. Saímos. Acabamos ficando. Naquela noite, depois de ter fumado no início do encontro (afinal ele me conheceu fumando) e de beijá-lo, fui acender meu cigarro e ele pediu educadamente: Você pode não fumar, por favor? Ok, sem problemas, afinal de contas, ele não fumava! Isso passou de boa… até que um mês depois de começarmos namorar, ele começou a implicar com o meu cigarro de maneira feroz! “Seu carro cheira cigarro, não adianta mascar chiclete, nem sinto mais o cheiro do seu perfume. Odeio esse cheiro. Você tem que parar de fumar!”

De repente, ele começou a me dar roupas de presente. Nada do que eu teria no meu armário. Mais cumpridas, menos decotadas, menos salto, menos cores. Entendam, eu não era uma dita hoje “periguete”. Eu só estava no auge dos 20 e poucos anos, magra e feliz. E me vestia assim. E isso passou a ser motivo de briga constante. Assim como o comprimento das minhas roupas, minhas relações com os amigos (inclusive com os dois que estavam na noite que nos conhecemos). “Meu amor, fala mais baixo. Passa menos maquiagem. Você já tomou duas caipirinhas”. A luz vermelha nesta época não acendia, piscava incansavelmente.

Mas passei por uma situação familiar complicada, e foi na casa dele que encontrei refúgio para fugir de tudo aquilo. Mesmo com todas as luzes piscando, eu precisava de uma rota de fuga naquele momento e escolhi a pior delas.

Com o passar dos meses, reformamos o apartamento dele, com o meu dinheiro (detalhe), mas não conseguíamos nos entender. Eu não me sentia em casa e ele não fazia questão. Prova disso, era que eu estava lá diariamente e que não tinha a minha própria chave do apartamento. Tinha que deixá-la na portaria todo santo dia.

O ser doce e fofo que amava me ver falar começou a me interromper a cada frase nas rodas com os amigos ou mesmo numa conversa a dois. Inconformados de como eu era tratada e da minha submissão, meus amigos se afastaram de mim. Logo, éramos apenas eu, ele e os amigos dele. Chegou ao cúmulo dos pequenos cuidados virarem um controle absoluto. “Onde você está? Que horas você chega? Quem está com você? Deixa eu dar oi pra ela?” Sem perceber a manipulação, troquei o meu salão de beleza que frequentava há anos, por um em frente à casa dele, para assim não perdermos tempo, pois só tínhamos os finais de semana juntos de verdade, visto que ele trabalhava alguns dias da semana em outra cidade. Íamos aos restaurantes e de repente o cardápio não passava mais pela minha mão, porque ele sempre tinha uma sugestão que eu ia adorar.

Fui minguando. Ficando calada. Chorona. Medrosa. Sem brilho nos olhos. Nem de perto a moleca que era antes. Até que a prova de fogo chegou: fui promovida no trabalho e passei a ganhar mais do que ele. E isso o afetou de uma maneira sobrenatural. De repente, não podíamos mais viajar, mesmo que eu tivesse o dinheiro para arcar com os gastos. Não íamos a restaurantes ou passeios que eu queria, porque ele não conseguia pagar e não aceitava que eu pagasse.

O meu trabalho realmente começou a irritá-lo. Eu recebia muitas ligações noturnas e de final de semana, devido ao cargo que exercia na época. Ele xingava a ponto da pessoa do outro lado da linha ouvir, se constranger de desligar. Ele começou a ficar cada vez mais agressivo com as palavras e com as cobranças. Chegou ao ponto de eu não conseguir mais comer ou dormir. Ele deitava na nossa cama e eu esperava ele dormir, para ir a um pufe do lado da cama, ligar a TV no silencioso para não acordá-lo e varar a noite.

Até que um dia, numa das crises de raiva dele por conta de um telefonema num domingo à noite, ele quebrou a casa. Literalmente. Com um murro, fez um buraco na porta do nosso quarto. Espatifou meu telefone de trabalho no chão, quebrou louças. Outra noite no pufe, chorando baixo para ele não acordar.

No dia seguinte, uma grande amiga minha, viu no meu rosto o terror que eu estava e me perguntou o que tinha acontecido. Quando eu contei, ela que conhecia a criatura, pois frequentava nossa casa e se afastou, me disse com o maior amor do mundo: “Xu, você vai esperar o quê? Ele quebrar a sua cara? A gente vai hoje tirar suas roupas da casa dele, aproveitando que ele não está”. E assim fizemos. Expediente encerrado, fomos para a casa dele. E como uma fugitiva, enfiei todas as minhas roupas em sacos de sanito e saí de lá, deixando objetos de decoração e outras coisas minhas. Não queria levar nada que me lembrasse aquele lugar, apesar de ter escolhido e comprado muitas das coisas. Mesmo eu sabendo que era impossível ele aparecer, eu tremia inteira e chorava de pavor!

Liguei para os meus pais, expliquei a situação e disse que não iria para a casa deles para não causar problemas, pois duvidava que ele iria aceitar isso de boa. Essa minha amiga me abrigou com sua família. Foram anjos na minha vida. Mas ele realmente não aceitou. Ligava, me perseguia no trabalho, fazia “tocaia” nos meus pais ou no escritório. Até que um dia, passando qualquer limite do normal, ele ligou no meu trabalho e ameaçou meu funcionário. O nosso chefe ficou sabendo e chamou a Guarda Municipal. Com a possibilidade de uma denúncia formal, ele se “contentou” em ser escoltado para fora da cidade e não me procurou mais.

Passado um mês dessa confusão, voltei a morar com meus pais. Aos poucos, minha vida voltou aos eixos. Mas me doeu por muito tempo, as pessoas falando “ele era tão bonzinho, só um pouco ciumento”. As pessoas a nossa volta, muitas vezes “desculpam” certos comportamentos por causa de outras qualidades do abusador. E externam isso exatamente para quem sofreu, como que cobrando o porque a pessoa desistiu do relacionamento “só por isso”.

Demorei mais de dois anos e muitas sessões de terapia para voltar a me relacionar com alguém. Passados mais de 20 anos, às vezes ainda me pego desconfiando das pessoas e tentando identificar os tais sinais vermelhos. Dez anos depois de terminarmos nosso relacionamento, que creiam, durou cinco anos, encontrei o tal cidadão em um restaurante com a esposa grávida. Me arrepiei. Quando ele me cumprimentou, senti um arrepio. Era a primeira vez que o via desde que havia saído fugida da casa dele, com sacos de sanito nas costas.

As lições que aprendi com ele doeram e muito, mas me abriram os olhos. Se caí em outras relações abusivas e tóxicas? Sim. Mas consegui ver o sinal vermelho antes dele piscar. Vivendo e aprendendo!

Anônimo – Mulher, brasileira,  não quis ser identificada.

SOS – ligue 180

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Conselhos da Madame Zoraide – 31 – Queijo Suíço

Caros Consulentes

Volto aqui para falar sobre Relacionamentos Abusivos, posso dizer que as pessoas são como queijo, aquele queijo suíço, cheio de buracos.

Cada um, um queijo. Com buracos em lugares diferentes. Em busca de complementos, em busca de outros queijos que se encaixem e supram seus buracos. Mas todos são queijos e todos tem buracos.

A incompletude do queijo feita pelo buraco faz parte da vida e jamais será preenchida por outro queijo. Não insista. Não existe encaixe perfeito. Queijos buraquentos podem estar na mesma embalagem de outros queijos buraquentos, lado a lado, mas cada um incompleto. Porém, o incompleto é o completo, se bem compreendido.

Eu sei que você Consulente está aí inqueito, me perguntando, como será possível em algum momento o queijo se sentir completo, se não for com outro queijo?

Ah, Consulentes… vocês sempre me cansam… pensem. Quanto mais o tempo passa, os buracos diminuem, seja pelas dores de serem comidos, seja pela alegria que deram pelo prazer proporcionado… seja da forma que for, um dia o queijo será só um queijo sem buracos… mais conciso, inteiro e nesse dia se dará conta de que isso é ele. Entenderá que se gostar do seu sabor, será feliz e que a felicidade esta em si e não na busca absurda de ser completo completado por outro queijo.

Entendeu? Espero que sim, porque cansei de falar de queijos e agora vou para a maçã e nem adianta me perguntar o motivo, entendedores entenderão…. aguente sua curiosidade se ainda não é um deles.

Até a próxima.

Madame Zoraide – Bela Urbana, nascida no início da década de 80, vinda de Vênus. Começou  atendendo pelo telefone, atingiu o sucesso absoluto, mas foi reprimida por forças maiores, tempos depois começou a fazer mapas astrais e estudar signos e numerologias, sempre soube tudo do presente, do passado, do futuro e dos cantos de qualquer lugar. É irônica, é sabida e é loira. Seu slogan é: ” Madame Zoraide sabe tudo”. Atende pela sua página no facebook @madamezoraide. Se é um personagem? Só a criadora sabe .
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Quando a violência não é só física. Violência patrimonial e estelionato sentimental.

Desde a promulgação da notória lei Maria da Penha, acaloraram-se os debates acerca
do enfrentamento ao cônjuge agressor, sobretudo visando proteger a integridade física
da mulher que vem sendo vitimada, em face das agressões perpetradas por seu
parceiro.

É de bom alvitre dizer que a referida lei foi um verdadeiro avanço ao aspecto cultural
das relações familiares, no qual invocava-se o jargão, que dizia: “em briga de marido e
mulher, ninguém mete a colher”.

A frase acima não poderia estar mais equivocada. No entanto, perdurou e ecoou nos
lares brasileiros por muitas décadas, eis que o marido, chefe do lar, detinha todo o direito
de impor suas regras, ao seu bel prazer e ninguém, nem mesmo o Estado, deveria
intervir naquela relação familiar.

Hoje, a lei Maria da Penha se encontra consolidada e salva anualmente muitas vidas.
Além disso, desencadeou o debate nas formas de agressão sofridas pelas mulheres,
que não necessariamente, impliquem em contato físico entre vítima e agressor. Dentre
elas, destacam-se a violência patrimonial e o estelionato sentimental.

No primeiro deles, o agressor gera um prejuízo financeiro ou destruição de bens da
vítima. Nem sempre são bens de valor econômico elevado, mas geralmente bens de
valor sentimental, cuja memória afetiva remeta a pessoas ou situações vividas no
passado.

Os aparelhos celulares estão entre os objetos preferidos do agressor, pois ao danificálo, cria-se uma forma de impedir ou dificultar a comunicação da mulher com terceiros.

Repare que a intenção nem sempre é causar um prejuízo financeiro à vítima, mas sim
exercer um controle absoluto sobre sua vida e minar sua psiqué, limitando o acesso da
mulher à amigos e familiares, pois entende que a mulher deva dedicar-se
exclusivamente a ele.

Objetos lançados contra a parede ou pela janela buscam sinalizar à vítima de que
aquele agressor é senhor da situação. Quer indicar através do terror psicológico, quem
manda ali, na tentativa de impor à vítima devoção e obediência à sua autoridade. E se
não o faz, as agressões físicas se impõem, como uma forma de correção àquela mulher
cujo comportamento não o agrada.

O estelionato sentimental, por sua vez, possui uma característica inquestionável, qual
seja: O agressor seduz a vítima até ganhar sua plena confiança, para que dela possa
obter vantagens econômicas. O objetivo, neste caso, é meramente locupletar-se da
vítima, através da relação de confiança que fora estabelecida, para aplicar-lhe
verdadeiro golpe.

E acontece, pois a vítima encontra-se vulnerável a uma falsa percepção de realidade,
acreditando que haveria naquele relacionamento, um sentimento afetivo mútuo, quando
na verdade ele não é correspondido, o que é percebido tempos depois, quando é tarde
demais.

É importante destacar que quando lemos relacionamento, nem sempre estamos
adstritos àquela relação de namorados, companheiros, mas sim de forma mais ampla,
podendo inclusive ser uma relação consanguínea, onde o próprio laço familiar traga a
confiança que se esperava.

Em outras palavras, vai muito além do “golpe do tinder”, podendo, inclusive, ocorrer em
uma relação entre pais e filhos, como recentemente noticiado por uma jovem atriz, que
fora vitimada por seus próprios pais que administravam seus rendimentos e realizaram
repasses indevidos para contas pessoais e transferência de bens sem sua anuência, o
que a motivou a expor os fatos publicamente em veículos de comunicação.

Obviamente que em casos assim, não há sedução, pois já há uma proximidade natural
entre as partes, imposta pela ligação já existente entre eles. E com base no artigo 1.689,
II do Código Civil, os pais já administravam seus bens, em razão de sua menoridade.

É importante saber que no caso da atriz, é possível pedir aos pais, administradores do
patrimônio enquanto a filha era menor, a prestação de contas para que seja apurada a
lisura da administração e caso haja comprovação de desvios irregulares, pleitear
judicialmente o devido ressarcimento.

Ademais, o estelionato sentimental ou afetivo é considerado uma modalidade de
estelionato, tipificado no artigo 171 do Código Penal.

Em suma, em ambos os casos a vítima deve se atentar que o agressor, em regra, majora
o nível de violência de forma gradativa, começando com pequenos gestos que
fatalmente evoluirão para casos de alta gravidade.

É importante que ao primeiro sinal, a mulher procure um advogado especialista em
direito das famílias, para que esteja ciente de seus direitos e para buscar contornar a
situação com a máxima urgência.

Luis Felipe F. da Costa Neves – Advogado especialista em direito de família, coordenador da área de Família e sucessões do escritório Izique Chebabi Advogados Associados (www.chebabi.com),  carioca, botafoguense e apreciador de bons vinhos

 

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Agressões que ocultam segredos “tumulares”

O conheci numa reunião de trabalho. A bonita camisa, de manga comprida arregaçada, expunha sua virilidade masculina através da exposição daqueles punhos e mãos.

Trocas de olhares discretos e interesse mútuo o fizeram terminar um namoro de muitos anos e nos levou ao altar um ano depois, apesar de bem maduros.

Era o terceiro casamento dele, sem filhos, o que facilitava nossa relação.

Meses depois, em um desentendimento sem grande importância, ele revelou um ser irado, que eu desconhecia, gritando comigo, sem poupar os vizinhos.

Quando ‘a poeira assentou’, disse-lhe: “Eu nunca vivi situação semelhante e não a viverei. Se você não é capaz de se controlar, nosso romance termina aqui.”

Recado compreendido, ele passou a se controlar e não repetiu o espetáculo comigo, mas me era difícil ver seus tons agressivos e sórdidos com garçons, com o zelador e porteiros do prédio, com nossa auxiliar doméstica, com seus funcionários e outros.

Para amigos e familiares ele era tido como educado, gentil e muito sensível.

As agressões dele, comigo, eram outras. À cada saída de casa, ele fazia questão de testar sua virilidade, à minha frente. Trocava olhares com mulheres estranhas ou gracinhas com mulheres conhecidas, de amigas minhas a caixas de lojas e supermercados.

Eu passei a ver seus comportamentos agressivos e essas atitudes desprezíveis como expressão de sua frustração por suas dificuldades sexuais.

O recomendei a buscar um terapeuta especialista em sexualidade, cujo trabalho levou uns três anos.

Alguns anos se passaram e os problemas sexuais, de agressividade e de desrespeito continuavam vivos e fortes.

Num dado momento, uma atitude verbal e gesticular, muito agressiva, foi dirigida a mim e decidi pôr um fim àquele relacionamento, que me fazia mal e se mostrava sem conserto.

Um ano após o divórcio, ainda com grande parte dos pertences dele em casa, fui em busca de um documento e encontrei uma declaração de amor, de um amigo dele, que frequentava a nossa casa semanalmente, para ele.

Esta carta era antiga, o que indicava o tempo daquele relacionamento, e era a peça que faltava naquele enorme puzzle. Sua agressividade, dificuldades sexuais e outras atitudes disfuncionais, ganharam legitimidade, à partir daquela declaração de amor masculina, guardada cuidadosamente entre fotos e cartas significativas.

Mantive este fato comigo, pois sei que ele o pretende levá-lo para o túmulo, mas fui usada, tanto quanto sua atual mulher e todas as suas ex-esposas, que serviram de esconderijo para sua real identidade.

Muitos anos se passaram e eu ainda tento me recompor desse relacionamento abusivo, buscando compreender o porquê de incluí-lo no puzzle de minha vida.

Anônimo – Mulher, brasileira,  não quis ser identificada.

SOS – ligue 180